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O General no seu Labirinto

Neste longo artigo publicado na London Review of Books, o editor da New Left Revew Tariq Ali, escritor, jornalista e activista político paquistanês estabelecido no Reino Unido, descreve com muitos detalhes e profundo conhecimento de causa os principais acontecimentos que marcaram a história do Paquistão desde a sua independência. E conclui: "O primeiro líder militar do Paquistão perdeu toda a popularidade devido a uma insurreição popular. O segundo foi assassinado. O que acontecerá a Musharraf? "

O General no seu Labirinto

Se há tema consistente nas memórias de Pervez Musharraf, é o já conhecido dogma militar de que o Paquistão se encontra muito melhor sob a condução do seu general, do que sob a condução dos seus políticos.

Por Tariq Ali, London Review of Books , 4 de Janeiro de 2007

O primeiro grupo de generais foi fruto do poder colonial que partia. Tinham sido ensinados a obedecer a ordens, a respeitar a estrutura de comando do exército a qualquer custo e a defender e a manter as tradições do exército britânico na Índia. Os burocratas que conduziram o Paquistão nos seus primeiros anos eram o produto dos processos de selecção imperiais, destinados a criar funcionários públicos incorruptíveis, sob uma máscara de objectividade. A cadeia de comando militar era ainda respeitada, mas o funcionalismo público consistia então, maioritariamente, em oportunistas impiedosamente corruptos. Funcionários públicos outrora leais ao estado imperial, hoje em dia cuidam das necessidades do exército.

O primeiro líder paquistanês a usar um uniforme, o General Khan, era um funcionário colonial treinado em Sandhurst. Tomou o poder em Outubro de 1958, com um forte apoio quer de Londres, quer de Washington. Ambos temiam que as primeiras eleições gerais, então projectadas, pudessem produzir uma coligação que levasse à retirada do Paquistão de pactos de segurança como o da Organização do Tratado do Sueste Asiático (SEATO), e que o conduzisse em direcção a uma política externa não alinhada.

Ayub baniu todos os partidos políticos, tomou os jornais da oposição e disse nas primeiras reuniões do seu gabinete: "Existe apenas uma embaixada relevante neste país: a Embaixada Americana." Num programa de rádio dirigido à nação, informou os seus confusos "caros compatriotas" de que "temos de compreender que a democracia não consegue funcionar num clima quente. Para termos democracia teríamos de ter um clima frio como a Grã-Bretanha."

Talvez tenham sido comentários deste cariz a explicar a popularidade de Ayub no Ocidente. Ayub tornou-se num dos grandes favoritos da imprensa na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. A sua aparência enganadora certamente encantou Christine Keeler (mergulharam juntos na piscina de Cliveden durante uma Conferência dos Primeiros Ministros da Commonwealth). Até o virtuoso Kingsley Martin, do New Statesman, publicou uma entrevista bajuladora. Enquanto isso, as vozes da oposição eram silenciadas e os prisioneiros políticos torturados, tendo Hasan Nasir, um comunista, sido morto.

Em 1962 - por esta altura já Ayub se tinha autopromovido a marechal de campo - decidiu que tinha chegado a altura de alargar a sua demanda. Trocou o uniforme por uma indumentária nativa e foi a uma reunião pública (uma concentração forçada de camponeses, convocada pelos proprietários), na qual anunciou a realização para breve de eleições presidenciais, na esperança que o povo o apoiasse. A administração organizou um partido político - a Liga Muçulmana - e os carreiristas depressa aderiram em massa.

As eleições realizaram-se em 1965 e as urnas tiveram de ser manipuladas, de forma a assegurar a vitória do Marechal. A sua opositora, Fátima Jinnah (irmã do fundador do país), levou a cabo uma campanha vigorosa e determinada, mas não teve qualquer hipótese. O punhado de burocratas que se recusou a "preparar" as eleições viu ser-lhe oferecida a reforma antecipada.

Já formalmente eleito, pensou-se que a publicação das suas memórias ajudaria à legitimação de Ayub. "Amigos, não Amos: uma Autobiografia Política" ["Friends Not Masters: a Political Autobiography"] surgiu pela Oxford em 1967. Teve uma grande aclamação da imprensa Ocidental e a imprensa doméstica, controlada pelo governo, saudou-a com uma histeria servilista.

O Secretário da Informação de Ayub, Altaf Gauhar, um habilidoso e cínico cortesão, tinha na verdade sido o autor material de um livro verdadeiramente terrível: indigesto, cru, verborreico e cheio de meias verdades. O livro esteve prestes a falhar a sua missão no Paquistão e em breve estaria a ser sadicamente satirizado em panfletos clandestinos nos campus universitários. Ayub sugeriu que os paquistaneses "deviam estudar o seu livro, compreendê-lo, e agir em consonância... contém matéria destinada ao bem do povo." Mais de 70 por cento da população era analfabeta e da restante apenas uma ínfima elite lia inglês.

Em Outubro de 1968, durante as pródigas celebrações comemorativas dos dez anos de ditadura como "uma década de desenvolvimento", estudantes em Rawalpindi exigiam a restauração da democracia. Em breve, comités de acção estudantil espalharam-se pelo país. O Estado respondeu com a sua usual brutalidade. Houve detenções em massa e ordens para "matar os desordeiros".

