Portugal: Alterações climáticas podem levar à extinção de 10% de borboletas

A investigadora do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, Eva Monteiro, disse que algumas entidades estão a preparar uma “lista vermelha” de invertebrados, tendo adiantado que é necessário elaborar um documento que reúna os grupos de animais existentes, por zona, especificando também o seu estado de conservação.

De acordo com a especialista citada pela Lusa, nos últimos anos, há muitos registos de dados conseguidos pelas observações das pessoas, que os divulgam através da internet, e, em muitas espécies, esta participação tem contribuído para ampliar os pontos conhecidos.

Segundo Eva Monteiro, os problemas mais graves enfrentados pelas borboletas, passa pela destruição dos habitats, que estão relacionados com diversos aspectos, nomeadamente o abandono ou a mudança de utilização de uma pradaria natural para um terreno agrícola ou florestal, o excesso de pastoreio, a utilização de pesticidas ou as alterações climáticas.

Eva Monteiro precisou que as borboletas que estão nas regiões montanhosas do país, como a serra de Montemuro ou a serra da Estrela, e que precisam de um clima mais frio e húmido, podem sofrer com as alterações climáticas.

Por outro lado, as espécies que habitam o sul e preferem zonas mais ou menos húmidas, uma alteração da temperatura pode ser decisiva e estas áreas "vão começar a desaparecer e a ser completamente secas".

Eva Monteiro sublinhou ainda que, dos dois tipos de espécies, um é atlântico, no Minho e Trás-os-Montes, também existente na Europa, e o outro é típico do Mediterrâneo.

Em Portugal, "não há qualquer espécie endémica", avançou.

Uma das borboletas do Mediterrâneo, que tem núcleos no norte de África e sul da Europa, é a euphydryas desfontainii, nome comum fritilária mediterrânica, e a melitaea aetherie ou fritilária do sul, e que "estão de facto em perigo em Portugal", alertou.

Eucaliptização e alterações climáticas

"Da fritilária mediterrânica, só são conhecidas populações no Algarve e Baixo Alentejo”, afirmou a especialista, tendo acrescentado que “vivem em habitats temporários, ameaçados devido à mudança de terrenos de baldios para agricultura ou florestação, neste caso de eucalipto".

Por seu turno, a fritilária do sul, agora só conhecida no Algarve e Baixo Alentejo, já teve populações muio próximas de Lisboa, em Oeiras e na Costa da Caparica, e onde "estará extinta", devido à urbanização intensiva.

A anthocharis euphenoides ou ponta-laranja-do-Douro, da família das borboletas brancas, está restrita ao Vale do Douro encontrando-se "bastante ameaçada devido à construção das barragens e à cultura intensiva da vinha e da oliveira".

Entre a família das borboletas mais pequenas, Eva Monteiro faz referência à phengaris alcon ou borboleta-azul-das-turfeiras.

"Até há pouco tempo só eram conhecidas populações no Parque Natural do Alvão e em 2011 foi descoberta uma população mais a sul, em Montemuro", e está ameaçada pelas alterações climáticas.

Finalmente, no grupo das borboletas grandes e coloridas, com mais espécies em Portugal, "há uma que podemos considerar extinta, a apatura íris, grande, preta com reflexos azuis, só conhecida em três localidades, no Gerês" sendo que os últimos registos sólidos situam-se no início do século XX, referiu.

Para a elaboração da "lista vermelha", o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) contará com a colaboração do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, da Sociedade Portuguesa de Entomologia, do Instituto Português de Malacologia e do Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal.

Refira-se que Portugal tem 135 espécies de borboletas diurnas, as mais conhecidas, enquanto as noturnas são 2.500.