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Portugal: Agravam-se efeitos da seca

Dezoito das 60 albufeiras monitorizadas pelo Sistema Nacional de Informação dos Recursos Hídricos entraram em agosto com menos de 40% da capacidade de armazenamento. O caso mais grave é o da bacia do Sado, com 10 das albufeiras com menos de 23,4% da sua capacidade.
Seca em Portugal atinge gravidade máxima. Foto de Garycycles8 Flickr

Em 2017, registou-se a terceira primavera mais quente em Portugal desde 1931. Este ano, os termómetros indicaram ainda, durante o mês de julho, recordes de temperatura máxima em cidades como Setúbal, com 43º, Alcácer do Sal, com 44,9º, e Aljezur, com 40º.

No mês de julho, 79% de Portugal continental encontrava-se em situação de seca severa e 9,2% em seca extrema, segundo o boletim meteorológico do IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera).

Dezoito das 60 albufeiras monitorizadas pelo Sistema Nacional de Informação dos Recursos Hídricos entraram em agosto com menos de 40% da capacidade de armazenamento.

A bacia do Sado é a que requer mais atenção por parte das autoridades, com 10 das albufeiras com a massa de água a apresentar valores de 23,4% da sua capacidade, bem abaixo dos valores apresentados há um ano (38,8%), e menos de metade do índice de água registado em 2015 (49,7%).

Governo anunciou retirar 150 toneladas de peixe das albufeiras

Por forma a evitar a degradação da qualidade da água, o Governo decidiu, esta quarta-feira, a remoção de 150 toneladas de peixe das albufeiras de Monte da Rocha, em Ourique, da Vigia e do Divor, localizadas em Redondo e entre Évora e Arraiolos, respetivamente, e de Pego do Altar, em Alcácer do Sal. A decisão foi tomada após uma reunião, em Évora, nas instalações da Subcomissão Regional da Zona Sul, da Comissão de Gestão de Albufeiras, sobre a situação da seca.

“Vamos retirar 150 mil quilos de peixes”, afirmou o secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, acrescentando que a retirada de peixes “deve custar cerca de 120 mil euros, para não pôr em perigo a qualidade da água das albufeiras”.

Os 150 mil quilos de peixe a retirar das barragens vão ter como destino final a produção de “farinha para alimentação animal”, referiu ainda o governante, sinalizando que a remoção dos peixes será assegurada por pescadores.

“A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) irá assumir os encargos financeiros e a EDIA (empresa gestora do Alqueva) será a coordenadora dessa atividade”, informou ainda o secretário de Estado do Ambiente, assinalando que o processo terá início na próxima semana.

Abastecimento público assegurado com autotanques

A seca na região tem levado também a uma escassez de água para abastecimento público. O abastecimento às populações está a ser garantido com recurso a autotanques dos bombeiros em cerca de 10 pequenas localidades de oito municípios do interior do Alentejo.

Segundo Carlos Martins, os problemas no abastecimento de água na região do Alentejo já chegaram a abranger um total de “quase cinco mil pessoas”, mas, atualmente, atingem cerca de “dois mil” habitantes, porque, entretanto, foram abertos, “com sucesso”, vários novos furos.

As populações que estão a ser abastecidas com recurso a autotanques são o Alandroal, Almodôvar, Arraiolos, Avis, Borba, Mértola, Odemira e Ourique, distribuídos pelos distritos de Beja, Évora e Portalegre. O trabalho de abastecimento é feito pelas corporações de bombeiros mais próximos das populações.

Para o secretário de Estado do Ambiente, o problema da escassez de água “vai prolongar-se”, independentemente de quando ocorram as primeiras chuvas. Mesmo que “comece a chover, como a velocidade de escoamento para recarregar os aquíferos é muito lenta, essa escassez ainda se vai manter para além das primeiras precipitações”, referiu.

Na gestão dos volumes de água armazenada nas albufeiras com dupla função, rega agrícola e abastecimento, e que estão com níveis reduzidos, Carlos Martins garantiu que “o primeiro critério de prioridade é o abastecimento público às populações”.

Para o Governo, a barragem que requer mais atenção é a da Vigia, em Redondo - que serve para rega e para abastecimento público - e que se encontra com 14% da sua capacidade de armazenamento.

O governante adiantou que as conclusões são que, “de uma maneira geral, a agricultura consumiu um pouco mais do que aquilo que era a cota” fixada, mas, “ainda assim, sem pôr em perigo aquilo que é essencial, que é o abastecimento público”.

Agricultores pedem medidas excecionais de apoio

A um mês de terminar a campanha agrícola de verão, estão em risco várias culturas, como o arrozal, o olival, o amendoal e o figueiral. A situação levou a Associação dos Agricultores do Distrito de Setúbal a reclamar junto do Ministério da Agricultura medidas excecionais de apoio.

Numa nota envida à agência Lusa, a associação realçou que a seca severa e extrema tem causado grandes prejuízos aos agricultores, situação que “não se compadece com medidas rotineiras e insuficientes”.

Os agricultores pedem o reembolso sobre os custos acrescidos com a energia elétrica derivados da situação de seca, a isenção temporária do pagamento das taxas dos recursos hídricos e um apoio financeiro ou em géneros para a alimentação animal.

A 19 de julho, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) defendeu que o Governo deve pedir a ajuda do Fundo Europeu de Solidariedade também para responder aos prejuízos causados pela seca, além da candidatura já avançada para os incêndios.

Entretanto, a 7 de agosto, o Governo assegurou que tinha medidas de apoio para os agricultores afetados pela seca, como o pagamento antecipado de apoios, a autorização para animais pastarem em áreas interditas e a reabertura de candidaturas para captação de água para o gado.

O Ministério afirmou já ter determinado ao Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) a antecipação do pagamento de cerca de 400 milhões de euros para a segunda quinzena de outubro, prazo mais curto autorizado pela regulamentação comunitária.

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