Vários estudantes morreram nas primeiras semanas. Nos dois meses que se seguiram, trabalhadores, advogados, pequenos empregados de lojas, prostitutas e mesmo funcionários do governo juntaram-se aos protestos. Cães vadios com "Ayub" pintado no lombo tornaram-se um alvo especial para os polícias armados. Em Março de 1969, Ayub transferiu o controlo do país para o General Yahya.

Yahya prometeu eleições livres dentro de um ano e manteve a palavra. As eleições universais de 1970 (as primeiras da história do Paquistão) resultaram numa vitória sensacional da Liga Awami, nacionalistas bengalis do Paquistão Oriental (hoje Bangladesh). Mas os bengalis ficaram insatisfeitos e por uma boa razão. O Paquistão Oriental, onde vivia a maioria da população, era tratado como uma colónia e os bengalis pretendiam um governo federal. A elite político-militar e económica era, no entanto, oriunda do Paquistão Ocidental e tudo o que viu na vitória da Liga Awami foi uma ameaça aos seus privilégios.

Zulfiqar Ali Bhutto, líder do Partido do Povo Paquistanês (PPP), que tinha triunfado na zona ocidental do país, devia ter negociado um acordo com os vencedores. Em vez disso fechou-se e ordenou ao partido que boicotasse uma reunião da nova assembleia, convocada para Dhaka, a capital do Paquistão Oriental.

Bhutto deu, assim, ao exército um espaço confortável para a preparação de um ataque militar. Yahya impediu que o líder da Liga Awami, Mujibur Rahman, formasse governo e em Março de 1971 enviou tropas para ocupar o Paquistão Oriental. "Graças a Deus, o Paquistão foi salvo", declarou Bhutto, alinhando-se com o que se seguiria.

Rahman foi preso e várias centenas de nacionalistas, intelectuais de esquerda, activistas e estudantes foram assassinados num massacre cuidadosamente preparado. A lista de vítimas tinha sido elaborada com a ajuda dos vigilantes islamistas, cujo partido, o Jamaat-e-Islami, tinha sofrido uma pesada derrota nas eleições. À matança seguiu-se uma campanha de violações em massa. Foi dito aos soldados que os bengalis eram relativamente recém-convertidos ao Islão e que, por isso, não eram "verdadeiros muçulmanos" - e os seus genes necessitavam de ser melhorados.

As atrocidades provocaram uma resistência armada e houve apelos de ajuda militar de Nova Deli, onde a Liga Awami tinha estabelecido um governo no exílio. Os indianos, receando que os refugiados bengalis pudessem desestabilizar a província indiana de Bengala Oriental e, sem dúvida pressentindo uma oportunidade, enviaram o exército, que foi aclamado como uma força de libertação.

Em quinze dias as tropas do Paquistão foram cercadas. O comandante, o General "Tigre" Niazi, escolheu a rendição à martirização e os seus camaradas, a centenas de quilómetros do campo de batalha, nunca lhe perdoaram. Em Dezembro de 1971, o Paquistão Oriental passou a Bangladesh e 90 mil soldados paquistaneses ocidentais acabaram em campos indianos de prisioneiros de guerra. Nixon, Kissinger e Mao tinham-se "voltado para o Paquistão" mas com muito poucos efeitos. Foi um desastre total para o exército paquistanês: a primeira época de governo militar tinha conduzido à divisão do país e à perda da maioria da sua população.

A Buhtto restou um exército derrotado e um Estado truncado. Havia sido eleito com um programa social-democrata que prometia alimentação, vestuário e habitação para todos, grandes reformas da terra e nacionalizações. Foi o único líder que o Paquistão alguma vez produziu que deteve o poder, apoiado pelas massas, para mudar o país e as suas instituições, incluindo o exército. Mas falhou em todas as frentes.

As nacionalizações apenas substituíram os homens de negócios sedentos de lucro por amigalhaços corruptos e burocratas domesticados. Uma vez que os latifundiários se tinham juntado para aderir ao partido, as reformas radicais prometidas para o país foram postas na prateleira. Os pobres sentiam instintivamente que Bhutto estava do seu lado (a elite nunca lhe perdoou), mas poucas medidas foram tomadas que justificassem tal confiança. Bhutto tinha um estilo de governo autoritário e o seu carácter pessoal vingativo era corrosivo.

Bhutto tentou lutar contra a oposição religiosa roubando-lhes as bandeiras: baniu a venda de álcool, tornou a sexta-feira num feriado público e declarou a seita Ahmediyya como sendo não-muçulmana (uma longa reivindicação da Jamaat-e-Islami que tinha, até então, sido desdenhada). Estas medidas não o ajudaram, tendo pelo contrário causado dano ao país, ao legitimar a política confessional. Apesar das suas preocupações quanto à oposição islamista, Bhutto teria provavelmente ganho as eleições de 1977 sem interferência do Estado, embora com uma maioria reduzida. Mas a manipulação foi tão flagrante que a oposição veio para as ruas e nem sequer o sarcasmo ou a argúcia de Bhutto tiveram qualquer efeito na moderação da crise.

