Passos diz à troika que idade de reforma vai aumentar ainda mais

A carta que o primeiro-ministro enviou à troika não bate certo com o que disse ao país. E os motoristas de passageiros querem saber como podem continuar a trabalhar aos 66 anos, se a sua carta de condução caduca aos 65.

08 de maio 2013 - 18:20
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Na sua comunicação ao país, Passos Coelho procurou ocultar a intenção de aumentar a idade de reforma dos sistemas públicos de pensões para os 66 anos. "Isto quer dizer que a idade legal de reforma se mantém nos 65 anos, mas que só aos 66 não haverá qualquer penalização", disse Passos Coelho em direto para as televisões.

Mas a carta que enviara à troika, dirigida a Durão Barroso, Mario Draghi e Christine Lagarde, com as previsões do impacto dos cortes, revela uma intenção bem diferente, ao falar de "aumento da idade de reforma dos 65 para pelo menos os 66 anos de idade através da alteração da fórmula que ajusta o aumento da esperança de vida – i.e. o factor de sustentabilidade".

O que Passos diz à troika mas não disse ao país é que de facto está em marcha uma operação para aumentar a idade da reforma para além dos 66 anos. Por outro lado, se à troika nada é escrito sobre a mudança da fórmula que define o factor de sustentabilidade, Passos Coelho levantou essa ponta do véu no discurso de sexta-feira, ao propor que "a par da esperança média de vida que já dela consta, possa incluir agregados económicos como, por exemplo, a massa salarial total da economia".

As consequências desta proposta, numa altura em que aumenta a recessão e o desemprego e por isso se reduz a massa salarial total, é que quanto piores forem os efeitos da austeridade no emprego e nos salários, mais anos de trabalho terá a população para além dos 65 anos, adiando ainda mais a idade de reforma sem penalizações. 

Motoristas de passageiros não podem trabalhar além dos 65 anos

Uma das reações contra a proposta de aumentar a idade da reforma veio da Federação dos Sindicatos dos Transportes (FECTRANS), que explica a impossibilidade dos seus associados continuarem a trabalhar além dos 65 anos. "Os motoristas não podem prolongar a sua vida ativa para além dos 65 anos visto que a sua carta caduca aos 65 anos”, afirmou Vítor Pereira.

"O senhor primeiro-ministro tem que nos explicar como é que os motoristas de pesados de passageiros podem prolongar a sua vida ativa se não têm carta de condução ou então têm de explicar às empresas como vão ter motoristas durante um ano sem poderem conduzir”, acrescentou o dirigente da FECTRANS. Em declarações à Lusa, Vítor Pereira acusa ainda o Governo de "falta de sensibilidade", dado que aos 63/64 anos “a maioria dos condutores já se andam a arrastar porque as suas condições físicas já não são as melhores”, por causa do desgaste desta profissão. Prolongar a vida ativa dos motoristas é "torturar estes trabalhadores", concluiu o sindicalista.

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