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Facebook e os incêndios em Portugal: um caso de irresponsabilidade social

Terá o Facebook a audácia de considerar o desastre deste domingo e que rompeu noite adentro, um acontecimento sem significado? Por Ricardo Santos.
Ferramenta do Facebook para alerta em situações de crise não esteve disponível em Portugal durante os incêndios dos últimos dias.

Reitero as palavras ontem proferidas de imenso orgulho pela pronta solidariedade demonstrada pela nossa gente e, de igual forma, por todos os amadores e profissionais que tudo fazem, sem mãos a medir, para combater os fogos que ainda consomem o país.

Não posso, perante este cenário, deixar passar em branco aquela que me parece uma gravíssima falha, profunda em irresponsabilidade social.

Em Portugal 4,7 milhões de pessoas utilizam o Facebook, de acordo com estatísticas da própria empresa, que adianta que a nação se posiciona em 34º na lista de países com acesso à rede social. No entanto, perante uma situação monstruosa, de calamidade inqualificável, assistimos a um total desinteresse e falta de consideração por estes utilizadores.

Passo a explicar: foi lançada em 2014 uma plataforma ou funcionalidade, que muitos devem conhecer, chamada Facebook Safety Check, em português Centro de Segurança ou Resposta a Situações de Crise.

O objectivo desta ferramenta é permitir que, em situação de desastre natural ou atentado humano, os utilizadores possam perguntar e/ou informar amigos de que se encontram seguros. Além de outras ferramentas, mais concretamente oferecer/procurar ajuda nas áreas afetadas e iniciar angariação de fundos e donativos para apoiar esforços de recuperação de prejuízos.

A ideia, tendo em conta a dimensão da rede social, que ainda ontem se demonstrou o principal veículo de comunicação e oferta de ajuda, é maravilhosa. Pena é que não sirva Portugal. Estranhamente e por razões que me são alheias, parece que estamos excluídos.

Ora, pergunto-me de que difere a desgraça de ontem do incêndio que, lamentavelmente, deflagrou em Vigo e que já terá causado, tanto quanto sei, três baixas?! Podem, justamente, encontrá-lo em https://www.facebook.com/crisisresponse/. Certo é que não encontrarão a tragédia que atingiu Portugal.

Terá o Facebook a audácia de considerar o desastre deste domingo e que rompeu noite adentro, um acontecimento sem significado? Não merecerá a atenção da rede social?

Recordo, com imenso pesar, que estamos a falar de uma verdadeira calamidade. Mais de 400 incêndios deflagraram, afetando toda a zona a norte do Tejo. Tanto quanto se sabe são mais de 30 mortes, 51 feridos, 14 em estado grave e prejuízos incontáveis. Enquanto escrevo esta denúncia, ainda persistem 145 incêndios.

A noite passada foi aterradora e partilhada por todos, de uma forma ou de outra. A tantos faltaram os meios necessários. A preocupação com amigos e familiares em zonas afetadas foi e é genuína e por toda a rede se assistiu e assiste a pedidos individuais de ajuda e ofertas da mesma.
É deplorável que o sistema de Resposta a Situações de Crise não tenha sido ativado, tão útil e tranquilizante que teria sido para tantos.

A indignação e revolta que sinto é inqualificável. Passei a noite a tentar ativar o sistema, mas sem qualquer sucesso.

Ao que parece é o próprio Facebook a avaliar e a iniciar a situação de Crise. Como imaginam, nestas circunstâncias, é dificílimo contactar a proteção civil ou autoridades competentes. Muito mais quando as redes estão sobrecarregadas de pedidos de ajuda aos quais não ousei sobrepor-me.

Quanto ao Facebook, enquanto Gestor de Redes Sociais, há muito que conheço o péssimo serviço de apoio que disponibiliza. Seja para questões pessoais, sociais ou até comerciais. É uma verdadeira vergonha que disponibilizem esta ferramenta de Situações de Crise, sem que possibilitem o contacto dos utilizadores para fazer o alerta.

Contactei o Facebook e a Protecção Civil pelos formulários de contacto disponíveis, mas, até ao momento, como era de prever, não obtive qualquer resposta.

Todo o modo, não acredito, que a situação lhes fosse ou seja alheia. É um sinal de profundo desrespeito pela população portuguesa, que tanto rendimento lhes dá. Missão e valores? Responsabilidade social? Solidariedade? Poupem-me. É nos momentos de necessidade que se comprovam este intentos.

Passará em branco esta inclassificável e revoltante indiferença? Não será, ainda, oportuno ativar a ferramenta para uma articulação online de ajuda e assistência e, mais ainda, uma angariação de fundos para ajudar os lesados? Não deveria a empresa multibilionária de Zuckerberg envergonhar-se e tomar ação neste sentido?

Peço a todos que partilhem esta denúncia, contra o esquecimento e contra a falta de respeito para com os Portugueses num momento de tanta angústia.


Por Ricardo Santos, deputado municipal do Bloco em Ílhavo. Publicado a 16 de outubro no Facebook.

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