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Esmoriz: Requalificação da Barrinha exige monitorização ambiental

As obras de requalificação e valorização da Barrinha de Esmoriz e Lagoa de Paramos já uniram as margens das freguesias banhadas pela laguna, mas são os focos de poluição que persistem e os dragados bombeados para o mar, que estão a manchar esta intervenção que se propõe repor o sistema aquático e reabilitar o dique-fusível. Bloco questiona Governo. Por José Lopes
Barrinha de Esmoriz - Fotos de José Lopes
Barrinha de Esmoriz - Fotos de José Lopes

As obras de requalificação e valorização da Barrinha de Esmoriz e Lagoa de Paramos, da responsabilidade da Polis Ria de Aveiro, que arrancaram em setembro de 2016, depois de várias décadas adiadas, cofinanciadas pelo Programa Operacional de Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos – PO SEUR, com contribuição do Fundo de Coesão em quase 4 milhões de euros, para um custo total de mais de 5 milhões de euros, já uniram as margens das freguesias banhadas pela laguna, como são Esmoriz (Ovar) e Paramos (Espinho), mas são os focos de poluição que persistem e os dragados bombeados para o mar, que estão a manchar esta intervenção que se propõe repor o sistema aquático e reabilitar o dique-fusível.

Ainda que ao longo da fase de despoluição em curso, os sistemas de bombagem dos dragados do leito da Barrinha estivessem previstos em relatório de conformidade ambiental, que identifica 85% dos dragados como sedimentos com qualidade suficiente para serem depositados diretamente na praia, enquanto outra parte a serem despejados diretamente no mar, a partir do topo do esporão. No entanto, o cenário a que se vem assistindo nesta operação de dragagem, em que os sedimentos depositados diretamente na praia, que se previa ser local apropriado, levantaram algumas inquietações sobre os riscos ambientais da sua deposição em plena areia, numa praia de Bandeira Azul que exigiria uma monitorização mais preventiva.

 

 

 

Os sinais de valorização da área envolvente da Barrinha ganham forma com a construção de passadiços com diferentes percursos e zonas de acessibilidade às margens unidas por uma ponte próxima da foz, que já liga Esmoriz a Paramos entre uma outra construída sobre o Rio Maior, junto ao Aeródromo de Paramos. Passagens entre margens que unem também uma vasta rede de passadiços junto ao mar e campos dunares, entre os concelhos de Ovar, Espinho e Vila Nova de Gaia.

 

 

 

Sobretudo a ponte mais relevante em madeira sobre este futuro espelho de água, assente em pontões de betão, tem particular significado para a comunidade local, para quem as águas da Barrinha foram há muitas década, fonte de sobrevivência, particularmente na pesca de que dependiam várias famílias, que no inverno recorriam às suas águas mais calmas, enquanto nas restantes épocas lutavam no mar para ganhar o pão.

Tratava-se de um valioso património natural para onde desaguam várias linhas de água que as marés do mar ajudavam a regenerar, até ao estado de degradação e poluição a que acabou votada a Barrinha nas últimas décadas, quebrado que foi o ciclo de relação com o mar em que prevaleceu o assoreamento e a lenta agonia desta reserva natural, que beneficia agora de um significativo esforço e investimento para a sua valorização.

Problemas não contemplados na requalificação

No entanto, nesta inevitável caminhada de intervenção para salvar este ecossistema que é a Barrinha, as preocupações com o desenrolar dos trabalhos fazem-se ouvir, e neste caso, de “problemas carentes de solução e não contemplados nesta requalificação”, como sublinha o Bloco de Esquerda em missiva enviada ao Ministério do Ambiente e à Câmara Municipal de Ovar, após uma visita à praia de Esmoriz, por parte de uma delegação deste partido que incluía o deputado na Assembleia da República, Moisés Ferreira.

O Bloco questiona não só, “a qualidade dos dragados que estão a ser bombeados diretamente para a praia”, assim como, “o que poderão ser os dragados de má qualidade, face à qualidade dos que estão a ser depositados na praia”. Indicadores inquietantes que levou também a perguntar em requerimento, “se têm sido devidamente monitorizados”.

Neste processo é também levantado o véu de que se pode estar perante, “a possibilidade de a quantidade dos dragados ter sido subestimada nas fases preparatórias”.

Preocupante ainda, para as estruturas locais do Bloco de Esquerda de Ovar e Santa Maria da Feira é o facto de, estas dragagens e as obras de requalificação, “estejam a ser feitas não se resolvendo os problemas a montante”, ou seja, os efluentes da laguna, Ribeira de Rio Maior e Vala de Maceda, que nascem ambos no município da Feira e desaguam em Paramos e Esmoriz.

 

Através de requerimento no Parlamento, o deputado Moisés Ferreira, chama ainda a atenção que, “não resolver estes problemas, em particular, os relativos à poluição, é continuar a colocar o ónus da poluição sobre as populações locais, a Barrinha e os ecossistemas marinhos da nossa costa, beneficiando apenas o poluidor não pagador. Não eliminar a poluição a montante é empurrar o problema com a barriga e comprometer a laguna e a população com a necessidade de novas ações de dragagem no futuro próximo”.

Mesmo com as dúvidas em termos ambientais que o processo de dragagem e o depósito dos sedimentos podem motivar, agravado com o aproximar da época balnear. As obras de requalificação e valorização da Barrinha, são só por si, a grande oportunidade de tornar os cidadãos mais ativos e interventivos defensores da preservação e consolidação ecológica deste novo espaço de partilha com a natureza em todas as suas vertentes. Uma mais-valia deste território que os seus utilizadores assumirão em mãos para que não volte a ser um pântano.

Artigo e Fotos de José Lopes, publicado em etcetaljornal.pt

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