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Linha do Tua: os acidentes e a barragem
No dia 22 de Agosto de 2008 um novo acidente na Linha do Tua causou mais uma morte. Foi o quarto acidente em cerca de ano e meio, levantando dúvidas e suspeitas sobre as condições de manutenção da linha. A previsível construção da barragem que vai deixar submersa pelo menos uma parte da Linha do Tua é contestada por cidadãos e movimentos, e apontada como uma das razões que pode estar na origem do "desleixo" com que governo e autoridades têm tratado este assunto.
A linha do Tua tem uma extensão de 60 quilómetros e é o único troço ferroviário do nordeste transmontano, depois da desactivação de diversas linhas na década de 1990, fazendo a ligação com a linha do Douro. Todos os dias é procurada por dezenas de pessoas, aumentando o seu número nos meses de verão devido ao turismo.
No dia 22 de Agosto de 2008, uma mulher de 47 anos morreu em mais um acidente nesta Linha, provocado pelo descarrilamento de uma carruagem que transportava 48 pessoas. Pelo menos outras dez pessoas ficaram feridas com gravidade, naquele que foi o quarto acidente no último ano e meio. O mais grave, em Fevereiro de 2007, fez três vítimas mortais, tendo sido o primeiro acidente fatal numa linha com 120 anos de história. A Linha acabaria por ficar encerrada e apenas reabriu em Março de 2008, depois de estudos e trabalhos de segurança que levantaram algumas suspeitas de "desleixo e desinteresse" denunciadas pelo Movimento Cívico em Defesa da Linha do Tua.
O relatório preliminar do acidente de 22 de Agosto foi entregue seis dias depois ao ministro das Obras Públicas, tendo sido incapaz de determinar as causas do descarrilamento.
Dois meses depois, um relatório elaborado por peritos da Faculdade de Engenharia do Porto chegou à conclusão que na origem do acidente estava o desnivelamento dos carris, associado ao excesso de rigidez dos amortecedores da automotora. Depois de várias filmagens da passagem de comboios no local, ter-se-á verificado que uma das rodas da automotora ficava no ar por alguns décimos de segundo, revelando o empeno da via.
Quanto às causas para este abatimento, o relatório não tira conclusões definitivas, embora refira a falta de investimento na via e a abertura duma vala pela Refer a quinze metros do local, para instalar um cabo de fibra óptica dois meses antes do acidente.
"Estarrecidos" foi a expressão utilizada pelo Movimento Cívico pela Linha do Tua para definir a sua reacção ao relatório do acidente. "A linha já foi alvo de estudos no ano 2000, e teve onze meses de estudos após o acidente de 12 de Fevereiro de 2007. Não queremos que se transforme a Linha do Tua numa nova Entre-os-Rios, onde se estudam e identificam as potenciais causas de problemas e respectivas soluções, para depois não as corrigir/implementar" sustentou o movimento.
As várias entidades responsáveis pela manutenção da linha tambén não escaparam às críticas: "Da proprietária da linha, a REFER, continuamos a esperar investimento e melhoramentos sérios, apagando futuramente da memória uma Linha do Tua com erros estruturais "grosseiros"". E sobre a CP, dizem que o seu silêncio "é incómodo, visto ter retirado em 2001 material mais pesado e com mais capacidade da carga que ou foi posteriormente vendido ou simplesmente abandonado".
Os sucessivos erros grosseiros e falhas de avaliação sobre o estado de conservação da Linha do Tua levaram também o Bloco de Esquerda a visitar o local e a pedir por várias vezes a audição do Ministro das Obras Públicas no Parlamento. A deputada Helena Pinto exigiu o apuramento de responsabilidades políticas no desinvestimento na linha do Tua. "Em Outubro de 2006 foi aprovado um plano de investimentos para esta linha e é necessário questionar da responsabilidade deste investimento não ter sido executado como devia ter sido", afirmou, acrescentando que Mário Lino tem que explicar "em que condições pretende reabrir a linha, em Março de 2009".
Um dos factores que tem contribuído para o clima de suspeição em torno da Linha do Tua é que parte do seu trajecto encontra-se neste momento ameaçado de submersão pela albufeira prevista para a Barragem do Tua, já adjudicada à EDP. Se for concretizada a construção, será submersa parte da linha, deixando-a isolada da restante rede nacional ferroviária e tornando-a inviável.
No entanto, no início do mês de Outubro, a EDP anunciou adiamento do início da construção da barragem para meados de 2010, devido à necessidade de introduzir novos elementos no Estudo de Impacte Ambiental, cedendo parcialmente às reivindicações de cidadãos e movimentos que se opõem àquela obra por ter consequências ambientais e humanas graves, numa zona classificada como património mundial da humanidade pela Unesco.
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