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Zika infeta células imunitárias na placenta

É um mistério a forma como o vírus passa de uma mãe infetada, através da placenta, para o feto. Um novo estudo prova que células de Hofbauer, do sistema imunitário da placenta, são um tipo de células envolvidos na infeção.
Aedes aegypti, a espécie de mosquito que transmite, entre outras doenças, o vírus Zika, foto de es.dengue.info/Flickr.

O vírus Zika passa através da placenta das mulheres grávidas infetadas para o feto em desenvolvimento. Nos maioria dos adultos, o vírus causa sintomas gripais. No entanto, nos fetos, sobretudo se forem infetados durante o primeiro trimestre, pode provocar microcefalia, que faz com que nasçam com o sistema nervoso central parcialmente desenvolvido e com um tamanho reduzido da cabeça dos recém-nascidos. O prognóstico varia muito, mas na grande maioria dos casos as pessoas têm uma esperança de vida muito curta e em alguns casos há abortos espontâneos.

Ainda não se sabe a forma como o vírus passa através da placenta de uma mãe infetada para o feto, mas os cientistas estimam que o trajeto seja indireto, isto é, que seja feito através de diferentes tipos de células. Um estudo liderado por Mehul Suthar e publicado na revista Cell Host & Microbe prova que um tipo de células, chamado células de Hofbauer, que são macrófagos (células de grandes dimensões que fagocitam, ou “comem” elementos estranhos ao corpo) que fazem parte do sistema imunitário da placenta, estão envolvidas na transmissão do vírus.

Os investigadores estudaram amostras de uma placenta de uma mãe e um feto que foram infetados para identificar que tipos de células estão vulneráveis a uma infeção pelo vírus. Além do resultado positivo das células de Hofbauer, a infeção também foi detetada, embora com menos intensidade, em citotrofoblastos. Citotrofoblastos são células da camada intermédia da barreira placentária, esta permite que o embrião ou feto receba oxigénio e nutrientes do sangue da mãe e se desfaça dos resíduos para que sejam eliminados; nesta troca, o sangue fetal e materno estão ligados, mas não estão em contacto direto, daí a sua designação como “barreira”.

Portanto, uma forma lógica de um vírus que infeta uma mulher grávida passar para o feto seria através dessa mesma barreira, efetivamente, os cientistas começaram por estudar a camada mais  externa de células da barreira placentária, chamadas de sinciciotrofoblastos. Um estudo anterior já tinha demonstrado que estas células conseguem resistir a uma infeção pelo vírus Zika, mas este trabalhou provou que os citotrofoblastos, que são menos diferenciados são permeáveis a uma infeção por Zika. Isto sugere que, se o vírus consegue atravessar a camada de sinciciotrofoblastos, tem acesso a células-alvo, dentro das quais se consegue replicar. Este estudo também indicia que a placenta é um dos órgãos humanos menos estudados.

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