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COP 23: Merkel não desiste do carvão e causa preocupação

A chanceler confirmou que a Alemanha está atrasada no objetivo de reduzir em 40% as emissões de CO2 até 2020 e quer manter as centrais a carvão para além de 2030. Artigo de Pedro Soares, em Bona.
Discurso de Angela Merkel na COP23 em Bona. Foto Ministério do Ambiente da Alemanha/Direitos reservados

No ano passado, em Marraquexe, a COP22 ficou marcada pela sombra da eleição de Trump nos EUA e das suas declarações de abandono do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas. Ninguém sabia o efeito da saída dos EUA, receava-se que pudesse provocar uma reação em dominó que levasse a uma sucessão de outras saídas do Acordo de Paris.

Na COP23, a decorrer em Bona, é Angela Merkel que lança novos elementos de crise sobre o Acordo de Paris, ao declarar que é demasiadamente ambiciosa a meta do aquecimento global abaixo dos 2ºC até ao final do século. Este discurso da principal responsável da maior economia da UE, dirigindo-se à COP23, trouxe a maior preocupação sobre a aplicação do Acordo de Paris e sobre aquilo que será no próximo ano a COP na Polónia, essa sim decisiva para a implementação das metas e objetivos da descarbonização das economias.

A falta de ambição da Alemanha já se manifesta. Merkel confirmou que a Alemanha está atrasada no objetivo de reduzir em 40% as emissões de CO2 até 2020. Aquele que era o desafio assumido pela UE de encerrar até 2030 as centrais termoelétricas a carvão está agora confrontado com uma Alemanha que quer manter as suas centrais, sob o argumento do emprego e dos acionistas que investiram e querem retorno.

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Merkel não respondeu à questão que toda a COP23 pretendia ver respondida: quando é que a Alemanha vai deixar de utilizar carvão na produção de eletricidade e contribui de forma clara para que a UE cumpra as metas de Paris? Uma das iniciativas mais importantes que ocorreu na COP 23 foi a reunião da Powering Past Coal Alliance, uma plataforma de países e regiões que defende a desativação das centrais a carvão, uma moratória sobre a construção de novas centrais e o apoio ao desenvolvimento das energias limpas. Ao contrário de outros países europeus e americanos, a Alemanha não aderiu a esta plataforma anti carbónica, confirmando todos os receios surgidos após as declarações da chanceler alemã.

COP23, transição para onde?

A Conferência das Partes da Convenção Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (COP) está reunida em Bona, Alemanha, sob a presidência da República das Fiji, na expetativa de vir a ser acordado um conjunto de regras e orientações técnicas para a aplicação do Acordo de Paris, o chamado Livro de Regras.
Trata-se de definir o contributo de cada país para que as metas sejam alcançadas, a forma e o nível de transparência do controlo sobre o cumprimento desses contributos e, um fantasma que ainda não deverá ser eliminado nesta COP23, o financiamento do fundo de 100 mil milhões de euros para trazer os países em desenvolvimento para este programa de descarbonização.

Ratificado por 169 países até ao momento, o Acordo de Paris coloca como metas principais conseguir que o aumento da temperatura média global fique abaixo dos 2ºC, próximo de 1,5ºC, em relação ao período pré-industrial, o aumento da capacidade de adaptação aos efeitos das alterações climáticas e um modelo de desenvolvimento com reduzidas emissões de gases com efeito de estufa.

A concretização destes objetivos tem encontrado as maiores dificuldades. A temperatura média já está acima de 1ºC em relação à era pré-industrial e ainda não chegámos ao quarto de século. Os efeitos sentem-se por todo o mundo com os fenómenos atmosféricos extremos. Em 2016 foi atingido o pico de emissões de CO2 e 2017 deverá ser o ano mais quente de sempre da idade moderna.

Na verdade, a pressão das petrolíferas para que a exploração de hidrocarbonetos e de gás natural se intensifique continua a ser fortíssima, tanto em relação aos governos nacionais como na UE. A resistência à eliminação das fontes de origem fóssil encontra caminho em países que, como a Alemanha e os EUA, se tinham declarado em Paris os maiores defensores do combate às alterações climáticas.

A mobilização cidadã em defesa de um ambiente saudável, da descarbonização da economia e da transição para as energias de origem renovável é essencial, decisiva mesmo, neste combate contra um modo de produção insustentável que gera lucros rápidos ao capital, mas prejudica as populações e o desenvolvimento das comunidades e dos territórios.

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