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Solidarity for All: "Tomar as nossas vidas nas nossas mãos”

A equipa de trabalho da iniciativa grega "Solidarity for All" respondeu a um conjunto de questões colocadas pelo esquerda.net sobre, por exemplo, o trabalho que desenvolvem e a sua relação com a coligação de esquerda Syriza.

Quando e como foi criada a iniciativa Solidarity for All”?

Nos últimos três anos, o desenvolvimento acelerado de estruturas de solidariedade social criadas pelos próprios cidadãos, bem como o florescimento das lutas anti troika contra a falência económica, social e política, foram uma realidade presente. O movimento de auto organização das pessoas aponta não só para outra forma de resistência mas também para outra forma de construir as estruturas e os laços sociais. As clinicas e os centros de saúde sociais de médicos voluntários, acessíveis a todos aqueles que necessitam, as farmácias sociais, as mercearias sociais, sem intermediários, a distribuição de comida, os bancos de horas, as aulas sociais noturnas, as estruturas de economia social, são alguns exemplos das chamadas estruturas de solidariedade.

Membros da Syriza associaram-se, desde o início, a este movimento de auto-organização em todo o país. Esta experiência, que repassou toda a sociedade, influenciou também profundamente a Syriza, que percebeu que o slogan “Ninguém ficará sozinho na crise” do período pré eleitoral não é só uma declaração, tendo vindo a ser implementado na prática.

No início de setembro, a Syriza tomou a iniciativa de dirigir um apelo aos seus membros no parlamento, aos militantes da coligação e ativistas dos movimentos sociais para que se discutissem as formas de apoiar este movimento. Tiveram igualmente lugar vários encontros e assembleias nas grandes cidades.

De acordo com os princípios básicos das estruturas de solidariedade (auto organização, hierarquias horizontais, decisões tomadas em assembleia…), membros da Syriza tentaram encontrar formas de reforçar as estruturas de solidariedade e torná-las mais visíveis para toda a sociedade.

Em resultado deste apelo, em outubro, uma equipa de trabalho criou a iniciativa "Solidarity for All", que começa a mapear e registar as estruturas em todo o país, a fim de estudar as suas características mas também publicitá-las na sua plataforma http://www.solidarity4all.gr/

Este foi apenas o começo de uma importante aposta…

Qual é a relação entre a “Solidarity for All” e a coligação Syriza?

Como mencionado acima, a “Solidarity for All”, foi criada a partir da vontade da Syriza de apoiar politicamente e na prática este movimento de auto organização e solidariedade como uma nova forma de construção de estruturas e laços sociais mais igualitários e justos.

Esta nova forma de organização da vida quotidiana incentiva a participação ativa das pessoas que são afetadas pelos resultados da austeridade e os que acreditam que é hora de "tomar as nossas vidas nas nossas mãos".

A equipa da “Solidarity for All” é constituída por membros da Syriza que estão em contato permanente com as estruturas de solidariedade, a fim de criar ferramentas para facilitar o seu trabalho, sem qualquer intervenção sobre elas, mas também em contato com as estruturas da Syriza, de modo a transferir a experiência dos processos sociais que são realizados a partir da base da sociedade. É um facto que o programa da Syriza teve em conta toda a experiência das estruturas sociais.
Entre outros, a “Solidarity for All” incentiva os membros da Syriza a participar nas estruturas de solidariedade de base, promovendo a cultura política de solidariedade social, em vez da cultura de caridade.
A “Solidarity for All”, em colaboração com a Syriza, lança campanhas internacionais de solidariedade política mas também de assistência material, por toda a Europa e não só. Os deputados apresentam a “Solidarity for All” em inúmeras conferências e reuniões, dando conhecimento à Europa desta forma de resistência dos povos.

A “Solidarity for All”, tem, porém, a sua própria assembleia decisória e goza de autonomia na realização de campanhas, atividades e decisões. A Syriza oferece apoio político (que é extremamente necessário nestes dias) e apoio financeiro de modo a permitir a operacionalização de todas as ideias e planos.

Que tipo de trabalho é desenvolvido pela “Solidarity for Alle quem participa nesta iniciativa?

