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Estudos concluem: o carvão é caro e vai ser mais caro no futuro

Dois novos estudos mostram que o carvão é menos abundante e mais caro e o seu uso mais prejudicial para o ambiente e a saúde humana que o defendido pela indústria.
Políticas industriais e agrícolas alternativas para as regiões produtoras de carvão são necessárias, apoiando o fabrico e instalação de tecnologias ligadas a energias renováveis. Foto de davipt, Flickr.

Os resultados apresentados anunciam um futuro negro para uma das indústrias mais poluentes do mundo. O primeiro estudo, publicado na Nature, revê em baixa as estimativas de produção de carvão no futuro, estimando que o seu preço pode começar a subir já no fim desta década. A previsão, realizada por David Fridley and Richard Heinberg, investigadores do Post-Carbon Institute (Instituto Pós-Carbono, dos EUA), baseia-se em duas observações. Por um lado, estudos recentes têm sugerido que as reservas de carvão de alta qualidade acessíveis se irão esgotar bem mais rapidamente que o estimado pelos principais países produtores de carvão. Por outro, a procura global tem aumentado muito rapidamente, sobretudo graças à industrialização da China. A China é hoje o maior consumidor e produtor de carvão e a sua influência na evolução dos preços do carvão não deve ser subestimada, salientam os autores.

O segundo estudo, a ser publicado brevemente no Annals of the New York Academy of Sciences, apresenta uma estimativa para o custo social e ambiental do carvão. Cientistas da Harvard Medical School recolheram dados sobre os danos para a saúde e para o ambiente da queima de carvão e estimam que o seu custo pode ascender a 345 mil milhões de dólares nos EUA. A figura é suficientemente elevada para aumentar o custo do carvão para o dobro do anunciado pela indústria, tornando as renováveis uma opção mais atractiva, sendo que os autores salientam que o valor real será muito superior, dado que muitos custos não foram considerados por indisponibilidade de dados.
Os autores deste estudo apresentam as seguintes recomendações:
As políticas de energia futuras devem ter em conta análises comparativas do custo em todo o ciclo de vida das tecnologias de geração de electricidade.
Devemos abandonar progressivamente o uso de carvão e investir em redes inteligentes abastecidas por energias limpas.
O futuro passa por termos mais veículos eléctricos alimentados por energias renováveis, melhores transportes públicos e maior investimento em eficiência e conservação de energia nos edifícios.
Políticas industriais e agrícolas alternativas para as regiões produtoras de carvão são necessárias, apoiando o fabrico e instalação de tecnologias ligadas a energias renováveis.
Há que fechar as minas de carvão, assegurando o tratamento das águas subterrâneas.
Uma taxa sobre o carvão deve ser implementada e os seus fundos destinados à compensação dos trabalhadores da indústria do carvão e o investimento em fontes alternativas de energia.
A captura e armazenamento de carbono, apresentada pela indústria do carvão como a forma de tornar esta fonte de energia numa fonte limpa, não foi incluída na lista de recomendações porque os riscos para a saúde e para o ambiente são demasiado elevados. O facto de o custo desta tecnologia ser suficiente para duplicar o preço da electricidade gerada a partir do carvão também contribui para que esta seja uma falsa solução.
Os autores concluem que "A nossa dependência em combustíveis fósseis está a mostrar-se cara para a sociedade, tendo um impacto negativo nas nossas carteiras e na nossa qualidade de vida". Tendo em conta que o governo português pretende abrir uma nova central a carvão em Sines, esta conclusão é também relevante para nós.

Fonte: Post Carbon Institute (http://us1.campaign-archive1.com/?u=311db31977054c5ef58219392&id=15036e67ae&e=0e7cc3d77c)

Sobre o/a autor(a)

Ricardo Coelho, economista, especializado em Economia Ecológica
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