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Indignados

Organizar e alargar a resposta à violência social da agenda da troika e do governo Coelho/Portas é a principal tarefa da esquerda após a derrota nas legislativas.

"Os interesses financeiros é que estão a sequestrar o parlamento", gritavam os manifestantes que cercavam ontem o parlamento catalão durante a discussão dos cortes orçamentais. À mesma hora, mas em Atenas, o parlamento era igualmente cercado por dezenas de milhares de manifestantes. Aqui foi dia de greve geral contra os novos cortes e privatizações em troca de mais um empréstimo que vai levar a economia grega ainda mais ao fundo. Nos dois casos, estas mobilizações foram precedidas de muitos dias de protesto contínuo.

É verdade que o movimento social grego já tinha habituado a Europa a este tipo de iniciativas de força e ninguém espera que vá cruzar os braços diante do fracasso da receita servida pelo FMI/BCE e pelo governo. Mas mesmo sem o FMI à perna, os movimentos de "indignados" que se juntaram no Estado Espanhol à volta da ideia de "democracia verdadeira", começaram por denunciar justamente que as instituições que dizem representar os cidadãos se converteram em meros gestores dos interesses do poder financeiro. Por isso exigem reformas na lei eleitoral para acabar com a distorção que favorece PSOE e PP, ou um código deontológico para os políticos que previna a corrupção hoje instalada nos partidos do poder e que tem alimentado escândalos todas as semanas.

Em Portugal, a violência social da agenda da troika e do governo Coelho/Portas terá também resposta nas ruas. Construir e alargar essa resposta a tantos indignados sem experiência de organização social é a principal tarefa da esquerda após a derrota nas legislativas. E fazê-lo evitando quer as fórmulas gastas dos sectarismos quer a tentação de importar directamente os modelos que tiveram sucesso noutros países no seu contexto próprio.

A Acampada de Lisboa, que surgiu como iniciativa de solidariedade com os indignados da Praça do Sol e permaneceu no Rossio duas semanas, foi um espaço de participação e partilha para as centenas de pessoas que a testemunharam, também herdeiro do 12 de Março que trouxe à tona da sociedade o sentimento de divórcio entre os cidadãos e os políticos do poder. A Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra a precariedade e os falsos recibos verdes, outra das principais preocupações expressas na convocatória do 12 de Março, poderá tornar-se a primeira iniciativa a recolher as 35 mil assinaturas que obrigam à sua discussão e votação na Assembleia da República. E a confrontar a maioria absoluta da direita com a voz do protesto que encheu as ruas do país.

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