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Mais um tiro no porta-aviões de Paulo Portas

Último Boletim do Banco de Portugal mostra que os maiores exportadores portugueses afinal contribuem bem menos do que diz o vice-primeiro-ministro para o aumento da riqueza do país. Projeções do crescimento para 2014 baseiam-se na procura interna e não nas exportações.
Os produtos petrolíferos refinados, na sua maior parte produzidos pela Petrogal (Galp) têm um peso enorme nas exportações; mas como precisam de um volume de importação também enorme, o resultado é quase nulo. Foto de Nuno Morão, creative commons.
Os produtos petrolíferos refinados, na sua maior parte produzidos pela Petrogal (Galp) têm um peso enorme nas exportações; mas como precisam de um volume de importação também enorme, o resultado é quase nulo. Foto de Nuno Morão, creative commons.

O último Boletim do Banco de Portugal, datado de abril deste ano e acabado de sair, desfere um golpe violento à tese de que são as exportações o motor da chamada recuperação económica, tão alardeada pelo vice-primeiro-ministro Paulo Portas. Num artigo dedicado à evolução das exportações, “Evolução das exportações nominais de bens ponderadas pelo conteúdo não importado”, à página 37, parte da análise da Economia Portuguesa em 2013, mostra-se que os maiores exportadores portugueses afinal contribuem bem menos do que se diz para o aumento da riqueza interna da economia.

E isto porque há muitos produtos exportados que dependem, na sua maior parte, de uma prévia importação. Assim, “um determinado aumento das exportações terá um impacto maior no PIB se assentar em bens com menor conteúdo importado”, dizem os técnicos do Banco de Portugal.

O artigo analisa assim “não só a evolução agregada das exportações mas também a sua composição setorial, tendo em conta o respetivo conteúdo importado”.

O resultado não chega a ser surpreendente, mas é revelador. E significa um verdadeiro tiro no porta-aviões de Paulo Portas.

Vestuário pesa mais que produtos petrolíferos refinados

Veja-se o caso mais flagrante, o do sector dos produtos petrolíferos refinados, na sua maior parte produzidos pela Petrogal (Galp): tem um peso enorme nas exportações; mas para o fazer precisa de um volume de importação tão grande, que o resultado é quase nulo. Diz o artigo: “Por exemplo, os produtos petrolíferos refinados reduzem o seu peso [de 7,8% nas exportações nominais totais de bens para 1,9%] enquanto os artigos de vestuário registam um aumento [de 5,5% para 7,1%]”.

Isto é: se usarmos o critério da evolução nominal, que o governo usa, as exportações de refinados têm uma importância enorme nas exportações; mas se calcularmos, como faz o Banco de Portugal, uma medida que corrige a dependência desses sectores às importações, o resultado é completamente diferente e as exportações de vestuário têm um peso maior que os refinados.

Também o contributo líquido dos refinados é muito menor. As exportações de bens totais avançaram 27,4% em 2013, sendo que o contributo oficial desse setor foi de 2,1 pontos percentuais. Mas a medida corrigida baixa esse contributo para apenas 0,5 pontos.

Nas projeções para 2014 do Banco de Portugal, as exportações contribuem com 2,1 pontos percentuais para o crescimento do PIB, mas as importações anulam esse ganho – contribuem com -2,1 pontos percentuais.

Projeção de crescimento baseia-se na procura interna e não nas exportações

No mesmo boletim, nas projeções económicas para a economia portuguesa 2014-2016, o Banco de Portugal prevê para 2014 um crescimento do PIB de 1,2%. Mas é um crescimento baseado na procura interna (prevê um contributo para o crescimento de 1,2 pontos percentuais – ver tabela na página 55). As exportações contribuem com 2,1 pontos, mas as importações anulam esse ganho – contribuem com -2,1 pontos percentuais.

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