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"O Podemos nasceu da vontade de passar da indignação à esperança”

A eurodeputada Teresa Rodriguez veio a Lisboa apresentar o partido que mudou o mapa político espanhol nas europeias e respondeu às questões do público e dos leitores do esquerda.net que assistiram em direto na internet.
Teresa Rodriguez respondeu às perguntas dos presentes e dos que assistiram à transmisão em direto no esquerda.net

A conversa aberta organizada pelo Bloco de Esquerda realizou-se no Jardim de São Pedro de Alcântara, onde Teresa Rodriguez respondeu durante 90 minutos a dezenas de questões sobre o novo partido espanhol e as lutas contra a austeridade em Espanha. Entre os presentes contavam-se cidadãos espanhóis a residir em Lisboa e no fim da conversa ficou lançada a proposta da criação de um círculo do Podemos em Lisboa.

“A democracia não é participar em todos os momentos, mas poder participar a qualquer momento, qualquer pessoa, forme ou não parte de um círculo”, defendeu Teresa Rodriguez.

“O Podemos foi uma iniciativa insólita com um resultado insólito”, começou por explicar a eurodeputada, falando do partido que nasceu de um apelo em janeiro com 50 mil assinaturas, impulsionado por um núcleo ativista vindo das Marés Cidadãs, do 15-M e dos movimentos sociais. “Quisemos construir  círculos de empoderamento cidadão, com uma vontade de iniciativa política que fosse para além da indignação” e que juntasse pessoas sem qualquer intervenção partidária, prosseguiu. E o resultado foi bem sucedido: “nasceram 400 círculos em pouco tempo, e hoje são mais de 800 em Espanha e no estrangeiro”.

O próximo desafio do Podemos é o de “construir um mecanismo de participação democrática” que garanta que toda a gente, incluindo não-membros, possa intervir nos debates e participar nas decisões. “A democracia não é participar em todos os momentos, mas poder participar a qualquer momento, qualquer pessoa, forme ou não parte de um círculo”, defendeu Teresa Rodriguez. Os círculos são “eventos públicos, pequenos fóruns de debate quotidiano e semanal, não são uma célula normal de partido” e são complementados com fóruns na internet para debater temas concretos.

“O Podemos não existiria sem os movimentos sociais”

O peso do tema da corrupção no discurso do Podemos, “embora normalmente não tenha destaque no discurso da esquerda, permitiu-nos chegar às pessoas, mostrando-lhes que a corrupção está presente não apenas no roubo dos políticos mas da forma de organização do sistema”.

“O Podemos não seria o Podemos sem o 15-M e as Marés”, sublinhou Teresa Rodriguez, chamando a atenção para os movimentos sociais que protagonizaram as lutas contra a austeridade nos últimos anos em Espanha. Foi assim que “conseguimos um programa muito participado e umas primárias em que participaram 33 mil pessoas, o recorde europeu de participação em primárias para as eleições de 25 de maio”, disse Teresa Rodriguez.

A essa participação correspondeu um discurso “ideologicamente lasso mas programaticamente claro”, que pudesse “incluir toda a gente sem uma etiqueta ideológica”, numa altura em que a rejeição dos partidos atinge níveis recorde nas sondagens. O peso do tema da corrupção no discurso do Podemos, “embora normalmente não tenha destaque no discurso da esquerda, permitiu-nos chegar às pessoas, mostrando-lhes que a corrupção está presente não apenas no roubo dos políticos mas da forma de organização do sistema”.

“Defendemos a revogação dos mandatos e a limitação dos salários dos eurodeputados, e por isso assinámos um contrato enquanto candidatos que prevê a revogação do nosso mandato a qualquer momento e uma limitação do salário a três salários mínimos”, prosseguiu Teresa Rodriguez.

“Não queremos ser uma colónia da Alemanha”

O Podemos defende iniciativas comuns e coordenadas entre os países do Sul para renegociar a dívida. “Por isso quisemos estabelecer a ligação no Parlamento Europeu ao Bloco de Esquerda, ao Syriza à lista Tsipras italiana”, sublinhou.

Questionada sobre a posição do novo partido quanto à saída de Espanha do euro, Teresa Rodriguez afirmou que “a questão chave é a dívida e não o euro”. “Centrar a questão no euro pode levar-nos até a um fetichismo da moeda”, acrescentou a eurodeputada, lembrando que o FMI já obrigou países a emitir nova moeda e a desvalorizá-la. Nesse cenário de abandono do euro, “corremos o risco de abrir uma corrida à desvalorização das moedas com efeitos graves para o nível de vida da população”.

Para o Podemos, a primeira resposta à austeridade imposta por Berlim e Bruxelas passa pelo fim do garrote da dívida e por iniciativas comuns e coordenadas entre os países do Sul para renegociar a dívida. “Por isso quisemos estabelecer a ligação no Parlamento Europeu ao Bloco de Esquerda, ao Syriza à lista Tsipras italiana”, sublinhou.

Durante hora e meia, Teresa Rodriguez respondeu ainda a questões sobre a organização do Podemos e às posições do novo partido sobre temas desde a autodeterminação da Catalunha e do País Basco às diferenças programáticas com outros partidos de esquerda. Sobre a Izquierda Unida, com quem partilha o grupo parlamentar em Estrasburgo, disse que essas diferenças colocam-se sobretudo ao nível da metodologia: “Nós queremos construir espaços de empoderamento desde baixo, com gente que nunca participou na política, na base de um sentido comum contra a austeridade e os cortes, para recuperar a nossa soberania”.

A força da luta contra os despejos foi também usada como exemplo da força dos movimentos sociais, que conseguiu o apoio da maioria da população às ações para evitar os despejos de quem já não consegue pagar a casa ao banco. “Hoje já parece normal um grupo interpor-se entre a polícia e alguém que vai ser despejado”, afirmou Teresa Rodriguez, defendendo a abolição da lei hipotecária e a retroatividade da dação em pagamento, para evitar que os despejados continuem condenados pela dívida.

Teresa Rodriguez defendeu ainda o controlo público da banca e da energia como um instrumento “para construir um modelo sustentável que não se baseie no betão e na hotelaria” e apelou à participação na concentração deste sábado, às 17h em frente à embaixada espanhola em Lisboa, para protestar contra a reforma da lei do aborto e a prisão de dois ativistas de Granada que participavam num piquete de greve e acabaram condenados a 3 anos de prisão.

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