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Visibilidade LGBT nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang

Com um total de 14 atletas assumidamente LGBT a competir, a visibilidade dos atletas homo e bissexuais tem sido tema de discussão nesta edição dos Jogos Olímpicos de Inverno, na Coreia do Sul.
Visibilidade LGBT nos Jogos Olímpicos de Inverno
Foto: @Rad85E/Twitter

Eric Radford, patinador artístico no gelo de nacionalidade canadiana, foi o primeiro atleta assumidamente homossexual a ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, Coreia do Sul. O atleta ganhou a medalha em conjunto com a parceira Meagan Duhamel. Radford é também, a par de Gus Kenworthy, o primeiro atleta a assumir estar num relacionamento com outro atleta na mesma competição.

Nos mesmos jogos compete também o atleta Adam Rippon, patinador estado-unidense, o primeiro atleta assumidamente gay a competir na equipa olímpica dos Estados Unidos da América. Rippon conquistou o bronze na mesma pista de gelo que Radford.

Ainda nesta edição dos Jogos Olímpicos de inverno, compete a patinadora de velocidade no gelo Ireen Wust, atleta holandesa assumidamente bissexual. Ireen é a atleta olímpica de maior sucesso do seu país, tendo conquistado 10 medalhas ao longo da sua carreira, incluindo medalhas de ouro em quatro Jogos consecutivos. 

Eric Radford e Adam Rippen não são os primeiros atletas homossexuais a conquistar medalhas nos Jogos Olímpicos de Inverno, mas são os primeiros assumidamente homossexuais a subir ao pódio. Em 1976, o patinador britânico John Curry ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de inverno em Innsbruck. Pouco tempo depois, um jornal alemão expôs a orientação sexual de Curry sem o seu consentimento. Também a atleta Ireen Wust viu a sua orientação sexual exposta nos Jogos Olímpicos de 2010.

A importância da representatividade 

A visibilidade LGBT presente nestes Jogos vem contrastar com a menor visibilidade dada pelos meios de comunicação social à orientação sexual assumida pelos atletas.

O canal de televisão NBC chegou a ser criticado por, na sua cobertura da cerimónia de abertura, ter feito referência ao género e origem étnica dos participantes, mas não ter mencionado a orientação sexual dos atletas publicamente assumidos.

Ativistas LGBT defenderam que o reconhecimento público da orientação sexual vem ajudar a normalizar a sua presença e inspirar as pessoas que com eles se identificam.

Essa visibilidade poderá encorajar outros atletas a saírem do armário, de forma a que esta deixe de ser uma questão em competições futuras. 

“Estou a ser eu mesmo”, afirmou Adam Rippon quando confrontado com os seus comentários sobre a presença LGBT na competição. “Tenho recebido várias mensagens de miúdos de todo o país. É por isso que isto é tão importante”, declarou à comunicação social. 

O número de atletas em competição assumidamente homo e bissexuais ainda é relativamente reduzido. Na sua maioria, estes tendem a sair do armário após terem participado nas suas primeiras grandes competições.

Brian Boitano, vencedor da medalha de ouro em patinagem artística nos Jogos Olímpicos de 1988, só assumiu a sua homossexualidade em 2013, quando Barack Obama o nomeou representante da delegação olímpica aos jogos de Sochi, em 2013.

Também Johnny Weir, que participou nos Jogos Olímpicos de 2006 e 2010, só assumiu a sua orientação sexual em 2011. Afirmou no Twitter que não considerava que a sua orientação sexual fosse algo digno de referência por ter tido a sorte de crescer numa família que o aceita. 

Gus Kenworthy explicou à revista US Weekly que, para ele, a importância de sair do armário estava na “possibilidade de ajudar outras pessoas que pudessem estar na mesma situação, no armário, lugar onde me encontrei a maior parte da minha vida”. Afirma que “há pessoas a vir ter comigo e a enviar-me mensagens sobre a importância que a minha história teve quando estes estavam a aceitar a sua orientação sexual e é por isso que esta é a melhor decisão que alguma vez tomei”. Declara também que foi a experiência ao competir nos jogos olímpicos de Sochi, na Rússia, que o incentivou a sair do armário. “Estar ali, no contexto da homofobia que se vive no país, fez-me perceber quão importante é a representação. Foi o início do meu fim no armário”.

Desporto e homofobia 

Porém, a visibilidade destes atletas não é suficiente para apagar a homofobia de alguns políticos e comentadores. 

John Moody, do canal de televisão Fox News, aproveitou o lema deste ano da equipa dos Estados Unidos da América (“Faster, Higher, Stronger”) para comentar pejorativamente a presença de atletas negros e homossexuais na equipa olímpica: “Darker, Gayer, Different” (“Mais negros, mais gay, diferentes”).

O jornalista afirmou estar incomodado com a cobertura mediática dada aos atletas negros e homossexuais. “Insistir que o desporto se vergue ao politicamente correto ao atribuir quotas de raça, religião ou sexualidade é como dizer que os cestos no basquetebol profissional valerão quatro pontos se marcados por uma minoria étnica no desporto - brancos, por exemplo - ao invés dos dois ou três pontos atribuídos aos jogadores negros, que constituem 81% da NBA”.

Porém, só existem dois homens assumidamente homossexuais na equipa dos E.U.A. e, dos 200 elementos da equipa, apenas 10% pertencem a uma minoria étnica. Também não existem sistemas de quotas na qualificação para a equipa olímpica.

De igual forma, a escolha do Vice-Presidente dos E.U.A., Mike Pence, para liderar a delegação do país foi alvo de críticas dos atletas. Adam Rippon criticou Pence pelas suas posições anti-LGBT e recordou que no passado o Vice-Presidente já apoiou as terapias de conversão para homossexuais. 

“Parece-me uma escolha estranha, pois estamos em 2018, vamos aos Jogos Olímpicos - eu e o Adam Rippon somos os dois atletas assumidamente gay a participar, e é incrível perceber como os tempos mudaram. Tantas pessoas abriram caminho para isto e agora temos a liderar a delegação uma pessoa que atacou diretamente a comunidade LGBT e faz parte de um Governo que está contra nós e que tentou reverter os nossos direitos”, afirmou Gus Kenworthy.

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