Golpe e contragolpe na Turquia

A madrugada de 15 de julho ficou marcada pela tentativa de golpe militar na Turquia. Mas as tropas fieis ao presidente Erdogan conseguiram travar o golpe. Em seguida, Erdogan declarou o estado de emergência e deu início a uma caça às bruxas que ainda decorre, com o objetivo de consolidar o poder absoluto no país.

30 de dezembro 2016 - 15:24
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A operação destinada a depor o presidente turco foi preparada por altas patentes militares, que colocaram tanques nas ruas e aviões e helicópetros a sobrevoar a capital na noite de 15 de julho. Erdogan preparava-se para regressar à Turquia e fez uso das redes sociais para apelar à população para travar o golpe militar em curso. Muitos apoiantes corresponderam ao apelo e saíram às ruas confrontando os militares golpistas. Todos os partidos da oposição condenaram o golpe e apelaram ao respeito pelas eleições democráticas ocorridas meses antes. Horas depois do início do golpe, era já evidente que este havia fracassado.

Erdogan foi rápido a prometer que os autores do golpe pagariam cara a sua traição. E apontou o dedo ao clérigo Fethullah Gülen, outrora um dos seus principais aliados, agora exilado nos Estados Unidos, como estando por trás da tentativa de o depor. Gülen rejeitou as acusações e devolveu-as ao presidente, a quem acusou de encenar o golpe para reforçar os seus poderes.

De imediato, Erdogan deu início a uma purga que não poupou nenhum setor da administração pública: exército, polícia, serviços secretos, universidades, comunicação social, autarquias e governos regionais. Ao todo, foram feitos mais de cem mil saneamentos no Estado turco e dezenas de milhares de pessoas continuam presas à espera de julgamento. Os órgãos de imprensa não alinhados com o governo foram silenciados.

A segunda fase da caça às bruxas dirigiu-se à oposição curda, com o encerramento dos meios de comunicação social em língua curda e um ataque dirigido em especial ao Partido Democrático do Povo (HDP), cuja entrada no parlamento retirou a maioria absoluta ao partido de Erdogan. Para além do afastamento dos seus autarcas, a vaga de repressão alastrou aos próprios deputados, acusados de ligações ao terrorismo, o que levou à prisão de dez parlamentares, entre eles os dois lideres do HDP.

A vaga de atentados no segundo semestre do ano contra alvos militares e policiais, reivindicada por um grupo próximo do PKK, os Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK), fez aumentar a repressão sobre o HDP. Em dezembro, na sequência de um destes atentados, várias sedes do partido foram atacadas e incendiadas por grupos apoiantes de Erdogan, ante a passividade da polícia e do exército.

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