Sempre um mau juiz de carácter, Bhutto tinha feito chefe das forças armadas um general júnior, zeloso e de vistas curtas, Zia-ul-Haq. Quando foi líder da missão paquistanesa de treino na Jordânia, o brigadeiro Zia tinha liderado o ataque de Setembro Negro contra os palestinianos, em 1970.

Em Julho de 1977, de forma a evitar um acordo entre Bhutto e os partidos da oposição que teria requerido novas eleições, Zia atacou. Bhutto foi preso, tendo ficado detido durante algumas semanas. Zia prometeu que as novas eleições se realizariam num prazo de seis meses, após o que os militares retornariam aos quartéis. Um ano mais tarde, Bhutto, ainda popular e acarinhado por grandes multidões para onde quer que fosse, foi novamente preso e desta vez acusado de homicídio, julgado e enforcado em Abril de 1979.

Durante os dez anos que se seguiram, a cultura política do Paquistão brutalizou-se. À medida que os chicoteamentos públicos (de jornalistas dissidentes, entre outros) e os enforcamentos se tornaram regra, o próprio Zia tornou-se num herói da Guerra Fria - em larga medida graças aos acontecimentos no Afeganistão.

A afinidade religiosa não teve qualquer efeito no mitigar da hostilidade dos afegãos para com o seu vizinho. A principal razão foi a Linha Durand, imposta aos afegãos em 1983, para assinalar a fronteira entre a Índia Britânica e o Afeganistão, e que dividiu a população pashtun da região. Cem anos depois (o modelo Hong Kong) tudo o que se veio a tornar na Província da Fronteira Noroeste da Índia Britânica era suposto reverter para o Afeganistão. No entanto, nenhum governo em Cabul alguma vez aceitou a Linha Durand mais do que aceitou o controlo britânico ou, mais tarde, paquistanês, sobre o território.

Em 1977, quando Zia chegou ao poder, 90 por cento dos homens e 98 por cento das mulheres no Afeganistão eram analfabetos. 45 por cento da terra cultivável era detida por apenas cinco por cento dos proprietários, e o país tinha o mais baixo rendimento per capita de toda a Ásia.

Nesse mesmo ano, os comunistas de Parcham, que tinham apoiado em 1973 o golpe militar do príncipe Daud, após o qual foi proclamada a república, retiram-lhe o seu apoio. Reuniram-se com outros grupos comunistas do Partido Democrático Popular do Afeganistão (PDPA) e iniciaram a agitação, com vista a um novo governo. Os regimes dos países vizinhos também se envolveram.

O Xá do Irão, dando eco às posições de Washington, recomendou acção firme - prisões em larga escala, execuções, tortura - e colocou à disposição de Daud unidades da sua agência de tortura. O Xá comunicou ainda a Daud que, se este reconhecesse a Linha Durand como fronteira permanente, daria ao Afeganistão três milhões de dólares e o Paquistão cessaria as suas acções hostis.

Entretanto, as agências de espionagem do Paquistão armavam os exilados afegãos, ao mesmo tempo que encorajavam os antigos levantamentos tribais exigindo a restauração da democracia. Daud esteve inclinado a aceitar a oferta do Xá, mas os comunistas organizaram um golpe preventivo e tomaram o poder em 1978. Washington entrou em pânico, que aumentou dez vezes quando se tornou claro que o Xá também estava prestes a ser deposto.

A ditadura do General Zia tornou-se então no ponto-chave da estratégia norte-americana para a região e foi por isso que Washington deu luz verde à execução de Bhutto e fez vista grossa ao programa nuclear do país. Os Estados Unidos pretendiam um Paquistão estável a qualquer custo.

Sabe-se agora que existiam planos para desestabilizar o PDPA (uma "armadilha", nas palavras do conselheiro de segurança nacional dos EUA, Zbigniew Brzezinski), na esperança de que os seus protectores soviéticos retrocedessem. Planos deste tipo fracassam muitas vezes, mas desta vez foram bem sucedidos. Em primeiro lugar, devido à debilidade dos próprios comunistas afegãos: tinham chegado ao poder através de um golpe militar que não tinha envolvido qualquer mobilização no exterior de Cabul e que no entanto tinha sido apregoada como uma revolução nacional. Em segundo lugar, a sua formação política estalinista tornava-os alérgicos a qualquer forma de responsabilização. Ideias como a de redigir uma carta de direitos democráticos ou de realizar eleições livres para uma assembleia constituinte nunca os tinham convencido.

Ferozes lutas entre facções levaram, em Setembro de 1979, a um tiroteio do estilo mafioso no palácio presidencial em Cabul. Durante este tiroteio o Primeiro Ministro Hafizullah Amin assassinou o Presidente Taraki a tiro.

Amin, um estalinista louco, achava que 98 por cento da população apoiava as reformas, mas os dois por cento que se lhe opunham tinham de ser liquidados. Em virtude disso, houve motins no exército e levantamentos em várias cidades, que desta vez nada tinham a ver com os americanos nem com o General Zia.

