Está aqui

Fronteiras XXI - Uma Armadilha da Direita

Estreia, no próximo dia 1 de fevereiro na RTP3, o programa Fronteiras XXI, resultante de uma parceria entre esta estação e a Fundação Francisco Manuel dos Santos. Artigo de Ricardo Silva.
Na foto: Alexandre Soares dos Santos

Após controlar toda a imprensa em papel e estações televisivas, a direita - agora através da sua Fundação satélite - infiltra-se agora, ainda mais, na RTP. Fundação que, diga-se, tem entre os seus dirigentes Alexandre Soares dos Santos (patrão da Jerónimo Martins), D. Manuel Clemente, António Lobo Xavier (CDS) e Luís Valente de Oliveira (PSD).

Como primeiro tema a ser abordado teremos o populismo.

Ao ler todos os artigos publicados no site do projeto (fronteirasxxi.pt), é possível verificar que partidos como o Die Linke ou o Podemos são rotulados de “populistas”, juntamente com partidos de extrema-direita. Ignorando as ligações destes últimos (partidos de extrema-direita) ao poder instalado - sobretudo económico - foco-me na descrição que é feita dos partidos populistas nos vários artigos:

Apoiam a soberania popular e a regra da maioria;

Rejeitam o pluralismo e os direitos das minorias;

Desafiam os partidos convencionais e ameaçam a democracia, por não serem liberais;

Discurso de café carregado de demagogia;

Divide a população entre “puros” e “elite mafiosa”;

À esquerda, os inimigos são as grandes empresas e a oligarquia.

Em primeiro lugar, o objetivo dos argumentos destes “cientistas” (nada parciais) - como Cas Mudde - é descredibilizar partidos na linha do Die Linke e do Podemos, rotulando-os de populistas e identificando características em comum com partidos de extrema-direita, fazendo parecer tudo “farinha do mesmo saco”. Desta forma, transmitem a mensagem de que a população deve ter tanto medo de um partido da Esquerda Europeia como de um UKIP ou Frente Nacional.

Quando ao n.º1, formulo apenas a seguinte questão: os partidos membros do PPE e sociais-democratas não defendem o mesmo ?

Relativamente ao argumento nº2: há que fazer aqui uma clara distinção entre partidos de extrema-direita e partidos de esquerda. Sabemos bem qual é a posição dos primeiros relativamente ao pluralismo e às minorias. Mas sabemos igualmente bem qual a posição de partidos ligados à FFMS (PSD/CDS) relativamente às minorias (visto representarem apenas os poucos % da população - o patronato/capital - que explora os outros muitos %). E formulo uma questão: partidos/movimentos com a estrutura interna do Podemos ou do Die Linke rejeitam o pluralismo ?

No entanto, considero o n.º 3 o argumento mais estúpido de todos. Em primeiro lugar, porque desafiar partidos corruptos que se perpetuam no poder durante décadas não pode ser algo negativo; não há partidos de primeira e partidos de segunda. Em segundo lugar, porque é possível defender a democracia sem ser liberal e sem defender o capitalismo.

No que diz respeito ao argumento n.º 4: se quisermos identificar um discurso de café carregado de demagogia e populista, basta recordarmos Pedro Passos Coelho (versão 2011) - JN: “O presidente do PSD rejeitou, quarta-feira, "mais aumento de impostos" se vier a ser primeiro-ministro após as eleições legislativas de 5 de Junho e acusou o adversário socialista de ser "exímio em dizer o que não é".” Talvez se referisse apenas a impostos como o IRC.

No n.º 5 (ao qual junto o 6), pergunto apenas: quem mais sofreu ou vai sofrer com a austeridade imposta por elites envolvidas nos Panama Papers, LuxLeaks ? Ou com elites que negociaram o CETA (um favorzinho às multinacionais) ? Foi e vai ser quem vive dos rendimentos do seu trabalho.

As propostas e os argumentos de partidos como o Podemos e o Die Linke são certas, e a prova disso é que perturbam o inimigo, que manipula a opinião pública a seu favor, rotulando-os de populistas (conotação negativa). Infelizmente, os opinion-makers da direita conservadora neoliberal estão mais preocupados em criticar e anular a Esquerda Europeia do que numa autocrítica, em que poderiam entender que são a causa do crescimento de partidos que ameaçam, de facto, a democracia e a liberdade de expressão, etc… Partidos como Podemos e Die Linke (os tais populistas mauzões) são a verdadeira alternativa ao projeto neoliberal europeu (e espanhol/alemão). 


Se ser populista é dizer a verdade, então sim, são populistas e isso é algo positivo (ao contrário do populismo da extrema-direita) !

Artigo de Ricardo Silva, estudante.

Termos relacionados Comunidade
Comentários (2)