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Eleições na Holanda: da tolerância à extrema-direita?

A 15 de março têm lugar as eleições parlamentares na Holanda. Todas as sondagens preveem que o partido de extrema-direita de Wilders vença as eleições e que os partidos do atual governo, liberais de direita de Mark Rutte e trabalhistas de Dijsselbloem sejam derrotados. Dossier organizado por Carlos Santos.
Amsterdam, Holanda - Foto de Hansphoto/flickr
Amsterdam, Holanda - Foto de Hansphoto/flickr

Neste dossier, publicamos artigos sobre as sondagens que apontam derrota dos partidos do governo e subida da extrema-direita, o sistema eleitoral e partidário holandês, o crescimento da extrema-direita e da islamofobia e republicamos o texto Holanda, cínico paraíso fiscal.

A tolerância é a imagem que marca internacionalmente a Holanda. Na origem desta imagem está a tolerância face às religiões, ao longo de séculos, os direitos sociais alcançados e as conquistas marcantes em direitos e liberdades individuais. O sistema eleitoral, bastante democrático, dá igualmente o seu contributo.

Essa imagem tem vindo a alterar-se profundamente, com governos cada vez mais à direita, sobretudo na última década; com o crescimento da extrema-direita, desde 2002; com os cortes em direitos sociais e serviços públicos; com o aumento da repressão de movimentos sociais; com a imposição da política de austeridade. A Holanda é, sobretudo desde 2012, dos países que mais têm defendido a austeridade na Europa e o seu governo destacou-se pelos ataques à Europa do Sul, aos países mais duramente atingidos pela crise. Os trabalhistas holandeses foram os mais acérrimos defensores do austericídio e a sua figura política mais conhecida, o atual ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, desempenhou o papel de lacaio e carrasco de Schäuble.

A Holanda é também um paraíso fiscal, característica de parasitismo económico (The ‘dark side’ of the Netherlands1, como lhe chama a ONG holandesa Somo) que se aprofundou na última década. Aliás, política de austeridade e paraíso fiscal, parecem cara e coroa da mesma política que tem dominado a governação da Holanda.

Durante as primeiras décadas a seguir à segunda guerra mundial, a democracia-cristã (primeiro com vários partidos e depois predominantemente com o partido CDA, em resultado da fusão de três partidos) detinha a hegemonia partilhada com os trabalhistas. Na última década o partido hegemónico tem sido o liberal de direita VVD, que conduziu uma política progressivamente mais neoliberal e mais à direita. Nas eleições de março próximo, parece que a viragem à direita vai prosseguir no país, com novo crescimento da direita, nomeadamente da extrema-direita de Wilders.

A situação da Holanda e a vida da sua população não tem melhorado, pelo contrário. Três contradições dominam a vida política e marcam as diferenças partidárias: o Estado Social ou a austeridade e o neoliberalismo económico; a soberania e os direitos nacionais ou a submissão completa à União Europeia e à Europa do diretório; a defesa da imigração e dos refugiados ou o racismo, a xenofobia e a islamofobia. Por agora, o crescimento da direita prossegue, mas a Holanda tem uma profunda tradição democrática e uma esquerda que pode crescer e vir a constituir alternativa.

Com este dossier pretendemos contribuir para uma maior informação sobre a situação política na Holanda. No esquerda.net existem outros artigos que podem ajudar nessa informação, nomeadamente:

De onde vem esta esquerda radical?

Austeridade e euroceticismo dominam campanha

Bipolarização vence legislativas holandesas

O problema com Dijsselbloem

Presidente do Eurogrupo envolvido em polémica com deduções fiscais à banca

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Amsterdam, Holanda - Foto de Hansphoto/flickr

Eleições na Holanda: da tolerância à extrema-direita?

A 15 de março têm lugar as eleições parlamentares na Holanda. Todas as sondagens preveem que o partido de extrema-direita de Wilders vença as eleições e que os partidos do atual governo, liberais de direita de Mark Rutte e trabalhistas de Dijsselbloem sejam derrotados. Dossier organizado por Carlos Santos.

A 15 de março é eleito o parlamento da Holanda, com 150 deputados. Atualmente, há 11 partidos com representação parlamentar

Sondagens apontam derrota dos partidos do governo e subida da extrema-direita

As sondagens para as eleições legislativas de 15 de março de 2017 apontam para um terramoto eleitoral, com a derrota dos dois partidos do governo da austeridade (direita liberal e trabalhista) e para que o principal partido da extrema-direita se torne o primeiro partido da Holanda.

Tweed Kamer - O parlamento da Holanda tem 150 deputados

Holanda: sistema eleitoral e partidário

11 partidos têm atualmente representação parlamentar na Holanda. Os governos são normalmente formados por coligações de dois ou mais partidos. Ao longo de décadas os governos têm sido liderados por democratas-cristãos (CDA), trabalhistas (PvdA) e, na última década, liberais de direita (VVD).

Geert Wilders, líder do partido holandês de extrema-direita da Holanda - Partido pela Liberdade (PVV)

Holanda: Extrema-direita cresce com islamofobia

Todas as sondagens preveem que, nas próximas eleições de março de 2017, o PVV de Wilders tornar-se-á o maior partido no parlamento holandês. Este partido de extrema-direita assenta a sua política, em primeiro lugar, num discurso islamofóbico e em campanhas anti-imigração.

Holanda, cínico paraíso fiscal

O mesmo ministro holandês, Jeroen Dijsselbloem que pressionou Espanha e Grécia a adotarem as medidas de austeridade tem transformado a Holanda num grande paraíso fiscal. Artigo de Vicenç Navarro, publicado em abril de 2016