As atividades da “Solidarity for All” são desenvolvidas por uma equipa de trabalho, tal como já foi mencionado, mas, ao mesmo tempo, essa equipa é separada em diferentes áreas, consoante as áreas das estruturas sociais. A equipa para as estruturas relacionadas com a saúde, com a educação, economia social, alimentos, apoio legal, cultura, campanhas internacionais. Ativistas, voluntários, membros de partidos de esquerda ou sem partido estão a trabalhar nestes grupos. O trabalho principal é facilitar a comunicação entre todas as redes e estruturas de solidariedade, bem como a partilha de experiências e de “conhecimento” entre elas. A "Solidarity for All” é um coletivo aberto, direcionado para todos aqueles que se sintam inspirados pelo tríptico solidariedade-resistência-auto organização. Não procura nem expressar e nem representar toda a galáxia de projetos, mas pretende transformar-se num ponto de encontro a nível nacional, que propicie um espaço público comum para o encontro e a comunicação das redes e das estruturas de solidariedade. Além disso, para, através do site www.solidarity4all.gr, dar visibilidade e acesso direto a este mundo extenso de solidariedade a todas as pessoas necessitadas, em qualquer parte do país. Para disseminar, por todos aqueles atingidos pela crise e pelas consequências do memorando de agressão, o conceito político de que temos que tomar as nossas vidas nas nossas mãos. Que não podemos, e não queremos, substituir o Estado Social em queda, mas, pelo contrário, ao lutar pela sobrevivência de um povo e de uma sociedade, exigimos o direito de todos a aceder aos seus direitos e aos serviços que pertencem a todos. Para organizar campanhas de solidariedade de âmbito nacional, em estreita comunicação com as estruturas locais de solidariedade. Um exemplo é a atual campanha "uma garrafa de azeite para cada desempregado", que pede aos produtores de azeite para fornecerem nos lagares a quantidade em barris que desejarem, que posteriormente será processada através dos nossos próprios meios e vai para as redes de solidariedade para distribuição às famílias atingidas pelo desemprego e pela pobreza nos centros urbanos.

Finalmente, promovemos a campanha internacional “Solidarity to the Greek People”, a um nível politico e financeiro, através de mobilizações, dias de ação internacional, apoio económico, apoio em medicamentos e alimentos, conexão horizontal de organizações ou grupos do exterior com estruturas e redes de solidariedade na Grécia.

Qual é a extensão do apoio prestado pela Solidarity for All”?

A “Solidarity for All” dá assistência e apoia todos os projetos existentes de todas as formas possíveis (fornece material e pessoas, apoio económico, cobre as necessidades…), bem como ajuda a partilhar experiências existentes e conhecimentos, a fim de incentivar e promover a criação de novos projetos, em áreas geográficas ou áreas temáticas não abrangidas.

É difícil avaliar a extensão, porque ainda é muito recente, e todos os meses surgem novas estruturas sociais em todas as áreas e novas necessidades são cobertas. Por exemplo, nos últimos meses, as farmácias sociais manifestaram a necessidade de uma lista comum de medicamentos acessíveis a todas as estruturas, a fim de cobrirem mutuamente as suas necessidades. Este é um projecto em que a “Solidarity for All” desempenha um papel importante, a organizá-lo. Outro exemplo é a lista comum de produtores e o seu contato direto com os consumidores.

Estas são as necessidades que surgem à medida que as estruturas se tornam mais estáveis ​​e desenvolvem as suas actividades.

No relatório daSolidarity for All, datado de março de 2013, é referido que a solidariedade é uma “luta política”. Qual o significado desta afirmação?

Esta luta política significa disseminar, por todos aqueles atingidos pela crise e pelas consequências do memorando de agressão, o conceito político de que devemos tomar as nossas vidas nas nossas mãos, participar ativamente na situação que está a acontecer, agir progressivamente a fim de lutar pela justiça social.

Acreditamos firmemente que as estruturas de solidariedade não só oferecem alívio temporário às pessoas mas também constroem a base da nova sociedade, na qual as pessoas participam nos processos da democracia real, com uma economia social, onde as necessidades das pessoas sobrepõem-se ao lucro, com relações solidárias entre produtores e consumidores, com laços de solidariedade entre vizinhos gregos e imigrantes, por forma a reforçar a coesão social.

Existe algum tipo de confronto entre a Solidarity for Alle organização nazis, que têm distribuído alimentos exclusivamente a cidadãos gregos não migrantes?

Entre a “Solidarity for All” e o partido nazi Aurora Dourada não existe qualquer lugar comum, nem literalmente nem figurativamente, por isso, desse ponto de vista, não há qualquer tipo de confronto. A distribuição nazi de alimentos apenas para os gregos tem lugar em praças como uma festa, tentando convencer as pessoas de que é o único partido que se preocupa com os gregos. O nosso ponto de vista é completamente diferente, nós não promovemos a solidariedade da Syriza distribuindo alimentos, mas sim o conceito político de que devemos tomar as nossas vidas nas nossas mãos. Nós apoiamos a auto organização sem qualquer tipo de discriminação já que os imigrantes são tão vítimas das políticas do governo como os gregos. Por exemplo, a distribuição de alimentos que apoiamos são organizadas pelas estruturas de solidariedade nos bairros, elas recolhem alimentos das pessoas do bairro – não de grandes companhias, ou partidos políticos, ou empresários-, estas estruturas tentam envolver as pessoas que beneficiam do apoio, de modo a que se apercebam que isto não é caridade e que todos nós estamos em necessidade.

(...)

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