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Uma treta é mesmo este vídeo do Expresso

Uma treta é mesmo este vídeo do Expresso. Em menos de três minutos consegue confundir causas com consequências, curto prazo com o longo prazo, e saldo externo com exportações. Aqui fica, à atenção dos 'guionistas' João Pedro Vieira e Joana Mateus. Por Ricardo Paes Mamede.

Uma treta é mesmo este vídeo do Expresso (ver vídeo). Em menos de três minutos consegue confundir causas com consequências, curto prazo com o longo prazo, e saldo externo com exportações. Aqui fica, à atenção dos 'guionistas' João Pedro Vieira e Joana Mateus:

1) o consumo é o factor que mais tem contribuído para o crescimento não porque tenha sido muito elevado, mas porque os outros factores de crescimento têm sido reduzidos; na verdade, desde 2000 que Portugal é um dos países da UE onde o consumo menos cresce (por sinal, a economia estagnou neste período, mas não vou fazer como os ‘guionistas’ e sugerir causalidades simples onde elas não existem);

2) independentemente da importância do crescimento das exportações no longo prazo no caso português, a criação de emprego no curto e médio prazos jamais poderá vir daí; quem se preocupa com o curto prazo (ou seja, com a vida das pessoas hoje) não pode mesmo ignorar evolução da procura interna;

3) como mostra a fórmula que aparece no vídeo, o que interessa para o crescimento do PIB não são apenas as exportações mas a diferença entre estas e as importações; o crescimento do país a prazo depende tanto de umas como de outras;

4) mais, se todos os países tivessem de ter mais exportações do que importações para crescer, então seria impossível todos os países crescerem ao mesmo tempo (como acontece com frequência), pois as exportações de uns são as importações de outros (para uns países terem excedentes comerciais outros têm de ter défices);

5) já agora, a comparação entre Portugal e a Bélgica é um absurdo: aquele país tem um dos maiores portos do mundo (Antuérpia) e grande parte das suas exportações resulta da comercialização de produtos importados (principalmente de e para a Alemanha); podemos exportar muito e não deixar grande valor acrescentado na economia nacional.

Texto publicado no facebook de Ricardo Paes Mamede

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