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Um mapa para as esquerdas

O extenso panorama partidário à esquerda é aqui clarificado de forma a entender as diferentes coligações e origens históricas. 

Jean-Luc Mélenchon/Front de Gauche e La France Insoumise (10% a 13%)

Para as presidenciais de 2008, o Parti de Gauche (fundado por Jean-Luc Mélenchon em cisão com o PSF) e o Parti Communiste Français  (PCF) fizeram um acordo eleitoral que resultou na Front de Gauche. Em 2011, juntaram-se à coligação também o Convergence et alternative (em cisão com o NPA); a Fédération pour une alternative sociale et écologique (FASE); a Gauche anticapitaliste (GA); o Parti communiste des ouvriers de France (PCOF); o Les Alternatifs (apesar de eles próprios serem uma cisão do FASE devido à entrada na Front de Gauche); e o République et Socialisme (em cisão com o MRC).

Em 2013, este segundo grupo de partidos exceto o PCOF reorganizaram-se no Ensemble! mantendo-se na Front de Gauche, que agora apoia a candidatura de Jean-Luc Mélenchon. Esta candidatura alcançou um resultado histórico para esquerda francesa de 11% na primeira volta das presidenciais de 2012, apoiando François Hollande contra Nicolas Sarkozy na segunda-volta. 

Benoit Hamon/Parti Socialiste (15% a 18%)

A demaração de Hollande e das políticas de austeridade de Manuel Valls - que se colocou programaticamente à direita de Emmanuel Macron - permitiram-lhe ganhar as primárias do PSF. Apesar de ter sido lida como uma vitória inesperada, a escolha de Hamon confirma uma tendência dos eleitorados dos partidos socialistas europeus à rejeição de candidatos com políticas austeritárias. 

Começa a sua vida de militante no SOS Racismo francês, e integra o UNEF-ID (sindicato de estudantes) nos protestos dos estudantes em 1986 contra a lei Devaquet. Integrou o segundo governo da Presidência de Hollande, liderado por Jean-Marc Ayrault, como Ministro delegado da Economia social e solidária (o equivalente a Secretário de Estado da Economia) entre Junho de 2012 e março de 2014, e depois como Ministro da Educação e do Ensino Superior no primeiro governo liderado por Manuel Valls, cargo do qual se demite logo em agosto de 2014 em conjunto com Arnaud Montebourg, então ministro da Economia, por oposição à política económica que Hollande pretendia adotar. É aqui que Emmanuel Macron assume a pasta da Economia. 

Philipe Poutou/Nouveau Parti Anticapitaliste (0% a 1%)

Poutou começou a sua vida partidária no Lutte Ouvrière, de onde sai em 1997 para depois ingressar na LCR - Ligue communiste révolutionnaire que, em 2009, se transforma no atual Nouveau Parti Anticapitaliste (processo no qual a tendência minoritária da LCR se retira para formar a Gauche unitaire que automaticamente se filia na Front de Gauche).  A LCR, de inspiração trotskista e afiliada ao Secretariado Unificado da Quarta Internacional, elegeu dois eurodeputados em 1999, em coligação com a Lutte Ouvrière (façanha que não voltou a repetir), e, com Olivier Besancenot como candidato às presidenciais de 2002 e 2007, teve os melhores resultados eleitorais do partido com 4% das intenções de voto.

Por seu lado, o NPA pretende acompanhar o movimento alterglobal e filia-se na Esquerda Europeia Anti-Capitalista, da qual também faz parte o PCF e a Front de Gauche que o NPA não integrou. Besancenot não se revelou disponível para a candidatura às presidenciais de 2012, tendo Philipe Poutou assumido a responsabilidade alcançando apenas 1,15% dos votos. Para a campanha presidencial de 2017, o programa do de Poutou centra-se numa agenda ecologista, anti-racista e pelos direitos dos trabalhadores. 

Nathalie Artaud/Lutte Ouvrière (0% a 0,5%)

O Lutte Ouvrière apresentou desde 1973 Arlette Laguiller como candidata às presidenciais de 1974, 1981, 1988, 1995, 2002 e 2007, obtendo resultados surpreendentes de 5% em 1995 e 2002. Em 1999 elege três eurodeputados em coligação com a LCR. No entanto, logo em 2007 perde relevância obtendo 1,34% das intenções de voto e 0,54% em 2012, já com Nathalie Artaud como candidata.

De inspiração trotskista historicamente em cisão com a quarta internacional, o partido afirma a candidatura de Nathalie Artaud como “a candidata comunista” que, segundo a apresentação oficial do programa, “ao contrário dos principais candidatos de esquerda, de direita ou de extrema direita, não pretendo defender os interesses da França e dos franceses”. Afirma-se por isso como a candidata defensora dos trabalhadores que luta contra os “Peugeot, os Dassault, os Bolloré, a classe de burgueses parasitas que acumulam a sua fortuna através da exploração”. Tendo-se sempre mantido longe dos esforços da Front de Gauche, não ataca no entanto Mélenchon, definindo-se antes contra o PSF e restantes partidos de centro e direita. 

Yannick Jadot/Europe Ecologie Les Verts (1% a 2%)

Deputado europeu eleito pelo EELV, foi ele que lançou a ideia de primárias de toda a esquerda, ideia que depois viria a abandonar ao perceber que tal processo seria dominado pelo PSF, optando por umas primárias apenas do seu partido onde derrotou Cécile Dufflot.

Nas presidenciais de 2012, os verdes apresentaram a candidatura de Eva Joly, que alcançou 2,31%, um resultado que não os impediu de integrar o primeiro e segundo governos da presidência de François Hollande, saindo em 2014 com a nomeação de Manuel Valls para primeiro-ministro mas não sem criar uma crise interna entre quem pretendia permanecer no governo, definindo o partido politicamente ao centro, e quem pretendia sair do governo, procurando alianças com a esquerda do PSF. Em 2016, Emanuelle Crosse, secretário geral do EELV, entra para o governo de Valls como Ministro da Habitação e sai do partido. Após a vitória de Benoit Hamon nas primárias do PSF, vários dirigentes pediram a Yannick Jadot a renuncia da sua candidatura a favor de Hamon, proposta que recusou inteligentemente considerando a descredibilização total com que o eleitorado olha para o EELV após os ziguezagues dos últimos anos. 

(...)

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