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Economia de resistência à tirania

Os democratas não podem perder de vista que tal como o Direito faz parte da engenharia de opressão, o sistema económico e financeiro oficial é igualmente uma ferramenta para manter o poder em contextos de ditadura. A partida todo militante pro-democracia é posto deliberadamente fora da estrutura de oportunidade proporcionada pela economia e finanças oficial e formal sob tutela do tirano. Por Domingos da Cruz

Diante deste quadro, os militantes pela democracia, deverão criar uma economia de resistências que passa em primeiro plano pelo sector informal, produção independente e em nalgumas circunstâncias na esfera formal fora do controlo da tirania.

A economia de resistência é tão importante quanto o plano estratégico ou o conjunto das 198 técnicas e princípios para luta pacífica, com vista a detonar o ditador e seu grupo assim como a cultura instalada.

A economia de resistência visa basicamente manter uma vida com o mínimo de dignidade material para evitar que os resistentes rendam-se por fome, tratamento médico ou outro direito básico como uma residência. Os que partilham os ideais de liberdade têm dever moral de partilhar estratégias e práticas exitosas de captar ou multiplicar recursos, como sejam negócios, consultoria independente, ensino em instituições fora do controlo tirano, pesquisa independente, bolsas de estudos, acessória independente, transacções subterrâneas, sem esquecer fontes externas de financiamento aos activistas, uma vez que elas existem, mas nem todos acessam ou sabem como acessar.

A economia de resistência funda-se na causa última: o interesse nacional com liberdade. O dever moral de partilha entre os guerreiros pela democracia, decorre de uma visão utilitarista e do ubuntu, que consiste na promoção da “felicidade do maior número” de companheiros de luta. Não há felicidade individual quando o outro não atingiu tal felicidade. A felicidade individual funda-se na felicidade colectiva e vice-versa. Uma vez que os democratas dizem lutar pela felicidade do maior número, pela felicidade nacional, só terão força e autoridade moral para infundir esta suposta verdade, caso entre eles sejam capazes de demonstrar tal atitude de afectividade para com o outro. A prática é o critério da verdade. No plano ético só ela (a prática) garante a coerência, por isso, Paulo Freire afirma que deve haver proximidade entre o que se diz e o que se faz.

A economia de resistência à tirania, passa também no terreno da afectividade, no fortalecimento público de uma imagem positiva dos militantes pro-democracia. A gestão das emoções dos militantes pela liberdade, pressupõe solidariedade expressa com vigor nas redes sociais, em cartazes, actos públicos ou cerimónias culturais ou outras. Quando um democrata está detido, doente, vai a julgamento, etc é necessária a presença física dos companheiros. Tal presença mantém os ânimos fortes para a luta e derrota o inimigo. Se por algum motivo não foi possível estar presente fisicamente, deve-se usar todos os meios de comunicação possíveis para expressar com clareza a ligação amorosa à vítima da tirania.

A economia de resistência pressupõe que os consumidores dos produtos dos resistentes sejam em primeira instância os membros da resistência democrática. Por isso, uma obra de arte, feita por um dos nossos deve ser adquirida. Não havendo dinheiro para aquisição, deve-se estar presente no local da cerimónia para a derrota psicológica do inimigo e dar sinais de que protegemos os nossos companheiros. Temos estima por ele. Por outro lado, fortalece a nossa autoridade moral para governar no futuro. Uma vez que valorizamos a capacidade criativa das pessoas hoje, é sinal que ao assumirmos o poder (em tese) incentivaremos que mais criações e talentos nasçam em todas áreas, desde a ciência, arte, moda, desporto aos negócios.

Artigo de Domingos da Cruz publicado em Club-k.net a 23 abril 2015

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Neste dossier:

Liberdade para os presos políticos angolanos

Publicamos este dossier no dia em que se realizam vigílias de solidariedade com Luaty Beirão, que completou um mês de greve de fome, e com os presos políticos angolanos. Abordamos apenas a situação das 17 pessoas acusadas da “prática de rebelião” e de “atentado contra o Presidente da República”, 15 das quais se encontram detidas desde 20 de junho. Dossier organizado por Carlos Santos.

Quem são os ativistas presos desde 20 de junho e as acusadas que não estão detidas

Os ativistas, que foram presos quando discutiam um livro sobre métodos pacíficos de protesto, são acusados de “crime de atos preparatórios para a prática de rebelião (…) e atentado contra o Presidente da República ou outros membros de Órgãos de Soberania”. A acusação foi contra 17 pessoas, das quais 15 estiveram em prisão preventiva e duas – ambas mulheres - em liberdade provisória. Quem são as pessoas acusadas? Por Carlos Santos

Ikonoklasta (Luaty Beirão)

Luaty Beirão, um herói angolano

Considera-se um “kamikaze angolano” com uma missão: enfrentar o regime ditatorial do presidente José Eduardo dos Santos. Para isso, usa a sua música e aposta na mobilização da juventude angolana. Preso, com outras 14 pessoas, sob a acusação absurda de preparar um golpe de Estado, usou a greve de fome para obter o direito de aguardar o julgamento em liberdade. Aconteça o que acontecer, ele já é um herói do povo angolano. Esta é a sua história. Por Luis Leiria.

Incitação à guerra ou à destruição da ditadura?

Em Angola, os discursos que advogam a mudança por via da revolta popular são considerados meios de incitação à guerra. Será assim? Defender que o povo deve sair à rua para derrubar o regime é incitamento à guerra? Por Nuno Álvaro Dala

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É proibido falar em Angola

A incrível história dos rappers acusados de tramar um golpe de Estado pelo governo de José Eduardo dos Santos. Um deles corre risco de vida após passar 85 dias na solitária. Artigo de Eliza Capai e Natalia Viana, publicado em apublica.org.

Vídeo de Manifestantes a clamar por Liberdade

Neste vídeo de 2011, manifestantes gritam “Liberdade” e “O povo unido jamais será vencido” junto ao Tribunal onde estavam a ser julgados, em julgamento sumário e à porta fechada no Tribunal de Polícia de Luanda 21 jovens detidos numa manifestação que pedia a destituição de José Eduardo dos Santos e foi reprimida pela polícia angolana alguns dias antes.