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Guterres cede a pressão israelita

Guterres demarca-se de relatório das Nações Unidas que acusava Israel de por em prática políticas de apartheid. Dias depois da sua publicação, relatório acabou por ser retirado totalmente e a sua responsável demitiu-se em protesto.
António Guterres
António Guterres cedeu a pressões externas e retirou um relatório das Nações Unidas que acusava Israel de apartheid contra os palestnianos. Foto de United States Mission Geneva/Flickr.

O relatório intitulado “Práticas Israelitas em Relação ao Povo Palestiniano e a Questão do Apartheid” foi publicado na passada quarta feira pela Comissão Económica e Social para a Ásia Ocidental (ESCWA, da sigla em inglês) das Nações Unidas. Acusava Israel de exercer políticas de apartheid “tal como definido nos instrumentos da lei internacional” e criticava veementemente o veto de viagens exercido no país, que permite que qualquer judeu se mude para Israel independentemente de ter ligações ao país, mas nega o mesmo direito aos palestinianos.

Assim que o relatório foi publicado, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU reagiu muito negativamente e António Guterres, secretário-geral da organização, emitiu um comunicado demarcando-se do mesmo. Um porta-voz de Guterres afirmou que “o relatório não reflete os pontos de vista do secretário-geral”. Os Estados Unidos continuaram a insistir e exigiram que Guterres fosse "mais longe e retirar completamente o relatório”, o que foi rapidamente cumprido.

Perante essa cedência do secretário-geral das Nações Unidas, Rima Khalaf, secretária executiva da ESCWA, demitiu-se afirmado que “Israel continua a cometer crimes contra o povo palestiniano, e são crimes contra a humanidade”. “Demito-me porque é o meu dever não esconder um crime claro, e mantenho todas as conclusões do relatório”, afirmou. 

O Comité Nacional da campanha pelo Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel manifestou-se inicialmente muito satisfeito pelo “avanço histórico” do relatório. Depois da sua retirada, Mahmoud Nawajaa, coordenador geral da campanha na Palestina declarou que “o facto de um secretário-geral da ONU ter cedido a ameaças e à intimidação da Administração Trump para proteger Israel das suas responsabilidades, uma vez mais, não é novidade”. “O relatório histórico da ESCWA criou dois precedentes históricos na Palestina. Foi a primeira vez que qualquer agência da ONU concluiu, através de um estudo rigoroso e escrupuloso, que Israel impôs um regime de apartheid contra todo o povo palestiniano. Além disso, a defesa da ESCWA que a campanha BDS é a forma mais eficaz de responsabilizar Israel pelos seus crimes de guerra criou um precedente importante dentro do sistema da ONU, dominado pelos Estados Unidos.

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