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A quem interessam estas manobras

O que não está bem são os métodos utilizados por algumas empresas, da área de estudos de opinião, métodos que roçam o arbítrio absoluto, a falta de profissionalismo e ataques muito sérios à privacidade dos eleitores/as.

Chegados a vésperas de um novo período eleitoral – agora, as eleições autárquicas -, a azáfama de partidos e grupos de cidadãos aumenta, na preparação de listas de candidatura e programas, por todo o país e por toda a Região.

Até aqui, tudo bem, tudo normal, é a democracia a respirar!

Ao mesmo tempo, a atividade das empresas de estudos de opinião - vulgo, sondagens - está no auge. E tudo continua bem, assim.

O que não está bem são os métodos utilizados por algumas empresas, nossas conhecidas, da área de estudos de opinião, métodos que roçam o arbítrio absoluto, a falta de profissionalismo e ataques muito sérios à privacidade dos eleitores/as.

É com esta preocupação que escrevo este artigo. Faço-o, com o objectivo de alertar para estes abusos, mas também para apelar à ética e ao profissionalismo, de quem de direito.

Na passada semana, a propósito de uma sondagem para as eleições autárquicas, no concelho de Ponta Delgada, chegou até mim a seguinte situação: - em determinada casa, toca o telefone. A pessoa detentora desse telefone atende e é informada que está a ser inquirida por uma empresa de sondagens, no sentido de indagar sobre a sua orientação de voto para o concelho de Ponta Delgada.

A mesma pessoa aceita responder e refere a sua orientação de voto, o qual, por acaso, não se inclinava, nem para o Partido Socialista, nem para o Partido Social Democrata, conforme induzia a pergunta.

Até aqui, podemos ainda dizer, tudo bem.

Mas, qual não é o espanto do inquirido, ao receber (no mesmo dia!), uma nova chamada, durante a qual a pergunta é de bradar aos céus: - ‘O senhor mantém a mesma resposta de ontem, quanto à sua orientação de voto?’

Perante a indignação da pessoa em causa, foi-lhe dito que se tratava da supervisão do estudo de opinião e - pasme-se! - pediram -lhe a identificação!

Em pesquisa posterior – porque, como sabemos, atualmente existem registos telefónicos - concluiu-se que o primeiro telefonema foi feito através de um número confidencial, mas o segundo é público e pertence a uma conhecida empresa.

Estamos perante uma clara afronta aos direitos, liberdades e garantias de qualquer cidadão/ã. E é a todos os títulos deplorável a falta de ética e de responsabilidade, nos métodos utilizados.

Não sei se esta prática é generalizada, ou se se tratou de uma brincadeira de mau gosto - por alguém que estava a par do estudo e utilizou, abusivamente, um telefone da empresa.

De uma maneira ou de outra, não deixa de ser um grave precedente, atentatório da privacidade individual e, pior ainda, voluntariamente intimidatório!

Lamentavelmente, este tipo de sondagens, nos Açores, são recorrentes. Não sei qual a empresa que promoveu, em 2012, uma sondagem para as legislativas regionais, mas o facto é que recebi um telefonema de uma apoiante do Bloco de Esquerda/Açores, a perguntar-me: - “desististe da candidatura?! É que recebi um telefonema de uma empresa de sondagens e, quando disse que votava na Zuraida Soares, disseram-me que não podia, porque tu não concorrias!”

A bem da democracia e a bem da participação cidadã, vamos acabar com estas práticas.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Deputada à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, entre 2008 e 2018.
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