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“Jogos de Poder”, uma viagem ao capitalismo de casino à portuguesa
“Esta é a pior crise que qualquer um de nós já viveu e, no entanto, sabemos tão pouco sobre ela…” (p.21), responde o autor a quem queira saber a razão de resumir um ano de investigação jornalística em pouco mais de duzentas páginas: da crise financeira de 2008 à luta pelo domínio do BCP, passando pelos omnipresentes offshores, as OPA’s à PT e BPI, os negócios do BES com a Ongoing ou as fintas de Oliveira e Costa aos reguladores e a dança das cadeiras entre sucessivos governos e o sistema financeiro.
“A captura da política pela banca” é apresentada enquanto fenómeno “generalizado e evidente” (p.117): está nos CV’s dos governantes, mas também dos reguladores: desde 1986, todos os governadores do Banco de Portugal já tinham ocupado lugares importantes quer na banca comercial quer em altos cargos políticos. O livro aponta exemplos dessa promiscuidade entre política e finança, que também está presente em operações como as PPP e os swaps, ou na origem do crescimento exponencial do crédito à habitação e da atividade imobiliária. Foi assim que “os banqueiros construíram uma torre de marfim num pântano” (p.72), que ficou à vista de todos em 2011, com as célebres entrevistas na TV a reclamarem a urgência da intervenção da troika.
A fatura total para os contribuintes da União Europeia, até ao momento, do colapso da aventura dos bancos, já foi estimada em 1,3 biliões de euros. São vinte empréstimos da troika a Portugal ou 15% do PIB dos países da UE gasto em ajudas à banca numa altura em que o desemprego disparou. Esta “bancocracia”, que domina os centros de decisão das escolhas fundamentais e usa a política como porta giratória, esteve na origem da crise, conseguiu transferir as suas perdas para as pessoas e ainda ganha com isso, graças a agências de rating que condenam países à austeridade através das previsões da evolução dos juros das dívidas.
“Jogos de Poder” é uma viagem aos primeiros anos da crise, com escala na Islândia e Hungria, quando os dois países se tornaram, cada um à sua maneira, em laboratórios da democracia sob tutela da austeridade. A conclusão do livro não deixa ninguém tranquilo, na medida em que o poder da bancocracia aumentou e o risco de novas crises também: “A crise foi e ainda é motivada por uma cultura, uma visão política e um modelo económico que permanecem, no essencial, inalterados” (p.199). Sendo um excelente contributo para compreender estes últimos anos, cumpre bem a finalidade enunciada na abertura: “para dar sentido àquela, por vezes menosprezada, função do jornalismo: garantir aos cidadãos informação, verificada, que lhes permita tomar decisões. E escolher.” (p.21).
Artigo de Luís Branco publicado no blogue Inflexão
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JOGOS DE PODER
“Acredito que as instituições bancárias são mais perigosas para as nossas liberdades do que o levantamento de exércitos. Se o povo americano alguma vez que bancos privados controlem a emissão da sua moeda, primeiro pela inflação, e depois pela deflação, os bancos e as empresas que crescerão à roda dos bancos despojarão o povo de toda a propriedade até os seus filhos acordarem sem abrigo no continente que seus pais conquistaram”
Estas palavras foram ditas há 200 anos por Thomas Jeferson, 3º Presidente dos EUA que já vislumbrava na época o agiotismo, a ganância e ambição desmedida dos banqueiros ou corruptos gestores de dinheiros que causariam o pior dos males na Sociedade que tanto verificamos na Actualidade.
Deveriam os governos zelarem pelo Povo a quem devem servir e nunca sacrificar os cidadãos em prol dos que têm o poder do dinheiro na mão e tudo conseguem subjugando ou destruindo uma Nação.
Rui M. Palmela
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