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Aquecimento global provoca aumento de secas e inundações

O aquecimento global está a amplificar secas e inundações severas, ao desfazer as poderosas correntes de ar a alta altitude (‘jet streams’), que evoluem de oeste para leste no Hemisfério Norte, segundo um estudo publicado esta segunda-feira na Scientific Reports.
Inundação em Lisboa.

Em apenas 15 anos, estes fenómenos - secas devastadoras na Califórnia, vagas de calor através dos EUA e Europa Ocidental, inundações mortíferas no Paquistão – ficaram pior quando as alterações climáticas de responsabilidade humana alteraram aquelas correntes, apontaram cientistas no documento publicado na revista Scientific Reports.

“O nosso trabalho mostra que as alterações climáticas não estão apenas a provocar eventos climáticos ainda mais extremos através dos mecanismos habituais”, afirmou o principal investigador, Michael Mann, professor na Universidade Estadual de Penn, nos EUA.

Estes “mecanismos habituais” incluem temperaturas mais quentes, que conduzem a mais vagas de calor e secas, bem como a mais humidade no ar, o que provoca mais inundações ou nevões.

“Além destes efeitos, o aquecimento global está a mudar o padrão do ‘jet stream’ de uma form acue favorece anomalias climáticas mais extremas e persistentes”, disse Mann à AFP.

“Revelámos uma consequência clara da atividade humana”, salientou.

Os ‘jet streams’ são correntes de ar que serpenteiam através da metade norte do globo, a cerca de oito a 11 quilómetros acima da superfície terrestre.

Conduzidas pelo contraste entre o ar frio polar e o clima tropical, os ‘jet streams’ viajam dentro de uma banda com várias centenas de quilómetros de largura a velocidades de cerca de 300 quilómetros horários.

Os ‘jet streams’ são a razão pela qual o voo de Los Angeles para Novo Iorque demora menos uma hora do que o percurso inverso.

O percurso sinuoso destes gigantescos fluxos de ar cria padrões climatéricos, incluindo os sistemas de altas e baixas pressões que criam os momentos extemporâneos de calor ou frio.

Quando estas correntes de ar perdem velocidade ou param, estas manifestações climatéricas podem tornar-se mais extremas, conduzindo a períodos extensos de calor ou precipitação.

“Mudanças relativamente pequenas das correntes de ar podem ter efeitos significativos nas condições meteorológicas, incluindo as extremas”, disse o coautor Dim Coumou, professor no Instituto de Estudos Ambientais da Universidade de Amesterdão, à AFP.

E o que causa a paragem destas correntes de ar? Pequenas diferenças de temperatura entre o ar do Ártico e o dos trópicos.

Isto pode acontecer naturalmente, mas tem acontecido com mais frequência desde que as alterações climáticas se acentuaram, apuraram os investigadores.

O Ártico aqueceu mais do dobro da média global dos últimos 50 anos, ao verificar um aumento da sua temperatura em dois graus Celsius (ºC).

O ar sobre as massas terrestres também aqueceu mais depressa do que sobre os oceanos.

Pesquisas anteriores associavam os ‘jet streams’ com grandes secas e inundações ocorridas nas últimas duas décadas, mas não adiantaram nada sobre a influência da atividade humana no processo.

“O que o novo estudo faz é ligar os pontos entre a crescente frequência deste efeito das correntes de ar e o aquecimento global provocado pelos humanos no planeta”, disse Mann.

Este cientista e a sua equipa usaram registos de temperaturas terrestres, iniciados em 1870, combinados com simulações por computador, para analisarem os padrões.

O estudo apurou que as condições promotoras da perturbação das correntes de ar aumentaram cerca de 70% desde o início da idade industrial, quando os humanos começaram a carregar a atmosfera com gases com efeito de estufa.

De forma significativa, a maior parte das alterações ocorreu nas últimas quatro décadas.

A conferência de Paris, realizada no final de 2016, apelou para a contenção do aquecimento global “bem abaixo” dos 2ºC até ao final do século.

A manter-se a evolução atual, a temperatura média global da Terra vai aumentar em 4ºC até ao final do século.

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