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Padre Max e Maria de Lurdes foram assassinados há 35 anos
Este é um grande escândalo da democracia portuguesa, um padre e uma jovem foram assassinados à bomba pela extrema-direita, mas os autores do crime nunca foram condenados. O Padre Max era então candidato independente a deputado na lista da UDP (União Democrática Popular) e o assassinato foi organizado pelo movimento fascista MDLP (Movimento Democrático de Libertação de Portugal). Os tribunais chegaram a admitir que o atentado partiu do MDLP. Três homens chegaram a ser acusados da autoria moral e outros quatro de terem sido os operacionais, mas os tribunais foram incapazes de uma condenação.
O Padre Max morreu quando tinha 33 anos, era professor do liceu e uma figura muito popular na região. O MDLP era um movimento da rede bombista de extrema-direita que se dedicava a perseguir e atacar pessoas de esquerda, sobretudo no Norte do país. O Padre Max e Maria de Lurdes davam aulas de Português e Francês a adultos na Casa da Cultura da Cumieira, uma freguesia próxima de Vila Real. Quando se deslocavam de carro entre a Cumieira e Vila Real, a bomba explodiu, accionada por controlo remoto e os dois morreram.
O primeiro processo sobre o crime foi arquivado em 1977, por falta de provas. Em 1989, o processo foi reaberto pelo Tribunal da Relação do Porto. Foram indicados sete responsáveis pelo atentado: O cónego de Braga Eduardo Melo, o empresário Rui Castro Lopo, e o ex-membro do Conselho da Revolução Canto e Castro, como autores morais; Carlos Paixão, Alfredo Vitorino, Valter dos Santos e Alcides Pereira, como autores materiais. Mas, o processo foi novamente arquivado, por falta de provas.
Em 1996, o Tribunal da Relação do Porto reabriu de novo o processo, tendo sido apenas pronunciados os quatro autores materiais, que foram absolvidos em 1997, por falta de provas. Posteriormente, o Supremo Tribunal de Justiça anulou o acórdão e foi marcado novo processo, que a 21 de Janeiro de 1999 absolveu os arguidos e ninguém foi condenado, apesar do Tribunal admitir que o ataque teria partido do MDLP.
Em 2006, numa conferência organizada pelo Bloco de Esquerda, Francisco Louçã afirmou que os tribunais foram “silenciosos, negligentes e muitas vezes incompetentes” quando julgaram o assassinato do padre Max, “porque não queriam investigar e levar o processo às últimas consequências”.
Nessa realização, o advogado Mário Brochado Coelho, que durante mais de 20 anos tudo fez para que o caso fosse a tribunal e os responsáveis fossem condenados, salientou que "o tribunal achou que eles tinham feito alguma coisa, mas não conseguiu reunir provas concretas de que o fizeram. Eu próprio concordei com essa decisão, porque na justiça ninguém pode ser julgado sem provas claras". Mário Brochado Coelho, concluiu então: "Mataram premeditadamente o padre Max, mesmo sabendo que ele levava no carro uma jovem - o que é típico da extrema-direita portuguesa, do absolutismo até hoje".
No site acomuna.net, o deputado Luís Fazenda evoca Maria de Lurdes neste sábado:
“A Lurdes Correia, estudante em Vila Real, filha de emigrantes em França, sucumbiu de imediato à explosão da bomba no Simca, que matou também Max. A morte veio assim à traição no 1º dia de vigência da Constituição de Abril. A Lurdes alfabetizava camponeses, deu rosto à luta estudantil contra o caciquismo reaccionário, não temeu os fascistas que agiam abertamente pelo regresso à ditadura. Militante da União de Estudantes pela Democracia Popular(UEDP) era o entusiasmo da revolução que a sobressaltava. 35 anos depois a memória venceu o tempo porque outros jovens estremecem destinos”.
Neste sábado, realiza-se no Hotel Mira-Corgo, em Vila Real, uma sessão evocativa de Maximino Barbosa de Sousa - com depoimentos de antigos alunos do Pe. Max e pequenas intervenções/testemunhos. A iniciativa é levada a efeito por uma comissão organizadora de amigos/as, associações como a AUDP e a Pe. Maximino (com sede em S. Pedro da Cova-Gondomar), bem como o Bloco de Esquerda. Ao meio-dia realizou-se uma romagem, com concentração junto ao cemitério de Vila Real.
Comentários
Este crime ficará para sempre
Este crime ficará para sempre na impunidade da Justiça deste País , tanto se disse e nunca ninguém conseguiu dizer a verdade de tão vergonhoso acto assassino que vitimou uma jovem estudante que nada mais fez que acompanhar naquela fatídica noite um homem de bem um ilustre cidadão um amigo de todos os amigos , um professor que muitos jovens como eu ajudava com os seus deveres escolares . Desafio todos os que fotos da época a mostrar o que foi a manifestação expontânea de pesar e de revolta de toda a sociedade Vilarealense . Estive com ele até ao último minuto , foi com o meu casaco que com alguns colegas da época recolhe-mos pelas ruas da cidade donativos para custear o funeral . E mais não digo
Vergonha Portuguesa, descansem em Paz amigos .
Padre Max evocado
Na abordagem da revolução de Abril, conteúdo tratado no programa do 12 ano de História A, o silenciamento vil e cobarde do Padre Max e da jovem Maria da Luz foi informação pertinente aos meus jovens alunos. Um dever e uma homenagem à memória destas vítimas da intolerância, dos ideais de liberdade e de fraternidade e, principalmente, lembrar que " um dos grandes erros de hoje é pensar que os horrores do passado não se voltam a repetir".
PADRE MAX MARIA DE LURDES
Muitos Parabéns pelas iniciativas de evocação do padre Max e de Maria de Lurdes, assassinados pelo terrorismo de direita que alguns poderes, em anos consecutivos de «ressaca» pós-25 de Novembro, tudo fizeram para silenciar e esquecer. Onde é possível ter acesso ao abaixo-assinado, para participar?
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