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Catalães reagem à repressão ao referendo

Primeiros autarcas catalães chamados a depor recusaram-se a prestar declarações. Responsável pelas Finanças do governo catalão alerta para “colapso” das contas públicas, caso Espanha insista em cortar financiamento.
População impede saída da polícia da Unipost após apreensão de correspondência eleitoral. Foto Mon Terrasa/Twitter

A realização do referendo à independência da Catalunha, proibido pela justiça espanhola, continua a marcar a atualidade, após o governo de Madrid ter anunciado que ia tomar conta das transferências financeiras que mensalmente seguem para a Catalunha, de forma a evitar que algum dinheiro público seja gasto na iniciativa marcada para 1 de outubro.

O governo catalão recorreu da decisão junto do Supremo Tribunal da Catalunha, mas não é certo que o recurso venha a ter o habitual efeito suspensivo. Madrid subiu a parada e deu ordens aos bancos para que as despesas feitas com cartões de crédito dos ministros catalães apenas sejam possíveis após visto prévio do governo central.

Para Oriol Junqueras, líder da Esquerda Republicana Catalã e ministro das Finanças do governo formado pela coligação Junts pel Sí, o corte nas transferências vai criar uma situação de “colapso total” nas contas públicas e podem paralisar o pagamento de pensões e arranque do projeto de criação do Rendimento Mínimo de Cidadania.

Os primeiros autarcas da lista de mais de 70 que colocaram os meios municipais à disposição do governo catalão para realizar o referendo estão a ser chamados a prestar depoimento na justiça. Esta terça-feira, três alcaldes de Mollerusa, Pont de Suert e Oliana, compareceram à chamada e dois deles recusaram-se a prestar declarações. O outro queria que ficasse registada apenas uma frase no depoimento, dizendo que a Procuradoria estaca a extravasar as suas competências. Mas o inquiridor recusou-se a fazê-lo, pelo que saiu também sem prestar declarações.

Polícia continua a apreender material de propaganda e informação sobre o referendo

Esta terça-feira, a Guardia Civil entrou em vários armazéns da empresa privada de correios Unipost, em busca das cartas dirigidas aos membros das mesas eleitorais do referendo. A empresa pública de Correios deu ordens para não aceitar nenhum material relacionado com a campanha. Na Unipost foram apreendidos várias centenas de envelopes e revistadas as carrinhas da empresa que entravam e saíam dos armazéns da Unipost.

Centenas de pessoas juntaram-se em frente às instalações na Unipost em Terrasa, perto de Barcelona, impedindo a saída dos polícias à paisana que revistavam o interior.

Dias antes, a polícia tinha feito rusgas em várias gráficas, apreendendo centenas de milhares de cartazes e folhetos elaborados pelo governo como parte da campanha de mobilização para o voto.

A resposta surgiu de imediato nas redes sociais, com a divulgação de uma maquete de cartaz a preto e branco para poder ser impresso em casa e colado em toda a parte. A hashtag #Empaperem tornou-se viral, com milhares de pessoas a publicarem nas redes imagens dos seus cartazes colados.

Socialistas já admitem que o governo aplique o artigo 155 da Constituição

A posição anti-referendo do Partido Socialista da Catalunha tem valido muitas críticas por parte dos setores políticos soberanistas catalães. O PSC apela a não ir votar e tem divulgado minutas para que quem seja convocado para as mesas de voto possa recusar. Por outro lado, queixa-se de ameaças aos seus autarcas que não disponibilizam os meios municipais para o dia do referendo. Em represália, o PdeCAT, do chefe de governo Carles Puigdmont, anunciou a retirada do apoio político nos municípios governados pelos socialistas que ajudem a boicotar o referendo.

Esta terça-feira, o PSOE desafiou o PP a dizer se vai ou não invocar o artigo 155 e a lei de segurança nacional para impedir o referendo na Catalunha. Aquele artigo permite ao governo central suspender competências autonómicas para “restabelecer a legalidade”.

Até agora, o PSOE sempre colocou de parte a hipótese de aplicar aquele artigo no conflito político com a Catalunha. Mas agora, a líder parlamentar do PSOE, Margarita Robles, desafiou Rajoy em conferência de imprensa a acabar com a “indefinição” sobre as medidas que pensa aplicar, admitindo a hipótese de vir a ser aplicado aquele artigo.

Na véspera, o porta voz da comissão executiva do PSOE, Óscar Puente, tinha dito que “o apoio que estamos a oferecer ao governo é o que nós gostaríamos de ter se estivéssemos a governar”.

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