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Não deve haver lua-de-mel com Obama
A primeira coisa a dizer é que não devia haver lua-de-mel. Os democratas já detêm a maioria na Casa e no Senado há dois anos, e no entanto continuam a financiar a ocupação do Iraque, a permitir escutas telefónicas sem mandatos, a expandir o orçamento militar.
Por Anthony Arnove
Mas os Democratas já não podem mais usar a desculpa de Bush, e a necessidade de ganhar a Casa Branca para continuar a desafiar o emergente desejo de mudança. Isso significa que temos de desafiar Obama desde o primeiro dia em que tome posse, com protestos públicos e mobilização.
Em segundo lugar, temos de insistir que a posição de Obama "não digamos mas faremos" (let's not and say we did) sobre a retirada do Iraque é inaceitável. Retirada significa retirada, não o remanejamento de algumas tropas no Afeganistão enquanto se deixam dezenas de milhar de tropas para "contra-insurgência", mantendo as bases militares a longo prazo, estabelecendo a maior estação no estrangeiro da CIA e a embaixada dos EUA em Bagdad, e permitindo que fiquem mercenários.
Não podemos deixar que o Iraque caia no esquecimento, fora das manchetes, e aceitar uma reformulação da ocupação como solução.
Em terceiro lugar, temos de esclarecer que o problema com a designada Doutrina de Bush de guerra preventiva não foi mal aplicada, mas que é errada nos seus princípios. Temos de pressionar Obama a renunciar - o que até agora não se verificou - à mudança de regime no Irão e ao direito de atacar países como a Síria e a Somália à vontade.
Isto aplica-se aos aliados das Nações Unidas, tais como Israel, a quem este poder obsceno foi estendido (juntamente com o direito de manter um arsenal de armas nucleares, como outros aliados da ONU que não assinaram o Tratado de Não Proliferação Nuclear, Índia e Paquistão, ao contrário do Irão).
Por fim, temos de dizer a Obama que queremos o fim da Guerra Ideológica contra árabes e muçulmanos, imigrantes, e os ultrajantes poderes que, de acordo com o executivo, podem ser utilizados para deter e torturar, a utilização de provas secretas, a prisão de pessoas na Baía de Guantánamo ou em prisões no Afeganistão e Iraque.
Guantánamo deveria ser imediatamente encerrado e o território completamente devolvido a Cuba.
Raptos e torturas deviam ser abandonados sem apelo. Os EUA deviam pôr fim ao seu desafio à convenção internacional sobre violência contra crianças (protegendo o direito de executar menores) e sobre a utilização de minas anti-pessoais e bombas de fragmentação (cluster munitions), bem como armas nucleares (a nova geração das designadas "mini-nukes").
Agora não é tempo para "bi-partidarismos". Já vimos demais essa história. O bi-partidarismo conduziu a todos os problemas com os quais nos defrontamos presentemente, com a cumplicidade e, em muitos casos, total apoio dos democratas. Agora é tempo para uma ruptura radical.
Mas não devemos, por um segundo, esperar que Obama faça isto por iniciativa própria. Nada na sua carreira ou nas suas declarações políticas - ou nas lições da nossa História - nos deve levar a supor tal facto.
Devemos antes esperar que Obama governe de acordo à direita das suas promessas eleitorais, não à esquerda. No século passado, vimos dois presidentes legislar à esquerda das políticas que advogavam como candidatos: Franklin Roosevelt e Richard Nixon. A razão disto não se explica pelas suas características pessoais, mas pelo facto de ambos se confrontarem com massivos movimentos sociais que desestabilizaram as políticas rotineiras e forçaram que ocorressem mudanças democráticas inesperadas, vindas de baixo.
Anthony Arnove é o autor de Iraq: The Logic of Withdrawal (Iraque: a lógica da retirada) e está também no quadro da Haymarket Books.
Tradução de Joana Valdez
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