Está aqui
Várias figuras públicas integram movimento para despenalizar morte assistida
Ao e-mail de Laura Ferreira dos Santos, autora de vários livros sobre morte assistida, têm chegado muitas perguntas como : “Acha que tenho o direito legal de me matar? Queria terminar com a minha vida, sabe onde posso obter o produto?”
Consciente de que há muitas questões que ficam sem resposta e de que há muitas pessoas a precisar de informação e de apoio, a professora aposentada da Universidade do Minho aceitou o desafio de lançar as bases para a criação de um movimento cívico para a despenalização e regulamentação da morte assistida em Portugal
Ao convite para aderir à reunião com vista a definir os alicerces deste movimento já responderam positivamente diversas figuras públicas como António-Pedro Vasconcelos, Júlio Machado Vaz, João Semedo, Alexandre Quintanilha, Francisco Louçã e José Júdice, entre outras, num grupo que ultrapassa já meia centena.
“É um caminho que faltava fazer em Portugal” lembra Laura Ferreira dos Santos, porque na Europa existem desde há vários anos associações “right to die” (direito a morrer), mesmo em países onde a morte assistida (que inclui a eutanásia e o suicídio medicamente assistido) não está legalizada, como em Espanha e França. Em Itália até há duas”, diz.
Este movimento ainda não tem nome mas há algumas hipóteses como por exemplo"Ajuda-me a morrer" ou "Última liberdade". O movimento vai ainda criar um portal web, lançar uma petição pública, pedir audiências a grupos parlamentares e a outras entidades.
Além de Laura Ferreira dos Santos, que acaba de publicar A Morte Assistida e Outras Questões de Fim-de-Vida (edições Almedina), é também promotor da reunião o médico nefrologista João Ribeiro dos Santos que há quatro anos lançou uma petição para que a Ordem dos Médicos (OM) debatesse o tema.
O movimento poderá eventualmente evoluir para associação, se para isso houver vontade e meios. “Pensamos ser tempo de passar de peças avulsas, onde se defende a despenalização e a regulamentação da morte assistida, para uma actuação mais consistente e organizada”, lê-se na convocatória do encontro, que está marcado para sábado na sede da Ordem dos Médicos, no Porto . Refira-se que a a sala é cedida sem qualquer tipo de envolvimento desta instituição.
“Que fazer quando o doente, de forma informada, esclarecida e reiterada, solicita ao médico que o ajude a morrer porque padece de sofrimento insuportável, físico ou psicológico, e que não é susceptível de ser aliviado ou suavizado?”, pergunta-se na convocatória.?
Laura Ferreira dos Santos defende mesmo que “não dar essa escolha final à pessoa é uma tirania do Estado”.
Do ponto de vista jurídico, para que a morte assistida seja despenalizada é necessário alterar o Código Penal, mas não a Constituição da República, explicam os promotores. “Temos o direito de viver e não o dever de viver”, justificam, defendendo que cabe a cada um “deliberar (…) sobre o tempo e a forma de viver” e que não podem ser sempre os médicos a ter a última palavra.
Mas falar de morte assistida ainda é uma espécie de tabu em Portugal. “Esta é uma reunião histórica”, assume a professora aposentada, enquanto recorda o encontro que há alguns anos reuniu várias personalidades na Ordem dos Médicos (OM), em Lisboa, justamente para debater as questões relacionadas com o fim de vida. “A sala estava cheia, mas não houve quase perguntas, quando esta é uma questão de direitos fundamentais”.
“Este silêncio onera as pessoas que se vêem a braços com situações graves. E dá um exemplo: "um doente tem um cancro que estava em remissão, o cancro volta mas ele não quer tratar-se, a família pressiona-o imenso e ele suicida-se. Se houvesse abertura para falar disto, ele poderia ter discutido o assunto com os médicos.”
“Na nossa tradição judaico-cristão, a vida é vista como um bem inalienável”, observa João Ribeiro dos Santos, para quem, "em termos éticos, esta discussão até é mais simples de fazer” do que a da despenalização da interrupção voluntária de gravidez, que foi aprovada no último referendo e agora é permitida, desde que seja feita até às dez semanas de gestação.
