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Macron recebe apoio do SPD alemão e de ex-dirigente do PCF

Os programas económicos lançados por Emmanuel Macron enquanto Ministro da Economia criaram aparentemente uma grande coligação, que vai de ex-apoiantes do Partido Republicano a ex-militantes do Partido Comunista Francês, passando por multi-milionários e donos de grupos de comunicação social como o Le Monde.
Emmanuel Macron com Sigmar Gabriel e Juergen Habermas no Congresso do SPD, por Oliver Weiken, EPA/Lusa
Emmanuel Macron com Sigmar Gabriel e Juergen Habermas no Congresso do SPD, por Oliver Weiken, EPA/Lusa

A Europa esteve ausente do debate do passado dia 21 de março para as presidenciais em França. O único momento onde surgiu, por iniciativa de François Fillon, abordou o Euro e a proposta referendária de saída da moeda única defendida por Marine Le Pen no seu programa. Fillon atacou a sua rival de direita com o cenário apocalíptico da hiperinflação que a saída poderia provocar, ponto onde recebeu o apoio de Emmanuel Macron. Como resultado, a discussão manteve-se ao mesmo nível do debate negativamente polarizado que levou ao Brexit, não apresentando nenhum argumento positivo a favor do Euro.

A união entre Macron e Fillon neste ponto surge de uma análise de que ambos comungam nos respetivos programas seja sobre economia ou Europa: a França deve sacrificar tudo para competir com a Alemanha dentro da zona euro. Ambos aceitam essencialmente a estrutura atual de funcionamento do euro e os "compromissos europeus" para o défice e dívida pública, com Macron a propor um "ajustamento unilateral" de França, uma estratégia já conhecida em Portugal.  

E parece ser este consenso à direita que Macron recoloca no centro, com o apoio de parte do eleitorado do Partido Socialista (que não adere a Benoit Hamon), bem como de eleitorado do Partido Republicano que se afasta de François Fillon. Mas recebe também apoios imprevistos de personalidades vindas do Parti Communiste Français ou do SPD alemão (que integra o Partido Socialista Europeu juntamente com o PS português e francês).

Sigmar Gabriel, ex-Presidente do SPD que deu a mão a Angela Merkel nos últimos dois governos da chanceler alemã, discursava no congresso do partido de dia 19 de março quando lançou a sua visão do futuro da Europa: "Imaginem tudo aquilo que nós poderemos mudar nesta Europa se Emmanuel Macron se torna presidente e Martin Schulz [candidato do SPD nas próximas eleições da Alemanha] como chanceler na Alemanha". O público aplaudiu entusiasticamente mas a declaração não recebeu grande atenção da comunicação social.

O que isto significa no entanto é que Benoit Hamon, o candidato oficial do Partido Socialista francês, não recebe sequer o apoio dos seus congéneres institucionais.

Há uma razão conjuntural para isto: na política e comunicação social alemãs, o ponto de análise favorece o candidato "anti Le Pen", seja ele quem for, mas favorece também o candidato europeísta pró políticas alemãs, e se Benoit Hamon não rejeita um reforço federalista, Macron é entusiasticamente pró-alemão nas grandes opções económicas.

Simultaneamente, um ex-dirigente do partido comunista francês declarou o seu apoio a Macron. Patrick Braouezec foi eleito deputado do PCF pela primeira vez em 1993, cargo onde se manteve até 2012, mas não sem antes sair do PCF após as eleições regionais de 2010 por divergências com a escolha de Pierre Laurent para cabeça de lista na capital. Junta-se depois a uma organização interna à Front de Gauche e, agora em 2017, ao En Marche! de Emmanuel Macron.

Apesar de ter abandonado o PCF em 2017, o apoio a Macron surpreendeu a comunicação social francesa dada a distância programática entre os dois movimentos. Braouezec justificou a decisão ao Le Monde declarando que foi "uma escolha pensada e feita após a análise concreta de uma situação concreta", e um apoio "sem ilusões, mas portador de perspetivas". Em concreto mencionou a ausência de um acordo entre Jean-Luc Mélenchon e Benoit Hamon numa única candidatura, o que, argumentou, poderá ter "consequências dramáticas numa segunda volta entre a direita extrema e extrema-direita". E concluiu dizendo que "como Daniel Cohn-Bendit, eu penso que Emmanuel Macron é o único candidato que permite evitar uma situação onde as pessoas sofrem as consequências de uma política retrógrada".

Na verdade, Braouezec e Macron já trabalharam juntos. O primeiro, na qualidade de Presidente da região Plaine Commune, o segundo como Ministro da Economia do governo de François Hollande, ambos colaboraram num programa de desenvolvimento económico da região. Um projeto implementando pela France Urbaine onde se pretendia "antecipar as transformações ligadas às novas tecnologias sobre as questões relativas ao futuro do trabalho, da economica contributiva, da urbanização, da educação e da investigação".

A proximidade entre os dois foi pública durante o projeto, suscitando já na altura suspeitas sobre as ambições ministeriáveis do próprio Patrick Braouezec.

Os programas económicos lançados por Emmanuel Macron enquanto Ministro da Economia criaram aparentemente uma grande coligação, que vai de ex-apoiantes do Partido Republicano a ex-militantes do Partido Comunista Francês, passando por multi-milionários e donos de grupos de comunicação social como o Le Monde.

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