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Qatar e Irão provocam deslocações populacionais forçadas na Síria

Tanto o Irão como o Hezbollah recusam classificar a operação como uma deslocação populacional forçada, mas a operação altera objetivamente a composição demográfica da região.
Evacuação de civis na Síria, por Ghith Sy, EPA/Lusa
Evacuação de civis na Síria, por Ghith Sy, EPA/Lusa
Milhares de sírios cercados há quatro anos nas aldeias de Fua e Kefraya (norte da Síria), bem como Zabadani e Madaya (sul da Síria), começaram hoje a ser retiradas para fora das respetivas zonas de conflito que a ONU classificou como “catastróficas”, num movimento sincronizado e acordado entre o Qatar e o Irão. 
 
As populações maioritariamente xiitas de Fua e Kafraya (cerca de 40 mil), serão deslocadas para Alepo, Damasco ou para a província de Latakia. Os habitantes maioritariamente sunitas de Madaya e Zabadani (cerca de 30 mil) serão transportadas para a zona de Idlib, controlada pelos rebeldes (cidade que foi sujeita ao ataque de 4 de abril passado com armas químicas). Contudo, a oposição síria acusa o Hezbollah de na verdade pretender relocalizar as populações de Fua e Kefraya para a zona fronteiriça entre Damasco e o Líbano, o que permitiria ao Irão e sobretudo ao Hezbollah garantir maior influência xiita no futuro da região. O Hezbollah foi criado nesta zona, nas cidades de Ballbek e Hermel, há 35 anos, cidades que permanecem um ponto de recruta e treino da organização desde então. 
 
Na origem do acordo estão membros da família real do Qatar, capturados no Iraque em 2015 reféns de forças pró-Assad desde há um ano, o que motivou o Qatar a procurar um acordo com o Irão. Só por si, este acordo fecha um dos episódios mais sensíveis de toda a guerra até hoje. 
 
Tanto o Irão como o Hezbollah recusam classificar a operação como uma deslocação populacional forçada, mas a operação altera objetivamente a composição demográfica da região, com membros da oposição síria e do Ahrar al-Sham a insistirem de que é isso que se trata. 
 
De fora do acordo está o próprio regime de Bashar al-Assad, absolutamente dependente das diferentes forças de influência que neste momento operam na Síria. 
 
Se a deslocalização populacional “resolve” duas zonas de conflito, os habitantes de Idlib temem que a retirada da população xiita os desproteja de ataques indiscriminados do regime de Assad. 
 
As negociações para este acordo tiveram lugar em Doha e decorrem desde janeiro. Os membros da família real do Qatar em questão estavam detidos por um grupo com o nome de Kata’eb Hezbollah, um grupo subsidiário da Guarda Revolucionária Iraniana cujo líder - Akram al-Ka’abi - lidera várias milícias iranianas na Síria. 

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