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Qual foi o papel de Lincoln?
A resposta de Charlie Post (O mau serviço de “Lincoln”) ao meu artigo sobre Lincoln, de Steven Spielberg (O grande intransigente) acrescenta outra perspetiva interessante à discussão acerca do filme. Perto do fim da sua resposta, porém, eu creio que ele confunde uma questão que estava a tentar defender, e gostava de esclarecer as coisas.
Charlie critica a minha sugestão de que Lincoln não podia abordar “tudo o que aconteceu na Guerra Civil”, mas pode ser apreciado pelo importante evento histórico – a aprovação da 13ª Emenda da Constituição, que aboliua escravatura – que ele aborda. Pergunta o seguinte: como teriam os socialistas reagido “a um filme sobre a organização dos sindicatos industriais da década de 1930 que apenas olhasseas deliberações do Supremo Tribunal dos Estados Unidos?”
Eu fiz uma comparação semelhante no meu artigo – só que aludi aos anos 60, escrevendo “Ficaríamos escandalizados se Steven Spielberg fizesse um filme acerca de quando Lyndon Johnson assinou o decreto sobre Direitos Civis em 1964. Então o que há de tão diferente em Lincoln?”
Eis a minha resposta no artigo:
“Resumidamente, isto: Lincon era o líder político de um capitalismo Nortista numa altura em que este se encontrava numa batalha pelo domínio dos EUA como um todo, contra os governantes reacionários de um sistema Sulista que extraía a sua enorme riqueza do trabalho escravo. Os interesses do capitalismo nos EUA coincidem – provavelmente pela última vez na história mundial, como se veio a revelar – com uma expansão massiva de democracia e liberdade através do fim da escravatura.
Para conduzir o Norte à vitória, Lincoln viu-se forçado a participar numa das lutas pela justiça mais importantes que são conhecidas. Lincoln não tomou parte no início dessa luta, e pouco fez para levá-la ao conflito aberto. Mas foi um ator importante no seu final, com um papel especial a desempenhar – e o filme de Spielberg captura esse papel de forma brilhante.”
Penso que é um papel evidentemente diferente o que foi desempenhado pelos representantes da classe dominante dos EUA nos anos de 1930 e de 1960 – o de Lincoln era ainda revolucionário, apesar de dentro dos limites do capitalismo, enquanto que no século XX já não era. Penso que o que Charlie escreve como historiador contesta esta interpretação. Tem todo o direito – mas só queria sublinhar que respondi exatamente à objeção que ele levanta, quer concorde com a minha resposta, quer não. E mais, penso que tenho Karl Marx e Friederich Engels do meu lado. E também W.E.B. DuBois. O que, evidentemente, me inspira confiança.
Alan Maass, Chicago
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