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A esquerda deve ser patriótica?

Este foi o tema que animou outra sessão do Fórum Socialismo 2015, realizado no último fim-de-semana no Porto. Os debatedores foram o historiador José Neves e o dirigente bloquista Luís Fazenda, que abordaram de vários ângulos os conceitos de nacionalismo e patriotismo e a sua articulação com o socialismo, sem esquecer a questão mais recente da União Europeia e o suposto esbatimento das fronteiras nacionais. Todo o debate pode ser ouvido aqui.
A mesa do debate. Foto de Paulete Matos
A mesa do debate. Foto de Paulete Matos

O historiador José Neves começou por afirmar que a questão proposta “está muito marcada pelo contexto político-institucional português e europeu e portanto tem um pano de fundo, a questão europeia e a discussão sobre o euro.”

Prometendo não fugir a essa questão, José Neves recordou que “a discussão entre a esquerda coloca-se muito antes de haver UE e tem um conjunto de implicações que estão muito para lá da questão europeia no sentido muito estrito”. Para o historiador, “é uma questão fundadora, senão da esquerda, pelo menos de um conjunto de fraturas” na sua história – na I Guerra Mundial houve uma “uma das principais divisões na história da esquerda, entre uma tradição mais reformista e uma tradição mais revolucionária”.

Por outro lado, a questão de o que a esquerda pode e deve fazer com a questão das identidades nacionais “tem estado presente em todos os debates sobre a chamada globalização”, onde se debate “se as entidades nacionais persistem ou se estão em vias de desaparição” e entre estas duas opções de resposta “têm-se organizado muitos debates políticos, académicos, intelectuais”.

Ouça aqui a primeira intervenção, completa, de José Neves.

Já o deputado e fundador do Bloco de Esquerda Luís Fazenda começou por comentar: “Se formos aqui ao lado à Galiza e conversarmos com os nacionalistas galegos e mostrarmos algum tipo de alergia ou urticária em relação à palavra nacionalismo eles, ficam logo muito irritados connosco: 'Não, há um nacionalismo progressivo e um nacionalismo reacionário, nós somos do campo do nacionalismo progressista.'”

Fazenda recordou que esta posição dos galegos, dos catalães, dos irlandeses, é tributária de uma tradição nacionalista que vem da II Internacional – citando James Connolly, um irlandês marxista, contemporâneo de Lenine. O dirigente bolchevique aplaudiu-o, disse Luís Fazenda, “apesar de Connolly ter uma ideia diferente acerca da evolução do nacionalismo do que tiveram os comunistas russos ou até Lenine”.

Mas, sublinhou o deputado do Bloco, “esse nacionalismo é oriundo da tentativa de fusão da ideia socialista e da ideia nacional. Procurando a autodeterminação de uma comunidade, de um povo, de uma realidade nacional, como aqui já se falou”.

Sobre o conceito de patriotismo, “se perguntarmos a um galego de esquerda qual a diferença entre nacionalismo e patriotismo, ele não vê nenhuma. O dia 25 de julho, que é celebrado todos os anos como o dia nacional, é o dia da pátria galega”.

Luís Fazenda observou ainda que em Portugal “usou-se muito a palavra pátria, para a dissociar do nacionalismo salazarista e de outro tipo de nacionalismos que eram claramente reacionários. “Mas a diferença conceptual é muito ténue”.

Ouça aqui a primeira intervenção, completa, de Luís Fazenda.

Ouça a primeira parte das intervenções do público.

Segunda intervenção de Luís Fazenda.

Segunda intervenção de José Neves.

Segunda parte das intervenções do público.

Conclusão de José Neves

Conclusão de Luís Fazenda

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