Finalmente, após duas decisões unânimes do Politburo contra a intervenção, a União Soviética mudou de ideias, alegando que tinha "nova documentação". Este assunto ainda está classificado, mas não me surpreenderia se as provas consistissem em falsificações sugerindo que Amin era um agente da CIA. O que quer que tivesse sido, o Politburo, com o voto contra de Yuri Andropov, tinha agora decidido enviar tropas para o Afeganistão. O objectivo era verem-se livres de um regime desacreditado, substituindo-o um outro ligeiramente menos repulsivo. Não vos soa familiar?

De 1979 até 1988, o Afeganistão foi o ponto focal da Guerra Fria. Milhões de refugiados atravessaram a Linha Durand e fixaram-se em campos e cidades da Província da Fronteira Noroeste. Armas e dinheiro, bem como jihadistas da Arábia Saudita, Argélia e Egipto, inundaram o Paquistão. Todas as principais agências de inteligência do Ocidente (incluindo israelitas) tinham gabinetes em Peshawar, perto da fronteira.

As taxas de câmbio do dólar no mercado negro e nos mercados oficiais eram exactamente as mesmas. As armas, incluindo mísseis Stinger, eram vendidas aos mujahedines pelos oficiais paquistaneses que pretendiam enriquecer rapidamente. O comércio de heroína florescia e o número de dependentes registado no Paquistão subiu de poucas centenas em 1977 para alguns milhões em 1987. Um dos bancos através do qual a máfia da heroína procedia à lavagem de dinheiro era o BCCI - cujo principal relações públicas no estrangeiro era um funcionário público reformado de nome Altaf Gauhar.

Entretanto, o Paquistão e a sua população definhavam. Durante o período em que Zia esteve no poder, o Jamaat-e-Islami, que nunca conquistou mais de cinco por cento de votos em qualquer zona do país, foi apadrinhado pelo governo. Os seus quadros iam sendo enviados para a luta no Afeganistão, o seu braço armado estudantil era enviado a aterrorizar campus em nome do Islão e os seus ideólogos eram uma presença constante na televisão.

Os Serviços de Inter-Inteligência [SII, serviços de inteligência paquistaneses] encorajavam à formação de outros grupos de Jihad, ainda mais extremistas, que perpetrassem actos de terror internamente e no exterior, e que criassem madrassas ao longo de todas as províncias de fronteira. Em breve também Zia precisou de ter o seu próprio partido político e a burocracia tratou de criar um: a Liga Muçulmana do Paquistão.

Com a subida de Mikahil Gorbachev em Março de 1985, tornou-se óbvio que a União Soviética aceitaria a derrota no Afeganistão e retiraria as tropas. Exigiria algumas garantias para os afegãos que abandonava e os Estados Unidos - a sua missão tinha sido bem sucedida - estavam preparados para aceitar. No entanto, o General Zia não. A guerra do Afeganistão tinha-lhe subido à cabeça (tal como com Osama Bin Laden e companheiros) e queria que a sua gente subisse ao poder. À medida que a retirada soviética se aproximava, Zia e os SII faziam planos para o estabelecimento do pós-guerra.

Foi então que Zia desapareceu. A 17 de Agosto de 1988, Zia levou cinco generais ao teste de um novo tanque americano Abrams M-1/A-1, num exercício militar perto de Bahawalpur. Presentes estavam também um general americano e o embaixador, Arnold Raphael. A demonstração não correu bem e toda a gente ficou de mau humor.

Zia ofereceu uma boleia aos americanos no seu avião C-130, especialmente construído para ele, que tinha até uma cabine selada para o proteger dos assassinos. Alguns minutos após a descolagem, o piloto perdeu o controlo e o avião despenhou-se no deserto. Não houve sobreviventes. Tudo o que restou de Zia foi o maxilar, que foi devidamente enterrado em Islamabad (a rotunda mais próxima ficou conhecida entre os taxistas como o "Rotunda do Maxilar").

As causas do acidente permanecem um mistério. Os arquivos nacionais americanos contêm 250 páginas de documentos, todos classificados. Os peritos da inteligência paquistanesa disseram-me, informalmente, que tinha sido uma vingança russa. A maioria dos paquistaneses culpou a CIA, tal como sempre fazem. O filho e a viúva de Zia murmuravam que tinha sido "a nossa própria gente" no exército.

Com o assassinato de Zia, terminou o segundo período de governo militar no Paquistão. O que se seguiu foi um longo prelúdio civil ao reinado de Musharraf. Durante dez anos, os membros das duas dinastias políticas - as famílias Bhutto e Sharif - administraram o país à vez.

Foi o Ministro do Interior de Benazir Bhutto, o General Naseerullah Babar, quem, com os SII, engendrou o plano de estabelecer os talibans como uma força político-militar que pudesse penetrar no Afeganistão. Esta iniciativa foi apoiada pela embaixada americana, embora de forma não muito entusiástica. Washington tinha perdido o interesse no Afeganistão e no Paquistão assim que a União Soviética retirou as tropas. Os talibans ("estudantes") eram filhos de refugiados afegãos e de famílias pathan pobres "educadas" nas madrassas nos anos oitenta. Forneciam as tropas de choque, mas eram liderados por uma mão-cheia de experientes mujahedines, entre os quais o Mullah Omar.

