França: Abstenção cresce, maioria de Macron desce

18 de junho 2017 - 21:08

Jean-Luc Mélenchon, eleito em Marselha, avisa que "a abstenção esmagadora" significa que Macron não tem legitimidade "para destruir o Estado Social".

PARTILHAR
Emmanuel Macaron nas comemorações de 18 de junho do General de Gaulle, por Bertrand Guay, POOL/Lusa.
Emmanuel Macaron nas comemorações de 18 de junho do General de Gaulle, por Bertrand Guay, POOL/Lusa.

Sem surpresas, o República em Marcha! de Emmanuel Macron (em aliança com o Modem de François Bayrou) obterá uma maioria clara na Assembleia Nacional. Contudo, a desmobilização histórica entre a primeira e segunda voltas corroeu as expectativas criadas de uma super-maioria acima dos 400 deputados (em 577), apontando as projeções antes para 361 eleitos, dos quais 319 afetos ao En Marche!. 

 

Abstenção histórica na segunda volta 

Participação à primeira e segunda voltas das legislativas em França desde 1959. Fonte: lemonde.fr
Participação à primeira e segunda voltas das legislativas em França desde 1958. Fonte: lemonde.fr

Se a participação na primeira volta apresentou um nível histórico de 50,3%, na segunda volta o recorde da semana anterior foi ultrapassado, com apenas 43,4% dos eleitores a irem às urnas, uma abstenção de 56,6%. 

Este nível de variação entre a primeira e segunda voltas é também uma novidade, não se registando nada de semelhante nas eleições legislativas francesas desde 1958.

Desmobilização potencia pequenos partidos

O principal fator destas eleições legislativas parece ser a fraca mobilização em torno do En Marche! que, segundo as projeções, permitiu um salto de 2 para 8 eleitos pela Frente Nacional de Marine Le Pen face às eleições de 2012. 

Ainda à direita, os Republicanos somam 128 eleitos, perdendo 66 deputados face a 2012, o que resulta em dois atos eleitorais em perda (o partido tinha 313 deputados na Assembleia Nacional antes de 2012). 

Pelo seu lado, o Partido Socialista surge como grande derrotado do dia, passando de 280 para 48 deputados eleitos (dos quais 12 são afetos a aliados do PSF). Benoit Hamon, líder do partido, foi derrotado logo à primeira volta. 

A França Insubmissa (FI) de Jean-Luc Mélenchon chegará aos 16 deputados eleitos, e o PCF conseguirá 10 deputados. Ao todo, este bloco deverá agrupar 26 deputados, um aumento significativo face aos 10 eleitos por ambos em 2012 na candidatura da Front de Gauche. 

Mélenchon derrota candidata do En Marche!

“Informo o novo poder que nem um metro de terreno do direito social lhe será cedido sem luta”, começou por dizer Jean-Luc Mélenchon, que viu confirmada a sua eleição em Marselha com 60% dos votos, no círculo Bouches-du-Rhône, vencendo a candidata do En Marche!, Corinne Versini. 

Sobre a maioria de Macron, Jean-Luc Mélenchon alerta para “a abstenção esmagadora que se exprimiu hoje tem um significado político de ataque. O nosso povo entrou numa greve geral cívica, fazendo a demonstração do estado de exaustão das instituições que pretendem organizar a sociedade através de uma minoria curta que concentra todos os poderes. Vejo nesta abstenção uma energia disponível que nós temos de saber chamar para o combate.” 

E acrescentou: “Esta maioria inchada que se formou na Assembleia Nacional, não tem, aos nossos olhos, a legitimidade para perpetrar o golpe ao Estado Social que está em preparação: a destruição de toda a ordem pública social pela revogação do código do trabalho. Ela não tem a legitimidade para transformar as liberdades públicas no sentido da repressão, inculcando na lei ordinária as disposições do estado de urgência. Pelo contrário, é a resistência total que tem legitimidade nestas circunstâncias.”

#Vallstricheur 

Emmanuel Valls, ex-primeiro ministro de François Hollande que abandonou o Partido Socialista a favor de Emmanuel Macron nas presidenciais, tentou ser candidato pelo En Marche! mas foi recusado. Ainda assim, lançou uma candidatura pessoal na primeira circunscrição de Essone, por onde foi eleito em 2012. Foi desafiado por Farida Amrani, da França Insubmissa, que obteve 17,6% dos votos na primeira volta. 

Esta noite, Valls anunciou a vitória com apenas 139 votos de vantagem. Contudo, as várias irregularidades noticiadas na contagem de votos deverão forçar uma recontagem. Após o anúncio de Valls, a França Insubmissa declarou no twitter que “os resultados de duas mesas de voto não foram disponibilizadas aos militantes da FI. Ambas declararam vantagem de Valls.” 

Agora, sob a hashtag #Vallstricheur, anunciam também no twitter que “Farida Amrani reivindica a vitória na primeira circunscrição de Essone, e anuncia um recurso” que obrigará a uma recontagem dos votos.