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Negociações para formar governo na Andaluzia estão para durar

A dificuldade de encontrar maiorias que excluam a extrema-direita tem marcado as negociações entre os partidos andaluzes. PSOE, PP e Ciudadanos reclamam para si o lugar da presidência.
Foto Parlamento da Andaluzia.

As eleições que ditaram um resultado inesperado no passado domingo transformaram-se num quebra-cabeças político, com a ausência de uma solução maioritária alinhada com os campos políticos em disputa.

O PSOE foi o partido mais votado, mas o que aparece como o grande derrotado das eleições: ficou com 33 deputados, perdendo 14 em relação às eleições de 2015. A sua líder, Susana Díaz, não desiste de regressar à presidência da Andaluzia e diz que parte para as negociações com todos os partidos — à exceção da extrema-direita do Vox, a grande surpresa das eleições ao alcançar 12 deputados — “sem linhas vermelhas”.

A estratégia de Susana Díaz passa por fazer “descolar” o Ciudadanos — que elegeu 21 deputados — da possibilidade de se unir ao PP com o apoio ou a abstenção da extrema-direita. Mas o líder do Ciudadanos na Andaluzia, Juan Marín, já afirmou que o papel de charneira que alcançou no quadro das contas parlamentares lhe dará o direito de liderar o governo. Para já, Susana Díaz vai dizendo que “o normal é que o terceiro apoie o primeiro” e que se não conseguir formar governo vai para a oposição.

Esta sexta-feira, a porta-voz do governo espanhol, Isabel Celaá, apelou ao PP e aos Ciudadanos para não deixarem que a Andaluzia se converta “num berço da ultradireita” em Espanha. “Fomos o último país da Europa a sofrer o impacto da extrema-direita, mas podemos ser o primeiro a ver como os partidos da direita são capazes de se apoiarem na extrema-direita, por mais que isso signifique branqueá-los”, afirmou a porta-voz do governo socialista na Moncloa.

À direita, o PP ficou em segundo lugar com 26 deputados e o seu líder nacional, Pablo Casado, começou por não excluir uma aliança com os Ciudadanos e o Vox a integrarem o governo. Esta quinta-feira, e face à recusa do Ciudadanos em formar governo com a extrema-direita, Casado recuou e diz que o seu único interlocutor é o Ciudadanos e que a sua relação com o seu líder nacional, Albert Rivera, “facilita muito as coisas”. Para esse recuo também terão ajudado as declarações do líder nacional do Vox, afirmando que o seu partido não tem qualquer intenção de participar no governo andaluz, mas sim negociar com PP e Ciudadanos uma reforma do Estatuto andaluz para revogar a autonomia da região e devolver competências ao Estado espanhol.

Segundo o diário espanhol Público, o líder do PP terá proposto ao homólogo dos Ciudadanos uma “otimização do espaço eleitoral”, com o partido de Rivera a apostar em captar o eleitorado do centro-esquerda desiludido com o PSOE e o PP a dirigir-se preferencialmente para os eleitores do centro-direita.

Por seu lado, o Ciudadanos vai negociando à direita e deixa a porta entreaberta aos socialistas, sempre sem abdicar de ver Juan Marín sentado na cadeira da presidência. O partido dá prioridade à negociação com o PP, mas não exclui a hipótese de negociar a abstenção do PSOE a um governo por si liderado.

À esquerda, o Adelante Andaluzia, que junta Podemos e Izquierda Unida, elegeu 17 deputados e em nada beneficiou da transferência dos votos perdidos pelo PSOE, ficando mesmo aquém dos 20 deputados eleitos em 2015, quando IU e Podemos se apresentaram às eleições em listas separadas. Esta quarta-feira, o líder nacional do Podemos, Pablo Iglesias, apelou ao Ciudadanos para romper negociações com a direita e tentar um pacto com o PSOE, abrindo a porta à viabilização desse governo por parte do Adelante Andaluzia.

Mas o apelo de Iglesias não encontrou eco nem no seu próprio partido na Andaluzia. A líder do Podemos andaluz e primeira candidata da coligação, Teresa Rodriguez, já afirmou que não está disposta a apoiar um governo que integre um partido de direita como o Ciudadanos.

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