Por muito que o Mullah Omar preferisse esquecer, sem o apoio do Paquistão nunca teriam conseguido tomar Cabul. A facção de Omar era a dominante, mas os SII nunca perderam o controlo da organização por completo. Islamabad manteve-se calma mesmo quando os fanáticos afirmavam a sua independência através de ataques à embaixada paquistanesa em Cabul. Essa calma manteve-se até quando a polícia religiosa afegã interrompeu um jogo de futebol entre os dois países, porque os jogadores paquistaneses tinham cabelo comprido e usavam calções, tendo de seguida vergastado os jogadores perante a multidão atónita, enviando-os de volta a casa.

Depois da queda de Benazir, os irmãos Sharif voltaram ao poder. Mais uma vez, Shahbaz, o irmão mais novo e mais perspicaz, aceitou a disciplina familiar e Nawaz tornou-se primeiro-ministro. Em 1998, Sharif decidiu tornar Pervez Musharraf comandante das forças armadas, preferindo-o ao General sénior Kuli Khan (que foi meu colega em Lahore). O raciocínio de Sharif pode ter sido o de que Musharraf, oriundo da classe média e tendo sido refugiado como o próprio Sharif, seria mais facilmente manipulado do que Ali Kuli, que vinha de uma família patham da Província da Fronteira Noroeste. Qualquer que tenha sido o raciocínio, provou-se errado.

Sob a influência de Bill Clinton, Sharif tentou uma reaproximação à Índia. Foram negociados acordos de trânsito e de comércio, as fronteiras terrestres foram abertas e os voos recomeçaram. No entanto, antes que a fase seguinte pudesse ter sido alcançada, o exército paquistanês começou a reunir-se no sopé dos Himalaias. Os SII alegaram que o glaciar Siachen em Caxemira tinha sido ilegalmente ocupado pelos indianos e os indianos alegavam o contrário.

Após a luta que se seguiu, nenhum dos lados pôde proclamar vitória, mas as baixas foram pesadas, especialmente do lado indiano (Musharraf exagera no "triunfo" paquistanês). Foi acordado um cessar-fogo e cada um dos exércitos voltou ao seu lado da Linha de Controlo.

Afinal, onde é que a guerra teve lugar? Em privado, os irmãos Sharif diziam que o exército se opunha à sua política de amizade com a Índia e que estava determinado a sabotar o processo: o exército tinha agido sem receber autorização do governo. Nas suas memórias, Musharraf insiste que o exército manteve o primeiro-ministro informado através de briefings em Janeiro e Fevereiro de 1999.

Qualquer que seja a verdade, Sharif comunicou a Washington que se tinha visto no meio de uma guerra que não desejava e, pouco tempo depois, a família Sharif decidiu livrar-se de Musharraf. Constitucionalmente, o primeiro ministro tinha o poder de destituir o chefe das forças armadas e designar um novo, tal como Zulfiqar Ali Bhutto tinha feito na década de 70, quando nomeou Zia. No entanto, nessa altura o exército era fraco, estando dividido e derrotado, e definitivamente não era este o caso em 1999.

O candidato de Sharif para a sucessão a Musharraf foi o General Ziauddin Butt, chefe dos SII e maioritariamente visto como corrupto e incompetente. Foi enviado a Washington para aprovação e diz-se que aí prometeu a cabeça de Bin Laden numa bandeja.

Se Sharif tivesse apenas destituído Musharraf, ainda podia ter tido alguma hipótese de sucesso. No entanto, o que lhe faltava em bom senso sobrava ao irmão em perfídia. Será que os irmãos Sharif eram assim tão insensatos para achar que o exército não estava a par das suas intrigas, ou será que se iludiram com a sua crença na omnipotência americana? Clinton bem os avisou que Washington não toleraria um golpe militar no Paquistão e eu lembro-me de me ter rido quando esta era uma das questões centrais nas relações entre os EUA e o Paquistão. Sharif fiou-se demasiado no aviso de Clinton.

O que se seguiu foi um episódio tragicómico, muito bem descrito no livro de Musharraf. Ele e a mulher regressavam do Sri Lanka num voo de passageiros normal, quando o piloto recebeu instruções para não aterrar. Enquanto o avião ainda pairava em círculos sobre Karachi, Nawaz Sharif notificou o General Bhutt e, em frente a uma equipa de televisão, ajuramentou-o como o novo chefe das forças armadas.

Entretanto, vivia-se o pânico no avião de Musharraf, já quase sem combustível. Musharraf conseguiu estabelecer contacto com o comandante da guarnição de Karachi, o exército tomou o controlo do aeroporto e o avião aterrou em segurança. Ao mesmo tempo, as unidades militares cercaram a casa do primeiro-ministro em Islamabad e prenderam Nawaz Sharif. O General Zia tinha sido assassinado num voo militar. Musharraf tomou o poder a bordo de um avião de passageiros.

Foi então que começou o terceiro extenso período de governo militar no Paquistão, inicialmente saudado por todos os opositores políticos de Nawaz Sharif e por muitos dos seus companheiros. "Na Linha de Fogo" [a autobiografia de Musharraf] fornece uma versão oficial de tudo o que se passou no Paquistão durante os seis anos seguintes, embora destinando-se intencionalmente aos olhos ocidentais.

