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Mais de um milhão de pessoas nas ruas do Brasil

Mobilizações ocorreram em 388 cidades, das quais 22 capitais de Estados. A maior foi a do Rio de Janeiro. Polícia voltou a reprimir em várias cidades, sendo que no Rio tentou invadir um sindicato e uma universidade. Dilma Rousseff cancela viagem ao exterior e convoca reunião de emergência do seu gabinete.
A avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, ficou cheia desde antes da Central do Brasil (o conjunto de edifícios altos à esquerda), até à igreja da Candelária (ao fundo). Fotografia de Pablo Jacob

Os cálculos variam muito, mas há praticamente consenso em afirmar que mais de um milhão de pessoas participaram nas manifestações em todo o Brasil nesta quinta-feira. Houve protestos em 388 cidades do país, entre as quais 22 capitais de Estados (no total, o Brasil tem 26 Estados e o Distrito Federal, Brasília).

A maior manifestação foi a do Rio de Janeiro, que mobilizou, segundo os cálculos da Coppe – o Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – mais de 300 mil pessoas. Assinale-se que em 1984 houve uma manifestação de dimensões aparentemente semelhantes pelas “Diretas Já” que ficou na história como tendo mobilizado um milhão e meio de pessoas. Em São Paulo ter-se-ão mobilizado mais de 110 mil pessoas, de acordo com os dados do instituto de sondagens Datafolha.

Estas mobilizações superaram qualquer das jornadas anteriores que, durante duas semanas, exigiram a redução dos preços dos transportes, primeiro na cidade de S. Paulo e depois em todo o país. Mostraram que a população brasileira foi para a rua para pedir transporte mais barato e repudiar a repressão, e que não está disposta a sair das ruas mesmo obtida a primeira vitória que foi a anulação dos aumentos dos preços das passagens decretados no início de junho. O crescimento da onda de protestos levou a presidente Dilma Rousseff a convocar uma reunião de emergência para esta sexta-feira, cancelando uma viagem ao exterior que estava prevista.

Caça ao homem no centro do Rio

Em S. Paulo, a polícia praticamente não atuou, mas no Rio de Janeiro e em Brasília houve confrontos. Na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, registou-se a primeira morte, quando um ativista foi atropelado por um automobilista que investiu sobre a manifestação.

Houve choques entre manifestantes e polícia também em Salvador, Belém, Campinas, Porto Alegre e Fortaleza.

Em Brasília, onde se mobilizaram pelo menos 30 mil pessoas, um grupo mais exaltado tentou invadir o Congresso Nacional e, impedido pela polícia, conseguiu chegar ao palácio do Itamaraty, sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que tentou incendiar, antes de ser repelido pela tropa de choque. Os confrontos deixaram 137 pessoas pessoas feridas, três delas em estado grave, segundo o site da Folha de S.Paulo.

No Rio de Janeiro, a Polícia Militar atacou os manifestantes em frente à Prefeitura da cidade, instalando-se um batalha campal com um pequeno grupo de manifestantes, a que se seguiu uma verdadeira caça ao homem pelas ruas do centro da cidade, já depois de a maior parte dos manifestantes se ter dispersado. Os polícias militares tentaram invadir a sede do Sindsprev, o sindicato dos trabalhadores da Previdência Social, e o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde se tinham refugiado centenas de manifestantes, levando a Ordem dos Advogados do Brasil e inúmeros advogados dos movimentos sociais a mobilizarem-se para defender os ativistas.

Antipartido atacam partidos de esquerda

Em S. Paulo e noutras cidades, houve confrontos entre manifestantes “sem-partido” que exigiam que os partidos de esquerda, como o PSTU, o PSOL, o PCB e o PCO, que apoiam o movimento desde o início, baixassem as bandeiras e se retirassem das manifestações.

Segundo o relato do veterano jornalista Luiz Carlos Azenha, do site Vi o Mundo, os antipartido eram claramente de direita. “A repulsa aos partidos teve cenas preocupantes. Várias bandeiras e faixas vermelhas foram 'capturadas' por incursões no meio da passeata de militantes de esquerda. Numa delas deu para ver claramente a estrela do PT. Em seguida, eram queimadas diante de fotógrafos e cinegrafistas. Assisti a algumas incursões, de longe. Depois de uma delas, no meio da confusão, notei que meia dúzia de militantes levantou seguidamente o braço direito e gritou três vezes sieg heil [a saudação nazi]”.

MPL diz que não vai convocar novas manifestações

Estes episódios lamentáveis levaram mesmo o Movimento Passe Livre – o movimento social que convocou a mobilização contra os aumentos das tarifas em S. Paulo – a anunciar em entrevista à rádio CBN que não vai convocar novas manifestações. “Houve uma hostilidade com relação a outros partidos por parte de manifestantes, e esses outros partidos estavam desde o início compondo a luta contra o aumento e pela revogação", afirmou Douglas Beloni, do MPL.

Além disso, o aumento no número de manifestantes que propõem 'pautas [agendas] conservadoras' também motivou a decisão. "Nos últimos atos pudemos ver pessoas pedindo a redução da maioridade penal e outras questões que consideramos conservadoras. Por isso suspendemos as convocações".

Segundo Douglas, o MPL luta por transporte público, mas apoia outros movimentos sociais que lutam por uma sociedade mais justa e igualitária. "Continuaremos lutando pela tarifa zero, colhendo assinaturas para viabilizar um projeto de lei nesse sentido."

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