Está aqui

Mélenchon: “Um acordo forçado que não devemos apoiar”

“O Governo de Alexis Tsipras resistiu de pé como nenhum outro na Europa. Devemos-lhe solidariedade”, contudo, “nada nos pode obrigar a participar na violência que lhe estão a infligir”, destacou Jean Luc Mélenchon poucos dias após a cimeira de Bruxelas.

“’Uma pistola na têmpora’, segundo as suas próprias palavras. Tsipras assinou um ‘compromisso’. Em seguida, as trombetas elogiosas lançaram a tradicional propaganda governamental para celebrar o papel de facilitador de Hollande, a força da ‘dupla franco-alemã’ e para repetir os tópicos, os mantras e as anedotas habituais dos ‘euro-idólatras’”, escreve Mélechon num artigo de opinião publicado no seu blogue, sublinhando que “a crua realidade está, uma vez mais, a anos-luz das pseudo análises dos comentadores”.

“Em todas as telas a mesma imagem: Angela Merkel em frente a Alexis Tsipras flanqueado por Donald Tusk e François Hollande. Um espectáculo inaceitável. Não só para um francês, para o qual é lamentável ver-se desse lado da mesa. Mas sobretudo para um europeu. Porque essa reunião converteu-se, sem nenhuma crítica dos comentaristas, numa ‘instância’ sem nenhuma legitimidade”, avança.

Jean-Luc Mélenchon questiona o valor de uma negociação na qual “a parte grega não era livre, o país estava bloqueado economicamente há quinze dias”, lembrando que alguns periódicos alemães, como o Spiegel, qualificam ao acordo de “catálogo de crueldades” e o diário L’Humanité fala de “a fria ditadura alemã”.

“O Governo de Alexis Tsipras resistiu de pé como nenhum outro na Europa. Agora tem que aceitar uma trégua na guerra que está a travar. Devemos-lhe solidariedade”, avança o político francês destacando, contudo, que “nada nos pode obrigar a participar na violência que lhe estão a infligir”.

“Se eu fosse deputado não votaria esse acordo em Paris. Seria a minha maneira de condenar a guerra contra a Grécia”, assegura, defendendo que em França devem “condenar de todas as formas possíveis os sacrifícios que exigem aos gregos e a violência que lhes impõem”.

“Há que apoiar Tsipras e não nos unirmos à matilha dos que o querem despedaçar e se fazem cúmplices do golpe de Estado contra ele e os gregos. Mas não há que apoiar o acordo para não legitimar a violência que este impõe e prolonga”, remata.

(...)

Neste dossier:

A Europa da chantagem e o ultimato à Grécia

O acordo imposto em Bruxelas a Alexis Tsipras veio mostrar aos europeus que a democracia vale zero para quem toma decisões nos corredores do Eurogrupo. O povo grego vai continuar a pagar a permanência no euro com a receita recessiva prescrita pela Alemanha.

Dossier organizado por Luís Branco.

Democracia contra o colonialismo financeiro

Leia aqui a resolução aprovada na reunião da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda a 26 de julho sobre as consequências da cimeira da zona euro e a solidariedade com a luta contra a ocupação financeira da Grécia.

Vozes da direita juntam-se às críticas a Bruxelas

Em Portugal, não foram apenas os partidos à esquerda do PS a insurgirem-se contra a chantagem de Bruxelas e Berlim ao povo grego. Ex-governantes e comentadores políticos nos antípodas destes partidos também criticaram a “humilhação” que os líderes políticos europeus procuraram infligir ao governo da esquerda grega.

Leia aqui o "acordo" de Bruxelas (anotado por Varoufakis)

O ex-ministro das Finanças grego decidiu dar a conhecer as suas notas pessoais sobre o texto que serviu de acordo em Bruxelas e no qual, poucos dias depois, já quase ninguém diz acreditar.

Discurso de Zoe Konstantopoulou a favor do NÃO ao acordo imposto pelos credores

A presidente do Parlamento grego e uma das figuras mais populares do Syriza votou contra os dois pacotes de medidas prévias à negociação do terceiro memorando. No discurso de 15 de julho, Zoe Konstantopoulou diz não ter dúvidas de que "Alexis Tsipras foi chantageado com a sobrevivência do seu povo".

O “acordo” visto do interior do Syriza

Quando Alexis Tsipras regressou de Bruxelas com um acordo em que diz não acreditar e ter resultado da chantagem europeia, encontrou o partido dividido entre a estupefação e a revolta.

Habermas: “Governo alemão assumiu-se como chefe disciplinador da Europa”

Nesta entrevista ao Guardian, o filósofo alemão Jürgen Habermas fala sobre o acordo imposto à Grécia, considerando-o “um ato de punição de um governo de esquerda”. E defende que as medidas exigidas são uma “mistura tóxica de reformas” que irão “matar qualquer ímpeto de crescimento” na Grécia.

Stiglitz: Acordo sobre Grécia é "punitivo e uma estupidez cega”

Segundo o ex economista chefe do Banco Mundial e prémio Nobel da Economia, a Alemanha “não tem nenhum bom senso económico e nenhuma solidariedade”. Joseph Stiglitz  defendeu uma transformação radical da arquitectura financeira mundial. 

Vicenç Navarro: “Europa como ponto de referência mundial desapareceu”

“A Europa ponto de referência mundial para aqueles que desejam viver em países democráticos e justos desapareceu”, defende o sociólogo e politólogo espanhol. No seu artigo, Navarro denuncia a enorme manipulação dos media espanhóis e alemães no que respeita à chantagem e ao ultimato a que foi sujeita a Grécia.

Mélenchon: “Um acordo forçado que não devemos apoiar”

“O Governo de Alexis Tsipras resistiu de pé como nenhum outro na Europa. Devemos-lhe solidariedade”, contudo, “nada nos pode obrigar a participar na violência que lhe estão a infligir”, destacou Jean Luc Mélenchon poucos dias após a cimeira de Bruxelas.

O “plano Grexit” da Alemanha

O plano de Wolfgang Schäuble de expulsão da Grécia do euro, dado a conhecer na reunião do Eurogrupo de 11 de julho, impõe que o país entregue bens no valor de 50 mil milhões a um fundo para abater a dívida, sob a ameaça de mandar a Grécia para um “intervalo da zona euro” pelo menos até 2021. Aparentemente tem a cobertura de Angela Merkel e do vice-chanceler Sigmar Gabriel, líder do SPD.

Tsipras: “Ameaça de Grexit só acaba com a assinatura do programa”

No dia seguinte à assinatura do acordo, o primeiro-ministro grego recusou o cenário de eleições antecipadas, afirmando que assinou um acordo em que não acredita para evitar o desastre inscrito no plano dos “conservadores extremistas europeus”. Até à assinatura final do programa nenhum cenário está fechado, avisa.

Varoufakis abre o livro: “Você até tem razão, mas vamos esmagar-vos à mesma”

Na primeira entrevista após deixar o Ministério das Finanças, Varoufakis revela que defendeu a emissão de moeda alternativa como resposta à asfixia dos bancos, fala da “completa falta de escrúpulos democráticos por parte dos supostos defensores da democracia na Europa” e acusa os governos de Portugal e Espanha se serem “os mais enérgicos inimigos do nosso governo”.