Ao passo que Altaf Gauhar injectou absurdos de todo o género nas memórias de Ayub, já o seu filho, Humayun Gauhar, que editou o livro de Musharraf, evitou as armadilhas mais óbvias. O estilo de vida não muito reputável do general é escamoteado, mas há muita coisa no livro que indica que o general não se inclinava propriamente para as obrigações sociais ou religiosas.

O ajuste de contas com os inimigos a nível interno é cruel e por qualquer razão o livro causou bastante polémica no Paquistão. Uma forte controvérsia irrompeu nos média, coisa que nunca teria sido possível nos anteriores períodos de governo militar. Os ex generais produziram críticas sarcásticas (a réplica de Ali Kuli Khan foi publicada na maior parte dos jornais), bem como os políticos da oposição e peritos de todo o género.

De facto, houve mais interferência estatal nos media durante o regime de Nawaz Sharif do que durante o de Musharraf. Além disso, o nível de debate é muito maior do que na Índia, onde a obsessão da classe média pelas compras e pelas celebridades levou a uma banalização da televisão e da maior parte da imprensa escrita.

Quando Musharraf tomou o poder em 1999, recusou-se a mudar de casa. Preferiu o seu bungalow acolhedor e colonial em Rawalpindi ao conforto kitsch da residência presidencial em Islamabad, cuja mobília dourada e decoração sem qualquer gosto tinha mais a ver com a opulência do Golfo do que com a tradição local.

Sendo perto uma da outra, as duas cidades são muito diferentes. Islamabad, estendendo-se numa paisagem recortada junto ao sopé Himalaias, foi construída na década de 60 pelo General Ayub. O General pretendia uma nova capital, longe das nuvens ameaçadoras, mas perto do quartel-general em Rawalpindi, que tinha sido construída pelos britânicos como cidade militar. Após a partição, Rawalpindi tornou-se o local óbvio para localizar os quartéis militares do novo Paquistão.

Uma das expedições coloniais britânicas do séc. XIX para a conquista do Afeganistão (todas com um final desastroso) foi planeada em Rawalpindi. Foi também a partir daí, um século e meio mais tarde, que a Jihad abençoada por Washington foi lançada contra os indefesos comunistas afegãos. E foi também aí que, em Setembro de 2001, foi discutido e acordado que os EUA utilizariam o Paquistão para as suas operações militares no Afeganistão. Foi uma decisão crucial para os chefes do exército, uma vez que significava abdicar do seu único triunfo externo: a colocação dos talibans em Cabul.

O trânsito intenso faz com que o percurso de cerca de dezasseis quilómetros entre Islamabad e Rawalpindi seja tortuoso, a não ser que se seja o presidente e que a auto-estrada tenha sido limpa por batedores. Mesmo assim, tal como este livro revela com algum detalhe, as tentativas de assassínio podem dar cabo de qualquer horário.

A primeira ocorreu a 14 de Dezembro de 2003. Momentos após a caravana do General ter atravessado uma ponte, uma poderosa bomba explodiu, tendo a ponte ficando quase totalmente destruída, embora sem feridos. A limousine blindada, equipada com radar e dispositivo anti-bomba, cortesia do Pentágono, salvou a vida a Musharraf.

A sua reacção na altura surpreendeu os observadores. Diz-se que se manteve calmo e alegre, fazendo alusões jocosas acerca da vida em tempos de perigo. Como era de esperar, a segurança tinha sido elevada - duplos, mudanças de rota de última hora, etc. - mas nem isso evitou uma nova tentativa de ataque uma semana mais tarde, no dia de Natal.

Desta vez, dois homens ao volante de carros carregados de explosivos estiveram perto de alcançar sucesso. O carro do presidente ficou danificado, morreram guardas nos carros que o escoltavam, mas Musharraf não ficou ferido. Uma vez que o seu percurso exacto e a hora de saída de Islamabad eram segredos muito bem guardados, calcula-se que os terroristas tenham tido acesso a informação interna e privilegiada. Se o staff de alguém inclui islamistas furiosos que o vêem como um traidor, tal como relata o general nas suas memórias, só Alá o poderia proteger. Alá terá sido certamente gentil com Musharraf.

Os culpados foram descobertos e torturados até revelarem os detalhes do plano. Alguns oficiais militares juniores também estiveram envolvidos. Os principais agentes foram julgados em segredo e enforcados. O alegado mentor, um jihadista extremista de nome Amjad Farooqi, foi abatido pelas forças de segurança.

Duas questões assombraram Washington e os companheiros de Musharraf: quantos dos envolvidos continuavam por detectar, e quais as hipóteses de sobrevivência da estrutura de comando se um terrorista atingisse realmente os seus objectivos?

Musharraf não parecia preocupado e adoptou um tom garboso, orgulhoso até. Antes do 11 de Setembro era tratado no estrangeiro como um pária e a nível interno cercado de problemas. Seria possível fortalecer o espírito de um alto comando enfraquecido pela devoção e pela corrupção? Como seria possível lidar com a corrupção e com os desfalques que tinham sido característica dominante dos governos de Sharif e de Bhutto?

