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Trump tenta tornar sociedade americana na “mais desigual do mundo”, acusa relator da ONU

Com um em cada oito cidadãos, cerca de 41 milhões, entre os quais 13 milhões de crianças, a viver em condições de pobreza, os Estados Unidos estão a caminho de se tornarem no país “líder mundial da desigualdade extrema”, conclui Philip Alston, relator especial da ONU.
Por Gage Skidmore. Foto Wikipedia.

Na introdução do relatório elaborado na sequência de uma visita de duas semanas aos Estados Unidos, divulgada esta sexta-feira, Philip Alston, relator especial da ONU para a pobreza extrema e os direitos humanos, assinala que os EUA estão a caminho de se tornarem na "sociedade mais desigual do mundo" e que as políticas fiscais de Donald Trump irão contribuir para a degradação da situação.

Lembrando que as últimas estatísticas apontam para 41 milhões de americanos a viver em pobreza, o equivalente a cerca de 13% da população, sendo que metade, perto de 19 milhões, vive na pobreza extrema, Alston referiu, em conferência de imprensa, que “o ‘Sonho Americano’ está a tornar-se rapidamente a ‘Ilusão Americana’ a partir do momento em que os EUA têm a mais baixa taxa de mobilidade social de todos os países ricos”.

“O excecionalismo americano [crença de que os EUA são um país qualitativamente diferentes dos restantes] foi um tema constante nas minhas conversas”, escreve o relator da ONU na introdução do relatório, sublinhando, no entanto, que, “em vez de perceber os compromissos admiráveis dos seus fundadores, os Estados Unidos de hoje provaram ser excecionais em caminhos muito mais problemáticos que estão de forma chocante em desacordo com a sua imensa riqueza e com o seu compromisso fundamental com os direitos humanos”.

“Como resultado, abundam os contrastes entre a riqueza privada e a miséria absurda”, acrescenta.

Philip Alston lembra que “pela maior parte dos indicadores, os EUA é um dos países mais ricos. Gasta mais em defesa nacional do que a China, Arábia Saudita, Rússia, Reino Unido, Índia, França e Japão, todos juntos”.

“As despesas em cuidados de saúde dos EUA per capita são o dobro do que a média da OCDE e muito mais altas do que em todos os outros países. Mas existem muito menos médicos e camas de hospital por pessoa do que a média da OCDE”, sinaliza, avançando que “a taxa de mortalidade infantil em 2013 era a maior no mundo desenvolvido”.

“A desigualdade dos EUA é muito maior do que na maioria dos países europeus”, destaca ainda.

A proposta de reforma fiscal de Donald Trump, que deverá obter a aprovação final no Congresso na próxima semana, e que terá um custo total de 1,46 milhões de milhões de dólares, representa, segundo Alston, uma transferência financeira maciça dos ricos para os pobres.

"O pacote de reforma fiscal é uma tentativa de tornar a América a sociedade mais desigual do mundo, e vai aumentar fortemente os níveis já elevados de desigualdade de riqueza e rendimento entre o 1% dos americanos mais ricos e os 50% mais pobres", vinca o relator da ONU.

De acordo com Alston, "os cortes dramáticos propostos por Donald Trump e pelo líder da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, e que já começaram a ser implementados por esta administração, vão essencialmente rasgar dimensões cruciais de uma rede de proteção que já se encontra cheia de buracos".

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