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Morreu o escultor Alberto Carneiro

O corpo seguirá hoje para o Tanatório de Matosinhos onde se realizará o velório amanhã, segunda-feira, entre as 9 e as 16 horas, seguindo-se a cremação. 
Alberto Carneiro no Parque de Escultura de Almourol, por Paulo Cunha - Lusa
Alberto Carneiro no Parque de Escultura de Almourol, por Paulo Cunha - Lusa

O escultor Alberto Carneiro morreu ontem aos 79 anos. O corpo seguirá hoje para o Tanatório de Matosinhos onde se realizará o velório amanhã, segunda-feira, entre as 9 e as 16 horas, seguindo-se a cremação. 

Alberto Carneiro foi um dos nomes que mais contribuiu para a abertura de novos caminhos para a prática artística em Portugal, na segunda metade do século XX, como destacou a Fundação de Serralves, no Porto, e o Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, em Lisboa.
 

Participou nas Bienais de Veneza e de S. Paulo, entre outras grandes exposições internacionais. Entre as antológicas da sua obra, contam-se as apresentadas na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e em Serralves, no Porto, no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, no Centro Galego de Arte Contemporânea, no Museu de Arte Contemporânea do Funchal e na Casa da Cerca, em Almada.

Alberto Carneiro nasceu a 20 de setembro de 1937, em São Mamede do Coronado, concelho da Trofa, distrito do Porto, local ao qual se manteve ligado durante toda a vida e onde inaugurou, no passado mês de março, aquela que é considerada a sua maior obra, em dimensão, composta por 435 esteios de granito e um tronco de castanheiro.

Na altura, Alberto Carneiro explicou que aquela obra constitui "o testemunho do [seu] reconhecimento à terra” que o viu crescer permitiu o “convívio com a natureza que tão importante tem sido na obra”.

A historiadora de arte Raquel Henriques da Silva considerou Alberto Carneiro como uma figura absolutamente fundamental da escultura portuguesa no século XX.

“Foi um grande mestre, um grande professor também, amigo de gerações de jovens artistas, e é uma referência maior e foi um lutador extraordinário contra a doença, na última década, e cumpriu um destino fantástico”, disse à Lusa Raquel Henriques da Silva, que trabalhou por diversas vezes com o escultor.

Para a historiadora, são várias as razões pelas quais Alberto Carneiro é uma figura absolutamente fundamental da escultura em Portugal no século XX.

Desde logo, destaca a importância que o escultor deu à sua proveniência, tendo trabalhado em adolescente numa oficina de santeiro, na região norte do país, de onde era oriundo, onde se produziam santos, quer de madeira para o altar, quer de pedra para o exterior.

“Esse trabalhar da madeira durante a sua adolescência foi sempre algo que o Alberto salientou. Não que ele fosse um autodidata, porque, já mais velho do que é costume, entrou na Faculdade de Belas Artes, então Escola de Belas Artes do Porto, onde fez o curso com bons resultados”, afirmou.

Raquel Henriques da Silva destacou ainda como muito importante para o percurso do escultor uma bolsa que obteve, no final dos anos 1960, que lhe permitiu ir estudar para Londres.

É então que “ele, que vinha do talhe, de trabalhar a madeira pelo sistema de talhe, de ir roubando madeira à madeira, entra num processo criativo absolutamente sem retorno, absolutamente fundamental que o afasta desse processo tradicional e o lança numa fase muito diferente, em que a escrita desempenhará um papel importantíssimo”, acrescentou.

Foi a partir de então que usa o conceito de escultura em campo expandido de Rosalind Krauss, “em que a escultura deixa de ser um monolítico e entra num processo de criação que é simultaneamente objetual, mas também performativo”.

São desta altura as obras “O canavial: memória metamorfose de um corpo ausente” (1968) e “Uma floresta para os teus sonhos” (1970), por exemplo.

O escultor escreveu também “um manifesto que é um dos primeiros manifestos que se escreveram não só em Portugal como no mundo, sobre arte ecológica, sobre esta ideia de naturalidade dos materiais, esta presença da floresta e da árvore na sua exposição, que vão ser muito muito importantes, na produção" de Alberto Carneiro, acrescentou.

Em obras conceptuais como “O Canavial”, o “esquema da montagem é o fundamental”, destacou a ex-diretora do Museu do Chiado e do antigo Instituto Português de Museus.

“Para ele a obra é o esquema muito detalhado da construção da obra. A peça é um esquema, quando se quiser montar de novo monta-se a partir do esquema”, explicou.

Raquel Henriques da Silva salientou ainda que, a partir dos anos 1980, Alberto Carneiro regressou ao talhe, “não manual mas com máquinas”, tendo “neste último período de vida deixado peças de capacidade poética e de uma qualidade da madeira extraordinária”.

Alberto Carneiro foi um dos nomes que mais “abriram novos caminhos para a prática artística em Portugal”, na segunda metade do século XX, destaca a biografia do escultor, publicada no 'site' do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado.

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