Benazir Bhutto já se encontrava num auto-exílio no Dubai e os irmãos Sharif tinham sido presos. No entanto, antes que pudessem ter sido acusados, Washington organizou uma oferta de exílio da Arábia Saudita, um estado cuja família no poder tinha institucionalizado a pilhagem de fundos públicos.

O diligente apoio de Musharraf a Washington, após o 11 de Setembro, fez com que tivesse sido amplamente apelidado de "Busharraf" e foi este o facto que esteve por detrás dos atentados à sua pessoa (em Março de 2005 Condoleeza Rice descreveu as relações entre os EUA e o Paquistão a partir do 11 de Setembro como "amplas e profundas").

Não tinha Musharraf já retirado ao Paquistão uma vitória militar com vista a agradar a Washington? O general Mahmood Ahmed, que dirigia os SII, estava em Washington a convite do Pentágono, a tentar convencer a Agência de Inteligência da Defesa de que o Mullah Omar era boa pessoa e de que poderia ser convencido a delatar Obama, quando decorreram os ataques do 11 de Setembro.

Não custa a acreditar que os seus ouvintes se tenham petrificado ao ouvir isto. Musharraf conta que só aceitou ser um enviado de Washington porque o patrão do Departamento de Estado, Richard Armitage, tinha ameaçado bombardear o Paquistão até não deixar pedra sobre pedra, caso o não fizesse. O que realmente preocupava Islamabad, no entanto, era uma ameaça que Musharraf não menciona: se o Paquistão tivesse recusado, os EUA teriam usado as bases indianas.

Musharraf era inicialmente popular no Paquistão e poderia ter conseguido deixar uma marca no país. Bastaria que tivesse levado a cabo as reformas destinadas a assegurar educação universal para as crianças (com o inglês como segunda língua obrigatória) e instituísse a reforma agrária, que teria acabado com o monopólio das famílias ricas sobre largas fatias da terra, entre outras. Bastaria também que tivesse tentado lidar com a corrupção geral e nas forças armadas. Para além disso, deveria ter posto um fim às incursões jihadistas a Caxemira e ao Paquistão como prelúdio de um acordo duradouro com a Índia.

No entanto, em vez disso imitou apenas os seus predecessores militares. Tal como eles, despiu o uniforme, foi a uma concentração organizada pelos donos de grandes parcelas em Sind e entrou na política. O seu partido? A perene Liga Muçulmana. Os seus apoiantes? Peças do sistema corrupto que o próprio tinha tão vigorosamente denunciado e cujo líder estava a ser processado. O primeiro-ministro? Shaukat Aziz, anterior executivo sénior do Citibank, com estreitas ligações ao oitavo homem mais rico do mundo, o príncipe saudita Al-Walid bin Talal. À medida que se tornou claro que nada iria mudar, uma onda de cinismo inundou o país.

Musharraf é melhor do que Zia e Ayub em muitos aspectos, mas os grupos de direitos humanos verificaram um aumento agudo de "desaparecimentos" de activistas políticos: 400 só nesse ano, incluindo os nacionalistas de Sindhi e um total de 1200 na província do Baluchistão, onde o exército voltou a estar pronto a disparar ao mínimo incidente. A "guerra ao terror" deu a muitos líderes a oportunidade de pôr na ordem os seus opositores, mas isso em nada melhorou a situação.

No seu livro, Musharraf expressa também a sua aversão aos extremistas religiosos e lamenta a morte de Daniel Pearl. Sugere que um dos responsáveis, o antigo estudante da London School of Economics, Omar Saeed Sheikh, era um recruta dos MI6 [nome pelo qual também são conhecidos os Serviços Secretos Britânicos], enviado para lutar contra os sérvios na Bósnia. Os guerrilheiros da Al-Qaeda também para lá tinham sido enviados (com a aprovação dos EUA), Sheikh entrou em contacto com eles e tornou-se num agente duplo.

Neste momento Sheikh está numa cela no corredor da morte de uma prisão paquistanesa. Conversa amigavelmente com os guardas e envia e-mails aos editores de jornais no Paquistão, dizendo-lhes que, caso seja executado, os documentos que deixa serão publicados, expondo a cumplicidade de mais envolvidos. Talvez seja um bluff, ou talvez o Sheikh fosse um agente triplo e também estivesse a trabalhar para os SII.

No próximo ano haverá eleições e há bastantes rumores de que Musharraf está a oferecer um acordo ao Partido do Povo, de Benazir Bhutto, mas um acordo que a exclua. Alguns anos atrás, Benazir podia ser avistada no Foggy Bottom, esperando tristemente para implorar a um funcionário do Departamento de Estado da secção da Ásia do Sul o apoio dos EUA. Tudo o que pretendia era uma posição num gabinete de Musharraf, para que pudesse manter a sua presença na cena política. Musharraf está agora muito mais fraco e Benazir pode decidir não negociar, mas sim lutar por algo melhor.

E depois há também o Afeganistão. Apesar do falso optimismo de Blair e dos seus amigos da Nato, toda a gente sabe que a situação está num caos total. Os talibans, revitalizados, estão a ganhar popularidade através da sua resistência à ocupação. Os helicópteros e os soldados da Nato matam milhares de civis e descrevem-nos como "guerrilheiros talibans".

