Está aqui

Semedo: Em 2014 é preciso 'Destroikar', Desobedecer e Desenvolver

"O nosso país precisa de ser uma sociedade mais desenvolvida, com mais economia, com mais emprego e mais direitos sociais, tudo aquilo que a ‘troika' e o Governo de Passos Coelho têm feito ao contrário" sublinhou o coordenador do Bloco de Esquerda em entrevista à Lusa sobre os 40 anos do 25 de Abril.
"Na altura, quando se empurrava o 25 de Abril para a frente, quando se puxava pela liberdade, pela democracia e pela conquista de novos direitos, aquilo em que eu tinha os olhos postos na altura, e julgo que muitos portugueses, era que em Portugal se construísse uma sociedade socialista" - Foto de Paulete Matos

Nos 40 anos do 25 de Abril, João Semedo diz que continuam a existir 3 D's essenciais para Portugal: “'Destroikar', Desobedecer e Desenvolver”.

Para Semedo, 'destroikar' é simplesmente "correr com a ‘troika'".

"Desobedecer é reagir aos mercados, bater o pé aos mercados, significa, no caso concreto, reestruturar a dívida, não há outra forma. Também é dizer às instituições europeias que os portugueses têm vontade própria e referendar e chumbar o tratado orçamental", disse João Semedo à Lusa, referindo ainda que "desenvolver" mantém a atualidade, 40 anos depois do 25 de Abril.

Sobre o 25 de Abril de 74, João Semedo refere à Lusa que era um jovem estudante de Medicina para quem a revolução abriu "uma porta enorme que mostrava o socialismo do outro lado da rua".

"Desobedecer é reagir aos mercados, bater o pé aos mercados, significa, no caso concreto, reestruturar a dívida, não há outra forma. Também é dizer às instituições europeias que os portugueses têm vontade própria e referendar e chumbar o tratado orçamental"

"Eu situava-me numa área política em que o 25 de Abril abriu uma porta enorme que mostrava o socialismo do outro lado da rua. É evidente que essa expectativa não se veio a concretizar, como, aliás, é hoje muito claro na política portuguesa", disse também Semedo.

O coordenador do Bloco salienta que "na altura, quando se empurrava o 25 de Abril para a frente, quando se puxava pela liberdade, pela democracia e pela conquista de novos direitos, aquilo em que eu tinha os olhos postos na altura, e julgo que muitos portugueses, era que em Portugal se construísse uma sociedade socialista".

João Semedo contou à Lusa: "A minha vida mudou muito como mudou a vida de todos os portugueses. Eu pensava concluir o meu curso, ir para a Guerra Colonial, rapidamente percebi que a Guerra Colonial ia acabar e que nem sequer iria ser recrutado para o exército. Isso foi uma mudança brutal de expectativa". O coordenador do Bloco referiu que tinha assumido que iria à guerra se fosse mobilizado, nunca tendo admitido exilar-se.

Semedo referiu que em 74/75 liderou brigadas de alfabetização e sentiu-se protagonista da "grande mudança" que seria precursora do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o designado serviço médico à periferia, responsável pela prestação de cuidados de saúde a "milhões de portugueses", que, pela primeira vez, "viram um médico todos os dias ao pé de si, da sua aldeia, da sua casa, da sua vila".

Para o coordenador do Bloco o maior sucesso do 25 de Abril "será sempre a liberdade e a democracia, mas enquanto instrumentos de construção de uma sociedade muito diferente e muito melhor" e as suas duas grandes marcas são "o Estado social e a independência das colónias"

"Ainda hoje, acho que é o serviço médico à periferia que enraizou a convicção das pessoas a defender o seu SNS. Foi uma experiência de vida fantástica", realça Semedo, que esteve um ano na Sertã a prestar aquele serviço.

Para o coordenador do Bloco o maior sucesso do 25 de Abril "será sempre a liberdade e a democracia, mas enquanto instrumentos de construção de uma sociedade muito diferente e muito melhor" e as suas duas grandes marcas são "o Estado social e a independência das colónias".

"Os mercados, os interesses dos grupos económicos e financeiros, dominam hoje a política, esvaziam a democracia da sua alternativa. Essa secundarização da política às mãos dos mercados é uma marca da evolução negativa que o país veio a sofrer", considera João Semedo como um fracasso e "aquilo que parecia impossível há 40 anos veio a acontecer".

O coordenador do Bloco considera ainda que a democracia nas empresas é "uma democracia muito atrasada" e afirmou à Lusa:

"Se há algum défice democrático em Portugal ele está nas empresas, na desigualdade entre o patrão e o trabalhador, que se tem vindo a acentuar e que tem muito a ver com a alteração da legislação laboral".

Termos relacionados Política
Comentários (1)