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Zimbabué: Golpe militar detém Mugabe e assume controlo político

Militares ocuparam a televisão pública, na madrugada desta quarta-feira, e anunciaram que estava em curso uma “transição [de poder] sem sangue”. Mugabe e a sua família “foram detidos e estão a salvo”, e o vice-presidente Mnangagwa, recém-demitido, voltou da África do Sul para conduzir os destinos do país.
Zimbabué: Golpe militar detém Mugabe e assume controlo político
Durante a madrugada desta quarta-feira, as forças militares ocuparam a televisão pública do Zimbabué, a ZBC, e o general Sibusiso Moyo leu um comunicado, garantindo que não está em curso “um golpe de Estado militar”, mas sim uma “transição [de poder] sem sangue”.

Durante a madrugada desta quarta-feira, as forças militares ocuparam a televisão pública do Zimbabué, a ZBC, e o general Sibusiso Moyo leu um comunicado, garantindo que não está em curso “um golpe de Estado militar”, mas sim uma “transição [de poder] sem sangue”. O general informou também que o presidente Robert Mugabe e a sua família “foram detidos e estão a salvo”. Segundo fontes não confirmadas, Grace Mugabe, esposa de Mugabe, estará na Namíbia, por motivos de negócios.

O objetivo do golpe militar, explicou Moyo, é “atingir criminosos à volta do Presidente, que estão a cometer crimes que causam sofrimento social e económico” no país, de forma a levá-los “à justiça”. Contudo, não indicou a quem se referia. “Assim que cumprirmos a nossa missão, esperamos que a situação retorne à normalidade”, disse ainda.

No Twitter, o partido de Mugabe, a União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Patriótica (ZANU-PF), que está no poder desde a independência (em 1980), anunciou que “a Primeira Família foi detida e está a salvo”, no âmbito de uma ação que se tornou necessária “tanto pela Constituição, como pela sanidade da nação”. “Hoje começa uma nova era e o camarada Emmerson Mnangagwa [vice-presidente recém-demitido por Mugabe] ajudar-nos-á a alcançar um Zimbabué melhor.”


Já o secretário-geral do partido, Douglas Mwonzora, disse “estar certo de que o Exército está em processo de tomar o comando”. Em declarações por telefone ao canal sul-africano ANN7, citadas pelo Público, Mwonzora afirmou: “Esta é a definição padrão de um golpe de Estado. Se isto não é um golpe, o que será?” Mwonzora acrescentou que a ZANU-PF “está em fase de negação, mas já não tem o controlo” do país.

Certo é que Mnangagwa, demitido por Mugabe no passado dia 6 de novembro, assumiu agora o cargo de Presidente interino, indica ainda a mesma conta do Twitter. Segundo o The Guardian, circula a informação de que o vice-presidente regressou, nesta madrugada, da África do Sul, onde tinha procurado refúgio.

Entretanto, o Presidente sul-africano emitiu um comunicado, no qual afirma ter falado ao telefone com Mugabe e que este lhe confirmou que está detido em casa, mas bem. Jacob Zuma informa ainda que, na qualidade de Presidente da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, irá enviar dois emissários para o Zimbabué (a ministra da Defesa e dos antigos Combatentes, Nosiviwe Mapisa-Ngakula, e o ministro da Segurança do Estado, Bongani Bongo), para se encontrarem com o presidente e com o exército zimbabueanos.

Há também informações de que outros dirigentes foram detidos, incluindo o Ministro das Finanças, Ignatius Chombo. O The Guardian relata ainda que os militares selaram o acesso ao Parlamento, aos principais edifícios do Governo e também ao palácio presidencial. Apesar de tudo, a situação na capital permanece calma.

O Movimento para a Mudança Democrática (MDC), o principal partido da oposição, não questionou o golpe, pediu antes "paz, constitucionalismo, democratização, o estado de direito e a santidade da vida humana", cita o mesmo jornal britânico. Tendai Biti, um líder da oposição, pediu um "roteiro para a legitimidade".

Os casos de Mnangagwa e Grace Mugabe

Emmerson Mnangagwa. Foto de Jean-Marc Ferré/ UN Geneva/ Flickr.

Emmerson Mnangagwa era o vice-presidente do Zimbabué, mas foi demitido na última semana, dia 6 de novembro. Em tempos, foi o braço-direito de Mugabe, de quem é próximo desde os tempos da guerrilha dos anos 1970, e foi também responsável pelos serviços de segurança do Zimbabué, um cargo que o aproxima e alegadamente liga às atrocidades cometidas nos anos 1980 (como os massacres em Matabeleland, nos quais foram assassinadas milhares de pessoas).

Um aliado próximo do ex-vice-presidente disse que ele tinha fugido de “assassinos” e estava num “lugar seguro”. Dizia-se que poderia estar na China, mas agora sabe-se que fugiu para a África do Sul.

Recentemente, Mugabe criticou Mnangagwa, em público, fazendo antever o seu afastamento e mencionando um episódio em que participantes num evento do partido apuparam Grace, a sua esposa. Quatro pessoas foram presentes a tribunal, também na semana passada, por causa destes apupos.

O ditador Mugabe é o líder mais velho do mundo e está no poder há mais de 30 anos. A  sua sucessão tem sido um assunto cada vez mais presente.

Robert Mugabe e Grace Mugabe. Foto de Wikimedia Commons.

Grace Mugabe, que no início do ano chegou a dizer que o marido seria candidato às eleições do próximo ano e, mesmo que morresse, “concorria como cadáver”, já não faz segredo da sua ambição pelo poder. “Dizem que quero ser Presidente. Porque não? Não sou zimbabueana?”, perguntou. “Já disse a Mugabe para não ter medo. Se me quiser dar o lugar, dê-mo sem problemas”, cita The Guardian.

Grace Mugabe tem-se dedicado sobretudo aos negócios. Porém, nos últimos anos, demonstrou ter também um grande interesse pelos assuntos políticos, algo que ficou mais claro quando, em 2014, aceitou a nomeação para liderar a ala das mulheres no partido ZANU-PF. Entretanto, obteve um muito duvidoso grau de doutoramento da Universidade do Zimbabué, no qual esteve inscrita por três meses, e contribuiu para o afastamento de uma vice-presidente, Joice Mujuru, que acabou demitida por alegadamente conspirar contra Mugabe dentro do partido.

 

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