A arte nas ruas

02 de maio 2008 - 0:00
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Os mais criativos e eficazes cartazes de rua de toda a história foram criados em assembleias gerais, produzidos artesanalmente, discutidos abertamente nas semanas do Maio francês de 1968. Foram criações colectivas que envolveram mais de 300 artistas. A sua eficácia é ainda hoje um exemplo para todos os que se preocupam com a arte de passar uma mensagem. É um pouco da sua história, que é também a história do Atelier Popular, que se conta aqui.



A maior parte da vasta e criativa produção de cartazes do Maio francês tem origem no Atelier Populaire (o Atelier Popular, isto é, a escola de Belas Artes de Paris). Trata-se dos documentos que melhor testemunham a efervescência libertária deste momento histórico.

A Escola de belas Artes foi ocupada pelos estudantes no dia 14 de Maio de 1968. Durante dias, as assembleias gerais reorganizam a escola que assume o nome de Atelier Populaire. À criatividade alia-se uma perfeita organização, indispensável para conseguir pôr na rua diariamente uma enorme quantidade de cartazes impressos em serigrafia.



As primeiras assembleias definem as novas orientações da instituição: reorganizar o sistema educativo, estabelecer uma ligação com os operários grevistas e utilizar a arte como uma ferramenta de propaganda.



O poder educador das massas populares



Fica decidido afixar na entrada o seguinte texto:



"Trabalhar no atelier popular é apoiar concretamente o grande movimento dos trabalhadores em greve que ocupam as fábricas contra o governo gaullista antipopular. Pondo todas as suas capacidades aos serviço da luta dos trabalhadores, cada um neste atelier trabalha para si, porque se abre pela prática ao poder educador das massas populares."



O primeiro cartaz é uma litografia intitulada U sines - U niversités - U nion (Fábricas - Universidades - Unidade)

 

A velha técnica da litografia não permitia porém produzir os cartazes rápida e maciçamente. Daí que desde a primeira assembleia se proponha usar a serigrafia. Esta tecnologia, que permitia produzir milhares de cartazes por dia, tinha porém alguns condicionalismos: ausência de dégradés, mono ou bicromia, impondo uma estética um pouco naive (ingénua) à produção. Encontramos muitos cartazes que só são feitos de texto, os que os aproxima dos grafitis que se multiplicaram nas paredes de Paris neste período.



Assembleias decidiam os cartazes



O Atelier Popular compunha-se de um atelier onde eram criados os cartazes, e muitos outros que os reproduziam. Uma assembleia geral reunia-se diariamente, reunindo todos os militantes e artistas. Era nestas AG que se escolhiam democraticamente os cartazes, depois da discussão. Os projectos eram normalmente feitos em comum, depois de uma análise da situação política e dos acontecimentos do dia ou depois de discussões nas portas das fábricas.



Duas questões são sempre colocadas: a ideia política é justa? O cartaz transmite bem esta ideia? Muitos dos projectos são realizados por equipas dos ateliers que se revezam dia e noite. Formam-se depois dezenas de equipas de coladores, a que se juntam os comités de acção dos bairros e os comités de greve das fábricas.



As responsabilidades no interior dos ateliers são provisórias e rotativas, de acordo com as necessidades. O atelier é assim uma instituição aberta e democrática, onde participaram mais de 300 artistas e milhares de estudantes que davam uma ajuda.



Uma unidade verdadeiramente original



Apesar de toda a abertura, e da quantidade de artistas envolvidos, os cartazes têm uma unidade verdadeiramente original. A maior parte dos cartazes são textuais e manuscritos. As palavras de ordem, as mensagens transcritas são marcadas por uma profunda espontaneidade que reflectia o que se gritava na rua. Os cartazes absorviam a frescura do movimento e difundiam rapidamente as palavras de ordem e as temáticas: De Gaulle, os CRS (polícia de choque) e a sua violência, a liberdade, as greves nas fábricas, etc.



A Escola de belas Artes foi ocupada pelos estudantes no dia 14 de Maio de 1968. Durante dias, as assembleias gerais reorganizam a escola que assume o nome de Atelier Populaire. À criatividade alia-se uma perfeita organização, indispensável para conseguir pôr na rua diariamente uma enorme quantidade de cartazes impressos em serigrafia.



As primeiras assembleias definem as novas orientações da instituição: reorganizar o sistema educativo, estabelecer uma ligação com os operários grevistas e utilizar a arte como uma ferramenta de propaganda.



O poder educador das massas populares



Fica decidido afixar na entrada o seguinte texto:



"Trabalhar no atelier popular é apoiar concretamente o grande movimento dos trabalhadores em greve que ocupam as fábricas contra o governo gaullista antipopular. Pondo todas as suas capacidades aos serviço da luta dos trabalhadores, cada um neste atelier trabalha para si, porque se abre pela prática ao poder educador das massas populares."



O primeiro cartaz é uma litografia intitulada U sines - U niversités - U nion (Fábricas - Universidades - Unidade)

Há sempre uma imagem chamativa, acompanhada de um texto curto e forte. Trabalha-se com as formas e desenhos simples. O texto encontra-se acima ou abaixo da imagem, dialogando com ela. O aspecto bruto da realização e o humor ou a ferocidade das palavras de ordem ajudam a dar uma impressão de força e de eficácia das mensagens veiculadas. Assim, estes cartazes tiveram um papel importante na mobilização e na difusão das ideias claramente libertárias destas semanas.



(Texto baseado em L'atelier populaire et les affiches de mai 68)



Veja aqui uma colecção de mais de 200 cartazes do Maio de 68 francês



E não perca no próximo sábado, 10 de Maio a partir das 11h no ISCTE:



Debates - Concerto - Comício - Teatro sobre os 40 anos do Maio de 1968.



Veja aqui o programa 

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