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Facebook e os incêndios em Portugal: um caso de irresponsabilidade social
Reitero as palavras ontem proferidas de imenso orgulho pela pronta solidariedade demonstrada pela nossa gente e, de igual forma, por todos os amadores e profissionais que tudo fazem, sem mãos a medir, para combater os fogos que ainda consomem o país.
Não posso, perante este cenário, deixar passar em branco aquela que me parece uma gravíssima falha, profunda em irresponsabilidade social.
Em Portugal 4,7 milhões de pessoas utilizam o Facebook, de acordo com estatísticas da própria empresa, que adianta que a nação se posiciona em 34º na lista de países com acesso à rede social. No entanto, perante uma situação monstruosa, de calamidade inqualificável, assistimos a um total desinteresse e falta de consideração por estes utilizadores.
Passo a explicar: foi lançada em 2014 uma plataforma ou funcionalidade, que muitos devem conhecer, chamada Facebook Safety Check, em português Centro de Segurança ou Resposta a Situações de Crise.
O objectivo desta ferramenta é permitir que, em situação de desastre natural ou atentado humano, os utilizadores possam perguntar e/ou informar amigos de que se encontram seguros. Além de outras ferramentas, mais concretamente oferecer/procurar ajuda nas áreas afetadas e iniciar angariação de fundos e donativos para apoiar esforços de recuperação de prejuízos.
A ideia, tendo em conta a dimensão da rede social, que ainda ontem se demonstrou o principal veículo de comunicação e oferta de ajuda, é maravilhosa. Pena é que não sirva Portugal. Estranhamente e por razões que me são alheias, parece que estamos excluídos.
Ora, pergunto-me de que difere a desgraça de ontem do incêndio que, lamentavelmente, deflagrou em Vigo e que já terá causado, tanto quanto sei, três baixas?! Podem, justamente, encontrá-lo em https://www.facebook.com/crisisresponse/. Certo é que não encontrarão a tragédia que atingiu Portugal.
Terá o Facebook a audácia de considerar o desastre deste domingo e que rompeu noite adentro, um acontecimento sem significado? Não merecerá a atenção da rede social?
Recordo, com imenso pesar, que estamos a falar de uma verdadeira calamidade. Mais de 400 incêndios deflagraram, afetando toda a zona a norte do Tejo. Tanto quanto se sabe são mais de 30 mortes, 51 feridos, 14 em estado grave e prejuízos incontáveis. Enquanto escrevo esta denúncia, ainda persistem 145 incêndios.
A noite passada foi aterradora e partilhada por todos, de uma forma ou de outra. A tantos faltaram os meios necessários. A preocupação com amigos e familiares em zonas afetadas foi e é genuína e por toda a rede se assistiu e assiste a pedidos individuais de ajuda e ofertas da mesma.
É deplorável que o sistema de Resposta a Situações de Crise não tenha sido ativado, tão útil e tranquilizante que teria sido para tantos.
A indignação e revolta que sinto é inqualificável. Passei a noite a tentar ativar o sistema, mas sem qualquer sucesso.
Ao que parece é o próprio Facebook a avaliar e a iniciar a situação de Crise. Como imaginam, nestas circunstâncias, é dificílimo contactar a proteção civil ou autoridades competentes. Muito mais quando as redes estão sobrecarregadas de pedidos de ajuda aos quais não ousei sobrepor-me.
Quanto ao Facebook, enquanto Gestor de Redes Sociais, há muito que conheço o péssimo serviço de apoio que disponibiliza. Seja para questões pessoais, sociais ou até comerciais. É uma verdadeira vergonha que disponibilizem esta ferramenta de Situações de Crise, sem que possibilitem o contacto dos utilizadores para fazer o alerta.
Contactei o Facebook e a Protecção Civil pelos formulários de contacto disponíveis, mas, até ao momento, como era de prever, não obtive qualquer resposta.
Todo o modo, não acredito, que a situação lhes fosse ou seja alheia. É um sinal de profundo desrespeito pela população portuguesa, que tanto rendimento lhes dá. Missão e valores? Responsabilidade social? Solidariedade? Poupem-me. É nos momentos de necessidade que se comprovam este intentos.
Passará em branco esta inclassificável e revoltante indiferença? Não será, ainda, oportuno ativar a ferramenta para uma articulação online de ajuda e assistência e, mais ainda, uma angariação de fundos para ajudar os lesados? Não deveria a empresa multibilionária de Zuckerberg envergonhar-se e tomar ação neste sentido?
Peço a todos que partilhem esta denúncia, contra o esquecimento e contra a falta de respeito para com os Portugueses num momento de tanta angústia.
Por Ricardo Santos, deputado municipal do Bloco em Ílhavo. Publicado a 16 de outubro no Facebook.
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