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"Do que os gregos têm medo é que voltem a ganhar os defensores do memorando"

Argiris Panagopoulos, jornalista do diário Avgi e militante do Syriza, falou ao esquerda.net sobre a campanha eleitoral na Grécia e o rumo do Syriza.
Argiris Panagopoulos esteve em Lisboa e no Porto nas sessões de solidariedade com o Syriza promovidas pelo Bloco de Esquerda a 9 e 10 de janeiro

A duas semanas das eleições, que previsão fazes da composição do futuro parlamento?

Creio que depois das eleições podemos ter um parlamento com uma maioria absoluta do Syriza. Esse é o nosso objetivo. Mas queremos ter também alianças com outros partidos para aplicar o nosso programa pela renegociação da dívida, um plano de desenvolvimento para criar emprego e começar a mudar todos estes desastres que os memorandos fizeram ao nosso país.

O Syriza já é o primeiro partido na Grécia, como vimos nas últimas eleições para o parlamento europeu. O nosso objetivo agora é governar. O Syriza não é um partido de protesto ou de oposição. Somos um partido de esquerda para governar e temos um programa. Muitos querem evitar discuti-lo, porque temos propostas que não têm nenhum custo económico, são decisões simplesmente políticas, tal como o foi este massacre da dívida na Europa do Sul.

Todas as nossas alianças dependem da aceitação dos pontos principais do nosso programa. Não podemos oferecer cheques em branco a ninguém. Temos um compromisso com os nossos militantes, com os nossos eleitores e com o povo grego para sair da crise. Queremos propostas concretas em cima da mesa e nada fora da política, com muita transparência.  

É verdade que o Syriza moderou o discurso e é hoje menos radical do que era há dois anos?

Não sei se o Syriza é muito ou pouco radical: é o Syriza. Sei que o que temos de fazer, na Grécia como no Sul da Europa, é revolucionário: acabar com a austeridade, com o massacre dos direitos sociais, económicos e políticos dos nossos povos, essa é a medida para vermos o que é o Syriza. Podemos avaliá-la também pelas reações dos seus adversários, ouvimos Merkel, Schäuble e esse grande corrupto do Juncker, ou os media conservadores. Eles já mudaram o seu discurso e vêem como possível e provável não apenas a vitória do Syriza, mas também a redução da dívida ou uma conferência sobre a dívida para acabar com este calvário.

Somos a receita para salvar a Europa, a UE e o euro da fragmentação. Os verdadeiros inimigos da Europa têm estado em Bruxelas e em Berlim.

Que política de aliancas? O Syriza quer governar com quem?

Temos uma grande abertura ao diálogo e às alianças, foi assim que o Syriza se formou, juntando muitos grupos de esquerda. Para nós é muito importante dizer que queremos colaborar com a Esquerda Democrática e os Verdes. Alexis Tsipras apelou também ao PC grego e ao Antarsya para irmos todos juntos às eleições. O importante é saber como vamos pedir o voto dos cidadãos e queremos fazê-lo com toda a transparência. Não basta dizer que queremos correr com os governantes do memorando sem propor alguma coisa diferente.

Custa-nos muito ver que a esquerda não se possa unir para derrotar estes bárbaros. Fizemos a mesma proposta em 2012 e foi recusada. A mensagem do Syriza é que unidos podemos vencer, porque nós queremos ganhar estas eleições e ter um governo de esquerda estável e com uma maioria absoluta.

Custa-nos muito ver que a esquerda não se possa unir para derrotar estes bárbaros. Fizemos a mesma proposta em 2012 e foi recusada. A mensagem do Syriza é que unidos podemos vencer, porque nós queremos ganhar estas eleições e ter um governo de esquerda estável e com uma maioria absoluta. Não queremos que cada um cultive o seu pequeno jardim, porque assim não vamos a lado nenhum. A solução é colaborarmos com os nossos pontos em comum. Não entendo porque é que não podemos fazer juntos com o PC grego uma batalha pela redução da dívida, ou porque não pudemos fazer juntos fora do parlamento as batalhas contra os despedimentos no setor público e etc. Na esquerda, um mais um não faz dois, faz 42. É o que mostra o Syriza, desde os 4 e pouco por cento que tinha há poucos anos até pedir as chaves do governo para mudar o país.

Repito: não somos uma esquerda de oposição de de protesto, uma esquerda marginal. Temos uma proposta forte para mudar a Grécia e a Europa. Isto é importante: se não houver uma mudança na Europa, todas as lutas nacionais serão inúteis. O nosso adversário político está em Bruxelas e Berlim e temos de encontrar soluções europeias.

Na semana passada veio um dirigente francês do BCE dizer que não é possível renegociar a dívida. Como reage a população a estas declarações?

Essa é uma receita que já aplicaram em 2012. É a receita do medo. Sim, há uns tratados que dizem muitas coisas. Mas o que são os Tratados? São papel, são decisões políticas. Dizemo-lo desde o início da crise: podemos estar tranquilos quanto aos tratados, podemos sempre mudá-los. O que está nos Tratados já sabemos bem que não resulta, nem na Grécia nem em Portugal ou na Irlanda, Espanha e até França.

Estamos nisto para ganhar e para mudar, não para fazer as mesmas políticas dos outros. Conseguimos provar em pouco tempo que trazemos uma mudança qualitativa de governação. E nos próximos meses tomaremos mais iniciativas a nível regional para aumentar a participação dos cidadãos, que têm de estar na primeira linha destas mudanças.

Na Grécia, todos temos medo, mas é medo de que ganhem as eleições os que querem prosseguir esta política que destrói as nossas vidas. Pelo contrário, é a perspetiva de mudança que nos dá esperança. Merkel, Schäuble, a Comissão Europeia, os especuladores dos mercados fazem todos o seu jogo e querem que as pessoas acreditem que vão perder o seu dinheiro e as suas casas se o Syriza ganhar.

O Syriza é um partido que não tem acesso aos grandes media, que pertencem aos armadores e banqueiros e estes têm medo que o Syriza lhes venha cobrar o que devem, já que nunca pagaram um euro pelas frequências e privilégios.  

O Syriza já governa regiões importantes do pais. Como as pessoas avaliam essa experiência?

Recebemos os votos para governar a maior região da Grécia - Attica - e conseguimos multiplicar por seis a despesa social, apoiámos as pessoas que não podiam pagar a eletricidade - ter luz é um direito indispensável nos nossos tempos - e fomos contestar nos tribunais as leis que querem privatizar a zona costeira.

Estamos nisto para ganhar e para mudar, não para fazer as mesmas políticas dos outros. Conseguimos provar em pouco tempo que trazemos uma mudança qualitativa de governação. E nos próximos meses tomaremos mais iniciativas a nível regional para aumentar a participação dos cidadãos, que têm de estar na primeira linha destas mudanças. Não queremos uma esquerda que decide a partir do topo emitindo decretos.

Queremos uma esquerda cidadã, presente em todos os processos democráticos na nossa sociedade, tanto a nível regional como nacional.


Entrevista de Luís Branco e Nino Alves.

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