You are here

Conta secreta do GES na origem de transferências irregulares para o Panamá

O Jornal Económico revela agora que as transferências para o Panamá foram realizadas pelo Fundo Zyrkan, criado meses depois do colapso do GES, enquanto Paulo Núncio era secretário de estado.
Paulo Núncio, Foto Miguel A. Lopes/Lusa
Paulo Núncio, Foto Miguel A. Lopes/Lusa
A suspeita de que as transferências para offshores teriam origem no GES/BES já existia, mas não se sabia o montante nem o momento das transferências. Agora, o Jornal Económico revela que o fundo Zyrcan Harthan, gerido pela Eurofin, uma conta secreta criada pelo GES sete meses após o colapso do grupo, realizou parte das transferências não registadas pela Autoridade Tributária  entre 2011 e 2015, precisamente o período em que Paulo Núncio era secretário de Estado para os Assuntos Fiscais. 
 
O Zyrcan foi revelado em 2016 pelo jornal Expresso, na investigação dos Panama Papers. Consistia numa conta bancária no Credicorp Bank, sediada na Cidade do Panamá: 
 
"Foi criado no ano 2000 nas Ilhas Virgens Britânicas a pedido da Eurofin, uma companhia de serviços fiduciários (isto é, de ocultação financeira) fundada em 1999 na Suíça e que tem estado a ser investigada pelas autoridades judiciais em Portugal”, escreve o jornal, adiantando que “por estar alegadamente implicada em perdas de 800 milhões de euros para o BES através de operações fraudulentas e de estar alegadamente envolvida no desvio de dinheiro do banco para entidades desconhecidas”. 
 
"O pedido de abertura aconteceu meros dois meses antes de o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), que conduz os vários inquéritos-crime relacionados com o colapso do grupo financeiro dos Espírito Santo, ter promovido o arresto de mais de 500 bens em Portugal.”
 

O Zyrcan emprestou 20,7 milhões de euros à Relcove em dezembro de 2007, através de dois contratos, um de 19,5 milhões de euros e outro de 5,2 milhões, com a duração de um ano, mas automaticamente renováveis, afirma o Expresso, sublinhando ainda que “um ano depois o fundo concederia um crédito adicional de 3,8 milhões àquela offshore”.

“Esta sequência de empréstimos, em que quem empresta e quem recebe são as mesmas pessoas" permitia, de acordo com o jornal, “ocultar o fluxo do dinheiro gerado com os lucros produzidos pelas operações do Zyrcan feitas com o BES. “

Para o Expresso, estamos perante “uma ocultação” que acabava por ser reforçada devido à forma como as offshores envolvidas foram sendo detidas indiretamente pelos seus verdadeiros beneficiários, ou seja, a família Espírito Santo, “num esquema em cascata e sempre com administradores de fachada a assinar os papéis”.

O fator desconhecido continua a ser Paulo Núncio, cuja inação, propositada ou não, criou uma situação onde o grupo Espírito Santo transferiu milhares de milhões sem qualquer controlo e, sabemos agora, depois de já ter colapso financeiramente. 

Artigos relacionados: 

Termos relacionados Sociedade
(...)