Hamid Karzai, o homem dos xailes bonitos, é visto como um fantoche sem qualquer esperança, totalmente dependente das tropas da Nato. Antagonizou-se quer com os pashtuns, que se estão a voltar para os talibans em larga escala, quer com os senhores da guerra da Aliança do Norte, que o denunciam abertamente e dão a entender que já é tempo de ser enviado de volta para os Estados Unidos.

No Afeganistão ocidental, a única influência que preservou um certo grau de estabilidade foi a iraniana. Se Ahmedinejad tivesse de lhe retirar o apoio, Karzai não duraria mais de uma semana. Islamabad espera e observa. Os estrategas militares estão convencidos de que os EUA já perderam o interesse e que a Nato estará prestes a partir. Se isso acontecer, não é provável que o Paquistão permita que a Aliança do Norte tome Cabul. O seu exército avançará novamente.

Um veterano paquistanês das guerras afegãs brincava comigo: "Da última vez mandámos avançar os barbudos, mas os tempos mudaram. Desta vez, inshallah, vamos vesti-los com fatos Armani para parecerem bem nas televisões americanas". A região permanece paralisada. O primeiro líder militar do Paquistão perdeu toda a popularidade devido a uma insurreição popular. O segundo foi assassinado. O que acontecerá a Musharraf?

Tradução de Carla Luís

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Neste dossier:

Dossier Paquistão

Em Abril, o conhecido jornalista do britânico The Independent Robert Fisk, numa entrevista a um jornal egípcio, afirmou que é o Paquistão, não o Irão ou o Iraque, que serve de verdadeiro barómetro para o futuro do Médio Oriente. Porquê? Porque é um país em profunda convulsão, que tem armas nucleares e uma forte influência sobre o futuro do Afeganistão. Um mês depois, a crise do Paquistão agravou-se consideravelmente, e no dia 12 de Maio, 37 pessoas morreram em confrontos entre apoiantes do governo e da oposição na cidade de Karachi.

Quatro vídeos do Paquistão

Divulgamos aqui quatro vídeos do Paquistão.
Dois deles são sobre os protestos dos advogados, em Março e Abril deste ano, que se seguiram ao afastamento do presidente do Supremo Tribunal pelo presidente da República, Perez Musharraf.
O terceiro vídeo é sobre a visita do presidente do supremo a Karachi em Maio passado, quando não lhe foi permitido sair do aeroporto e em que, nos confrontos que se seguiram, morreram 37 pessoas e 150 ficaram feridas.
Por fim, um vídeo de propaganda do exército dos anos 80 e 90.

Amnistia denuncia Islamabad por sequestrar centenas

Entidade de direitos humanos acusa o país, aliado dos EUA na "guerra contra o terrorismo", de prender e interrogar sem acusações, em colaboração com americanos. Muitos são entregues aos EUA e levados para a base militar de Guantánamo, em Cuba, ou para centros secretos de detenção.

O General no seu Labirinto

Neste longo artigo publicado na London Review of Books, o editor da New Left Revew Tariq Ali, escritor, jornalista e activista político paquistanês estabelecido no Reino Unido, descreve com muitos detalhes e profundo conhecimento de causa os principais acontecimentos que marcaram a história do Paquistão desde a sua independência. E conclui: "O primeiro líder militar do Paquistão perdeu toda a popularidade devido a uma insurreição popular. O segundo foi assassinado. O que acontecerá a Musharraf? "

A saída de Musharraf

Na crise que evolui rapidamente no Paquistão, aconteça o que acontecer, o presidente Pervez Musharraf - sobreviva politicamente ou não - é um peso morto. Não consegue controlar a talibanização do Paquistão ou conduzir o país a um futuro mais democrático.

Entre o Império e os talibans

Um ano eleitoral complexo expõe as ambiguidades de um dos países mais populosos do mundo. Aliado estratégico dos EUA desde o 11 de Setembro, o presidente Musharraf busca um difícil equilíbrio, que inclui laços com o islamismo extremista e relação especial com os generais.

A crise do regime é muito profunda

No final de Março, Jim McIlroy, do [jornal australiano] Green Left Weekly, falou com Farooq Tariq, Secretário Geral do Partido Trabalhista Paquistanês, em Lahore. O PTP é uma organização socialista revolucionária que trabalha juntamente com outras forças com o intuito de pôr fim à ditadura do general Pervez Musharraf, enquanto procura unir trabalhadores, camponeses, mulheres e jovens na luta para instituir o socialismo no Paquistão. A entrevista teve lugar no meio de uma campanha de advogados e respectivos apoiantes para recolocar no cargo o entretanto suspenso Chefe de Justiça do Supremo Tribunal do Paquistão, Iftikhar Mohammad Chaudhry.

General versus juiz

O Paquistão que faz 60 anos este Agosto esteve sob regime militar de facto durante exactamente metade da sua vida. Os líderes militares estiveram normalmente limitados a ciclos de dez anos: Ayub Khan (1958-69), Zia-ul-Haq (1977-89). O primeiro foi derrubado por uma insurreição nacional que durou três meses. O segundo foi assassinado. De acordo com este calendário político, Pervez Musharraf ainda tem um ano e meio para partir, mas às vezes acontecem coisas.