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Mineração dos oceanos pode pôr em causa vários ecossistemas

O alerta parte dos Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), no Porto, que estimam que a exploração dos fundos oceânicos pode vir a “afetar uma grande quantidade de ecossistemas num raio de 190 quilómetros”.

No âmbito do projeto “CORAL – Exploração Sustentável dos Oceanos”, que conta com a colaboração do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) e que é apoiado pelo Norte2020 através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, os Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) desenvolveram um estudo que visa analisar “o impacto das atividades de mineração no mar profundo”.

O resultado da investigação, que foi publicado na revista internacional Science of the Total Environment, aponta que a exploração dos fundos oceânicos pode vir a afetar as áreas costeiras, mas também as ilhas ou os próprios ecossistemas e zonas piscatórias.

Em entrevista à agência Lusa, Isabel Iglesias, uma das investigadoras do estudo, sinalizou que, ainda que não se saiba “para quando está prevista a aposta da indústria extrativa na exploração dos fundos oceânicos”, a International Seabed Authority (ISA) tem vindo a receber inúmeros pedidos de autorização por parte da indústria extrativa para avançar com atividades em certas áreas.

“A exploração depende sempre do impacto económico, quando os custos da mineração de mar profundo forem inferiores aos benefícios ou quando em terra começarem a escassear alguns recursos, aí, certamente que a indústria vai começar a olhar para o fundo do mar”, frisou Isabel Iglesias.

O grupo de investigadores da área da cenografia física do CIIMAR analisou três fontes hidrotermais localizadas na Zona Económica Exclusiva (ZEE) portuguesa a sudoeste dos Açores – a Menez Gwen, Rainbow e Lucky Strike - , que estão classificadas pela OSPAR Commission, desde 2007, como Zonas Marinhas Protegidas.

Mediante o recurso a modelos numéricos, os investigadores foram capazes de “prever os cenários de dispersão dos sedimentos” destas três fontes hidrotermais, compostas por “materiais de alto interesse económico” e que estão próximas de ecossistemas “únicos e de grande valor ecológico”.

O estudo “Development of physical modelling tools in support of risk scenarios: A new framework focused on deep-sea mining” evidenciou que as partículas podem “permanecer em movimento por um período variável de 14 horas a 40 dias” e “afetar ecossistemas num raio que pode atingir os 190 quilómetros”.

“As partículas conseguem permanecer muito tempo na coluna de água, o que significa que podem afetar durante muito tempo os ecossistemas, visto que os sedimentos de suspensão podem não deixar passar a luz solar, ou ter partículas metálicas, que afetam inevitavelmente os ecossistemas. E quanto maior for a dispersão desses sedimentos, mais áreas eles prejudicam”, explicou a investigadora.

Perante estes resultados, Isabel Iglesias considera que que “estudos como este são da maior importância”, não apenas para prever o impacto das atividades de mineração, mas também para que a indústria extrativa possa produzir “o menor impacto nos ecossistemas”.

“As áreas costeiras podem vir a ser afetadas, mas não só, também as ilhas ou os próprios ecossistemas e zonas piscatórias. Para preservar a zona marinha convém que as tecnologias utilizadas na mineração produzam o menor tipo de sedimentos e que afetem a menor área possível”, salientou.

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