Está aqui

Grécia: um em cada cinco sem abrigo tem um curso superior

"O perfil dos novos sem-abrigo mudou radicalmente”, alerta a Organização Não Governamental grega Klimaka. Quase dois terços (65%) são “novos sem abrigo”, a viver na rua há dois anos ou menos, e um em cada cinco frequentou um curso universitário.
Foto de Paulete Matos.

Um estudo promovido pela Organização Não Governamental (ONG) Klimaka, estabelecida em Atenas, revela que a maior parte dos sem abrigo na Grécia trabalhava em profissões que foram particularmente atingidas pela crise: 24,8% tinham profissões técnicas no setor da construção, 22% eram trabalhadores do setor privado, 18% eram trabalhadores independentes e 16% trabalhavam no setor do turismo.

O documento, divulgado esta quarta feira, aponta ainda que um em cada cinco (20%) sem abrigo completou uma licenciatura. Já no que respeita ao escalão etário, 61% tem idade entre 41 e 55 anos e 21% entre 26 e 40 (21%).

“O perfil dos novos sem-abrigo mudou radicalmente. Antes da crise, a maioria era pessoas com problemas mentais ou de abuso de álcool e drogas”, explicou Olga Theodorikaku, representante da Klimaka, que é citada pela Efe.

A grande maioria dos sem abrigo (64,8%) começou a viver nas ruas há menos de dois anos, ou seja, após a implementação do primeiro pacote de austeridade imposto pela troika, em fevereiro de 2010.

Mais de metade “reside” no centro histórico de Atenas e sobrevive com um orçamento que varia entre 0 e 20 euros mensais.

Ainda que a grande maioria dos sem abrigo tenha esperança que a sua situação possa reverter-se, 18% já tentou suicidar-se, pelo menos, uma vez.

Questionados sobre por que razão se tornaram sem abrigo, 29,8% respondeu que a sua situação resultou de “problemas financeiros” e 17,3% apontou o desemprego como a origem dos seus problemas. Já no que respeita a quem atribuem responsabilidade pela sua situação, quase metade (47,6%) respondeu “os políticos”. 71% dos sem abrigo defende que o Estado deveria ter um papel ativo no que respeita a evitar que os cidadãos sejam privados dos seus direitos mais elementares, tal como acontece com os sem abrigo.

Segundo Theodorikaku, estes cidadãos, muitos deles com sérios problemas de saúde, estão “completamente excluídos do sistema de saúde pública”.

De acordo com a Klimaka, estima-se que existam, atualmente, mais de 20 mil sem abrigo na Grécia.

Portugal: Austeridade aumenta número de sem abrigo

Em março, o coordenador das equipas de ruas da Comunidade Vida e Paz, alertou que são cada vez mais os portugueses a solicitar ajuda às instituições que trabalham com a população sem-abrigo.

“No contato diário de rua nós sentimos que há de facto uma alteração do problema apresentado”, frisou Celestino Cunha, adiantando que antes os problemas relacionavam-se com dependências ou doença mental, sendo que neste momento o desemprego assume uma “relevância importante”.

Também o diretor executivo da CAIS, defendeu, em abril, que a crise económica e social está a alterar o perfil do sem abrigo em Portugal, atingindo “cada vez mais pessoas novas, mais mulheres, com algumas qualificações”.

Termos relacionados Internacional
(...)