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Grécia terá o primeiro Governo de esquerda socialista na Europa, diz Tsipras

Alexis Tsipras, líder do Syriza, está convencido que a Grécia viverá a “experiência-piloto” de um Governo de esquerda na Europa e que terá o apoio dos gregos para “esmagar a ordem estabelecida”.
Alexis Tsipras discursando num comício no Porto organizado pelo Bloco de Esquerda. Foto de Paulete Matos

Em entrevista à agência Lusa, à margem de um comício-festa em Atenas, capital grega, Alexis Tsipras destaca que "o resultado das eleições europeias de maio mostrou que o Syriza é o primeiro partido na Grécia" e sublinha a "clara diferença", de quase quatro por cento, face aos conservadores da Nova Democracia, que, em coligação com os socialistas do Partido Socialista Pan-Helénico (Pasok), estão atualmente no Governo.

Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, o Syriza elegeu seis eurodeputados (26,5 por cento), a Nova Democracia cinco (22,7 por cento) e o Pasok dois (8 por cento).

Apesar de alguns analistas considerarem que as eleições para o Parlamento Europeu não são um barómetro muito fiável para escrutínios nacionais, Alexis Tsipras descarta a hipótese de um voto de protesto sobrevalorizado, recordando que "o Governo apelou diretamente às pessoas para votarem nele, de forma a permanecer no poder".

É por isso que o dirigente político diz acreditar que a "experiência-piloto" de um Governo de esquerda socialista na Europa vai acontecer na Grécia, "porque o Syriza está mais próximo do poder do que os outros movimentos de esquerda alternativos europeus".

Quando questionado sobre se está "convencido" também de que será o próximo primeiro-ministro grego, Tsipras sorri. "A questão é convencer as pessoas, não estar convencido. Mas estou esperançoso", admite.

O líder do Syriza considera que as pessoas querem "uma mudança nas suas vidas", depois de "seis anos consecutivos de recessão" e de o Governo grego "ter prometido renegociar o memorando e feito o oposto, agravando as políticas de austeridade".

Os gregos acreditam que "é necessário dar um passo e confiar na esquerda radical para uma mudança real", considera Tsipras.

"É muito claro que as políticas de recessão não vão continuar por muito tempo e agora é necessário acabar com a austeridade e recuperar a democracia, construindo um futuro mais esperançoso para as pessoas, sobretudo para os jovens", argumenta, recordando que a Grécia tem atualmente "uma inaceitável taxa de 60 por cento de desemprego jovem".

Se chegar ao poder, o líder do Syriza diz que sabe que terá tido o apoio dos gregos para "esmagar a ordem estabelecida", mas descarta que a contestação ao atual sistema implique a saída da Grécia da União Europeia.

"Acho que nos devemos manter na UE, mas temos de mudar o quadro europeu", realça.

"Há muitas ferramentas para mudar o sistema dentro do sistema", observa, destacando a importância da "colaboração" com outros movimentos de esquerda do Sul da Europa.

"O mais importante é a vontade política e os equilíbrios de poder na Europa. Por isso é importante o resultado do Syriza e que as forças de esquerda na Europa estejam a aumentar", afirma.

Tsipras reconhece que o Bloco de Esquerda português, do qual é próximo, não teve um bom resultado nas eleições de maio, elegendo apenas uma eurodeputada. "Mas, em conjunto com os comunistas, aumentou a votação, o que é uma boa mensagem", contrapõe.

Porém, os partidos de extrema-direita também ganharam espaço na UE. Mesmo na Grécia, a Aurora Dourada ficou em terceiro lugar, com 9,4 por cento dos votos, elegendo três eurodeputados. "Esse resultado é um acontecimento negativo para a Grécia e o povo grego", reconhece Tsipras, culpando as políticas de austeridade e a atuação da UE pelo "aumento dos partidos populistas de direita, em França, no Reino Unido, no Norte da Europa".

Isto porque uma UE "que não é democrática nem social afasta as pessoas", observa. "Os neonazis e fascistas", na Grécia e em toda a Europa, "não se interessam por direitos humanos ou laborais", representando "uma verdadeira ameaça para a Europa", alerta.

Recordando o que aconteceu na Europa depois da crise de 1929, Tsipras sublinha que "a ameaça do fascismo é real" e promete combatê-la: "Sei bem que este caminho não é a direito e há muitas dificuldades. O mais importante é ter metas, manter a chama acesa, para convencer as pessoas de que uma verdadeira mudança política é possível na Europa."

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