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Estados Unidos - Iraque
CADA VEZ MAIS SOLDADOS DESERTORES
Nos registos do exército dos Estados Unidos há entre 8000 e 10000 soldados comparadeiro desconhecido. Ignora-se quantos fugiram do serviço por não querem combater no Iraque.
Tradução de artigo de Aaron Glantz na IPS
Um dos que se ausentou sem autorização do serviço por se opor à guerra foi preso na prisão norte-americana de Mannheim na Alemanha à espera que o seu apelo se tramite para Washington em Novembro.
A prisão de Agustín Aguayo de 34 anos acontece menos de uma semna depois de se ter apresentado em Fort Irwin no deserto californiano de Mojave depois de estar escondido desde Setembro.
Como objector de consciência Aguayo pediu para ser liberto do serviço militar em Fevereiro de 2004, apenas um ano depois de ter começado o seu serviço no exército e quando tinha sido enviado pela primeira vez para o Iraque. O seu pedido foi recusado pelo departamento de defesa em 2005 e Aguayo apelou para os tribunais federais em Washington que atendem os casos de pessoal militar deslocado fora do país.
"Disseram que permitiriam que me telefonasse (da Alemanha), o que seria magnífico, mas não aconteceu" disse À IPS a sua esposa Helga Aguayo. "Em Fort Irwin afirmaram que ele comunicaria e que eu poderia telefonar-lhe, mas nem uma coisa nem outra aconteceu. Creio que estão a tentar mantê-lo incomunicável o mais possível".
Aguayo estava colocado na Alemanha quando fugiu por uma janela da base, antes de iniciar uma segunda missão no Iraque. Os seus comandantes disseram-lhe que o enviariam a território iraquiano, alegou.
"Contudo podem enviá-lo para o Kuwait ou para o Iraque. Não parece possível mas ninguém me assegurou", acrescentou a esposa de Aguayo. "Por isso tenho medo."
Segundo os registos militares dos Estados Unidos há entre 8000 e 10000 soldados cujo paradeiro se desconhece. Não se sabe quantos se ausentaram sem autorização por motivos políticos. Durante a guerra do Vietname (1964-1975), por exemplo, o actual presidente George W. Bush abandonou sem autorização a sua unidade da Guarda Nacional Aérea no estado do Texas para trabalhar numa campanha para o Senado no Alabama.
Centenas de soldados contrários à guerra estão ausentes sem autorização no Canadá. Uns poucos solicitaram asilo publicamente e no início de Outubro o primeiro soldado norte-americano que fugiu para esse país vizinho entregou-se em Fort Knox.
Darrel Anderson, condecorado com um Coração Púrpura (medalha de honra militar entregue em nome do Presidente dos Estados Unidos) por salvar a sua unidade de uma bomba na estrada no Iraque, disse que desertou no ano passado porque já não podia lutar no que considerava uma guerra ilegal.
"Sinto que ao resistir compensei os pecados que cometi no Iraque" disse Anderson durante uma conferência de imprensa realizada pouco antes de se entregar.
Em Abril de 2004 relatou Anderson ordenaram-lhe para abrir fogo contra um automóvel cheio de civis inocentes. O automóvel tinha acelerado ao passar num posto de controlo militar e o seu comandante disse-lhe que era um procedimento do exército disparar sobre qualquer veículo que passasse de largo neste postos. Anderson recusou a ordem.
"Factos como esse continuaram a ocorrer, até que um dia vi um par de companheiros meus atingidos pelas balas", disse ao programa "Democracy Now!" da rádio emissora Pacifica, "e apertei o gatilho enquanto apontava a um miúdo inocnete. Mas a minha arma estava trancada, dei-me do que estava a fazer e de que não importa que penses que és bom, quando estás ali e o diabo está a dominar-te, vais matar pessoas inocentes".
Anderson regressou do Iraque emocionalmente ferido, com um severo stress pós-traumático. Quando a sua unidade regressou a casa, ele fugiu para o Canadá antes de ter de voltar para a frente de combate. Permaneceu lá até fim-de-semana, quando a sua mãe o recolheu em Toronto e o conduziu ao estado de Kentucky. Ela assegurou que foi uma viagem difícil.
No Iraque ele circulava em veículos Humvee e tanques, com gente a disparar-lhe todo odia", declarou Dennis à IPS. "Assim não se sente bem nesses transportes e definitivamente não dorme neles. Os soldados não podem ir a dormir quando estão a patrulhar a cidade em busca de minas anti-pessoais e artefactos explosivos improvisados".
Dennis acrescentou que coincide com o seu filho em que a guerra está mal do ponto de vista moral.
"Acredito em tudo o que me disse o meu filho", afirmou. "Darrell disse que as pessoas que combateu estavam a matar soldados americanos porque não sabem quem somos. Tudo o que sabem é que estamos a atravessar as suas cidades com tanques".
"Os nossos soldados estão a prendê-los", continuou. "Quando levamos gente a Abu Ghraib não informamos as suas famílias. Darrell relatou que levavam homens e rapazes e que as suas esposas e irmãs nunca sabiam o que acontecia durante semanas. Nós estaríamos indignados se isso ocorresse nos Estados Unidos", disse Dennis.
Por sofrer de stress pós-traumático, Darrel Andersson recebeu um tratamento diferente do prestado a Agustin Aguayo quando se entregou.
No quadro de um acordo alcançado com os advogados de Anderson, as autoridades não levaram o soldado a julgamento, mas deram-lhe tratamento e permitiram-lhe viver com a sua família no Kentucky.
Helga Aguayo, entretanto, tenta reunir o dinheiro necessário para voar para Alemanha e testemunhar em tribunal pelo seu esposo. Enquanto trabalha, vive em casa dos seus pais, em Los Angeles juntamente com a sua irmã de 10 anos.
"Não somos uma familia rica", disse. "Os nossos familiares trabalham duramente. Há um fundo de defesa e também um fundo para ajudar à minha família com os gastos e espero poder viajar para ver o meu marido e testemunhar. Disseram-me que isso é crucial".
"Este homem está a defender a sua consciência", acrescentou. "Se a sua família não está ali para apoiá-lo, será um grande golpe para a sua defesa".
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