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Oriol Junqueras: "É viável referendar a independência em 2014"
Oriol Junqueras preside à Esquerda Republicana da Catalunha desde setembro de 2011. Este historiador doutorado em História do Pensamento Económico pela Universidade Autónoma de Barcelona também colaborou como guionista e consultor de documentários televisivos, tendo dirigido o diário digital catalão directe!cat em 2008. No ano seguinte foi eleito eurodeputado nas listas da ERC e em 2011 tornou-se alcaide (presidente da câmara) de San Vicente dels Horts – uma localidade com 30 mil habitantes junto a Barcelona. A maior vitória eleitoral de Junqueras aconteceu no mês passado, tendo encabeçado a lista da ERC que recolheu cerca de meio milhão de votos (13,7%) nas eleições catalãs, tornando os independentistas na segunda maior força no parlamento da Catalunha.
Em entrevista ao esquerda.net, uma semana antes de fechar o acordo para viabilizar o novo governo, o líder da Esquerda Republicana Catalã revela as duas condições do principal partido da oposição para garantir estabilidade a um governo minoritário da CiU. Oriol Junqueras não acredita que seja possível ter um Orçamento equilibrado e acabar com os cortes enquanto os recursos da Catalunha continuarem a ser desviados para o Estado espanhol.
Os resultados eleitorais deram à ERC a segunda maior bancada parlamentar e uma maioria mais frágil à CiU. Como analisam a nova relação de forças?
Constatamos a existência de dois movimentos principais. Por um lado, dentro do bloco soberanista (os partidos a favor de convocar um referendo sobre a independência da Catalunha) houve um deslocamento em direção aos partidos mais explicitamente independentistas. Por outro lado, dentro do bloco dos partidos de esquerda, os mais soberanistas ganharam força. Estes dois fenómenos convergiram na subida da ERC, que viu a bancada mais que duplicar, de 10 para 21 deputados.
E agora estão dispostos a viabilizar o governo liderado por Artur Mas? Sob que condições?
Estamos dispostos a assegurar a estabilidade de um governo liderado por Artur Mas se cumprir duas condições. Em primeiro lugar, mudar a política orçamental do Governo catalão, para deslocar o esforço da crise para aqueles setores que ainda o podem suportar e ajudar os setores mais castigados. E em segundo lugar, o governo de Artur Mas deverá comprometer-se a organizar um referendo sobre a independência da Catalunha no máximo até 2014. Se não concordarem, devem procurar o apoio necessário com o Partido Socialista ou com o Partido Popular.
O futuro Governo de Mas pretende cortar 4 mil milhões no Orçamento para 2013, seguindo as políticas de austeridade que aprofundam a recessão na Europa. Que alternativa propõe a ERC?
Não existe uma solução real para o problema dos cortes enquanto não dispusermos de todos os recursos gerados na Catalunha, que a cada ano são levados pelo Estado espanhol. Por isso, entre muitas outras razões, queremos a independência. Entretanto, estamos convencidos que podemos fazer adaptações para diminuir a carga sobre os que menos têm e mais sofrem com a crise e ao mesmo tempo aumentá-la sobre os que ainda podem fazer um esforço. Propomos por isso recuperar o imposto sucessório, taxar as entidades financeiras e as centrais nucleares ou implementar a "eurovinheta", uma taxa sobre os veículos pesados que circulam nas principais vias de comunicação.
O referendo para decidir o futuro de um Estado catalão foi uma das propostas do campo soberanista na campanha eleitoral. Com a atual maioria e apesar da oposição de Madrid, é viável fazer o referendo antes das próximas eleições europeias?
É viável. Vamos esgotar todas as vias dentro do Estado espanhol para convocar o referendo dentro do marco legal espanhol. Isto pode levar-nos uns dez meses. Mas se o Estado espanhol estiver apostado em negar-nos a possibilidade de fazer o referendo, iremos organizá-lo sob a legalidade internacional e os princípios gerais do direito internacional. Como disse Pitágoras há mais de dois mil anos, a democracia foi inventada para fazer as leis, e não o contrário.
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