Sem expressar a sua posição pessoal sobre um assunto que qualificou como “um problema tão complexo”, o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, lembra que o Código Deontológico dos médicos não permite a eutanásia, mas entende que é "saudável” promover este debate. “Nós não temos tabus quanto à discussão de determinado assunto. Este tem sido pouco discutido porque colide com as convicções religiosas de muitas pessoas”, afirma
Aos detractores da despenalização da morte assistida, que costumam argumentar que os cuidados paliativos oferecem uma panóplia de meios e de medicação eficazes no alívio da dor física e do sofrimento psicológico, os promotores do movimento para a despenalização da morte assistida respondem que esta é uma “falsa questão”. A eutanásia e o suicídio medicamente assistido não são uma alternativa aos cuidados paliativos nem os antagonizam”, sublinham.
Recorde-se que na Europa, a morte assistida está legalizada na Holanda e na Bélgica, há mais de uma década, além do Luxemburgo onde também já foi legalizada e não é punida na Suiça.
Por outro lado, nos Estados Unidos, o suicídio medicamente assistido é permitido nos estados norte-americanos de Oregon, Washington e Vermont. No Canadá será “legalizada no próximo mês “, de acordo Laura Ferreira dos Santos.
Há ainda países e estados onde, “pontual e casuisticamente”, os tribunais não têm condenado os autores ou os assistentes de alguma forma de morte assistida. É o caso da Colômbia, do Uruguai e do estado norte-americano de Montana.
Comentários
Já contava os dias até
Já contava os dias até aparecer este movimento em Portugal. Há dentro deste tema muitas variantes e distinções a fazer. Mas uma coisa é certa: estamos a falar de eutanásia num país onde os velhos são abandonados sem condições mínimas, onde os cuidados paliativos vão-se afirmando, mas estão muito aquém de poder dar respostas a todos, quando a maioria das pessoas morre com dores que podiam perfeitamente ser evitadas com um toque de humanidade. E nestas condições que não tem acesso a cuidados condignos vai desejar morrer, garanto. Eutanásia em Portugal seria um genocídio social, o perfeito e hipócrita camuflar das desigualdades debaixo de um manto de suposta compaixão pelos que sofrem.
Sr José Castro partilho
Sr José Castro partilho consigo a mesma opinião.
Concordo com a morte
Concordo com a morte clinicamente assistida. Todos temos o direito a morrer com dignidade. Qd sabemos que estamos condenados e que vamos perder qualidade de vida temos direito a escolher.
O que é morrer com dignidade?
O que é morrer com dignidade? Que dignidade vê ou pretende ver na morte? Tem condições de vida, alguém, que não tem um salário compatível com uma vida digna e que mais nada pode fazer do que ganhar para pagar renda, serviços básicos e alguns alimentos? Há muitos portugueses assim!
Acho que já é tempo de
Acho que já é tempo de Portugal se debruçar sobre este tema. Minha falecida mulher morreu em casa de Cancro. Um mês antes da sua morte , pediu-me por duas vezes que a ajudasse a morrer, pois Ela não queria continuar com aquele purgatório. Tinha autorização do IPO de Lisboa para ir buscar a Morfina que fosse necessária para Ela ao ter dores, mas para muitas pessoas é penoso estar literalmente há espera que chegue a morte. Concordo e peço a Deus que cheguem a uma ideia positiva sobre este assunto
Eutanásia/Morte assistida.
Concordo com tudo, mas tudo, o que feito dito supra.
Assisti a dois casos: (mãe quando tinha 15anos e marido quando tinha 65 ) épocas completamente diferentes, mas mantendo a mesma opinião para mim! É inenarrável! Mãe morre com 45 anos e marido morre com 66 anos. Eu não quero morrer assim!!! Eu quero morrer com dignidade! Se me acontecer algo de grave e que eu tenha consciência disso, suicido-me ! Portugal está cheio de gente hipócrita! Toda a pessoa tem o direito de morrer como quiser! No entanto, eu, neste momento, não tenho o direito de morrer como quero! BASTA DE TANTA HIPÓCRISIA E DE RELIGIÕES À MISTURA
foto do artigo
deveriam mencionar que a foto do artigo é um trabalho do artista hiperrealista Ron Mueck e não apenas o autor da foto.
https://www.facebook.com/22193729909/photos/pb.22193729909.-2207520000.1...
cumprimentos
Elsa
Adicionar novo comentário