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A esperança vencerá o medo
A linha divisória entre os partidários e os opositores ao memorando não é uma ficção oca, tem a sua extensão e espessura, e é por isso, aliás, que veio anular antigas oposições erguidas sobre fortes cargas ideológicas e emocionais, levando milhões de compatriotas nossos a adoptarem um novo comportamento político baseado na sua nova situação social.
Essa oposição aprofunda-se e adquire sinal positivo com a proposta alternativa do SYRIZA, que é uma ruptura com o passado, não só com os memorandos, mas com todos os elementos negativos acumulados ao longo de 40 anos de governação da Nova Democracia e do PASOK.
A coligação só tem uma arma, o medo
O governo e o primeiro-ministro tanto exploram a arma do medo, que acabam por conseguir o efeito contrário. Ninguém pode aceitar a lógica absolutamente egoísta do "ou eu ou o caos" ou considerar o direito de voto como uma insignificância. A coligação avança como único argumento a sua adesão à lógica do aluno obediente, considerando que esse será o passaporte para a resolução dos nossos problemas.
Esta lógica ruiu comprovadamente ao longo do último período, porque veio aprisionar-nos num círculo vicioso de novas exigências impopulares da troika, levando, consequentemente, à correspondente queda da coligação. Esta atitude de fatalismo e subserviência para com a autoridade alemã é a versão moderna da teoria da «Grécia coitadinha» (que chamamos em grego «Psorokostainas»).
A extrapolação dessa lógica é que um povo não pode decidir do seu destino, que, por exemplo, a proposta política do SYRIZA pode muito bem ganhar a maioria das pessoas, mas que será obrigatório implementar a política aplicada pela Nova Democracia. Isto é, que a política a aplicar será, não a que venceu, mas a que foi derrotada.
A segunda fonte do medo e da obediência são os mercados
A esquerda radical não tem motivos para enfrentar o medo com que a provocam sujeitando‑se a ele, nem para procurar áreas de consenso onde não podem existir, antes deve insistir com sangue-frio e decididamente na política radical, porque esta é exactamente a via para sair da crise.
Os mercados têm manifestamente interesses opostos aos do povo. Quanto mais se restringirem os direitos e os rendimentos dos trabalhadores, melhor para os fundos de investimento que especulam com a miséria do mundo. Assim, a sujeição a eles não é uma posição política, mas negação da política e fidelidade ao neoliberalismo. Uma coisa é fazer sempre uma adequada avaliação da correlação de forças, outra completamente diferente é rendermo‑nos integralmente aos seus apetites, que é o que faz conscientemente o governo.
Além disso, a insistência exclusiva no espantalho da política do SYRIZA é inadequada, visto que os mercados, pelo menos nesta fase, estão a atacar pela enésima vez o governo Samaras, talvez porque considerem que o seu programa e o seu plano falharam. É claro que arreganham os dentes ao SYRIZA, mas a explicação não é linear.
A esquerda radical não tem motivos para enfrentar o medo com que a provocam sujeitando‑se a ele, nem para procurar áreas de consenso onde não podem existir, antes deve insistir com sangue-frio e decididamente na política radical, porque esta é exactamente a via para sair da crise. A esquerda radical tem o dever de fazer com que a esperança vença o medo.
Kalyvis Alékos é membro do Secretariado Político do Syriza e da equipa de preparação do programa de Governo. Sindicalista do setor bancário, foi vice-presidente da central sindical GSEE e fez parte da equipa de coordenação do Fórum Social Europeu. Artigo publicado no diário Avgi a 30 de dezembro de 2015. Tradução de Manuel Resende para o esquerda.net.
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